Acesso à hierarquia superior.

Houve tempos em que me queixei da vida

Houve tempos em que me queixei da vida

Lamentando desconsoladamente viver...

Mas hoje não.

Hoje sinto-a apenas porque a sofro,

Porque me dói...

Só porque me dói.

E não a sofro só por mim

Mas por tudo que me cerca:

A rosa perfumada que murchou

O jovem a quem Deus abençoou

E a si chamou

O ancião, que não queria, e trespassou

Mesmo depois de uma vida de agonia

O lento clarear do dia

E a música da passarada ao acordar...

Tudo momentos p’ra pensar

E orar, bem cá do fundo...

A ansiedade é um despertar

Para o mistério insólito que é viver

Que te não larga, mas te faz crescer

E morrer a cada segundo ínfimo

Neste universo a que pertences sem saber

E sem o querer

Mas o único que te é vagamente dado controlar.

Tens barca e tens remos

Mas incapaz de nadar

Na água dum mar fria e dolorida

Que o Sol já não é capaz de te aquecer

Tudo isto te rói e corrói

Movendo o suceder monótono dos dias

É assim que eu sinto e não me queixo...

Será esta verdade

Assim tão difícil de entender?!


Agosto/2006

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