Ezequiel
Arteiro, Palavras que eu canto, 1ª ed., Aveiro, O
Nosso Jornal - Portucel, 1984, 96 pp. |
A alma
poética de Ezequiel Arteiro é bem conhecida desde o tempo em que
se faziam os «Jogos Florais da Celulose» por ocasião das Festas
do 1º de Maio e do Natal. Ainda hoje, após tantos anos de
inexplicável renúncia àqueles jogos, muitas das suas quadras
(quase sempre a merecerem louros) estão na nossa memória...
Nesse tempo,
quando a «censura» e o medo não deixavam medrar os críticos, as
suas quadras tinham o sabor delicioso das coisas proibidas, só
consentidas pela «arteirice» com que o poeta sabia meter o
bedelho, ora criticando de raspão o que era injusto, ora
ironizando com amargura o que era incoerente. Era uma época em
que não abundavam os corajosos... e em que as críticas não eram
salvo-conduto para fáceis promoções.
Mas se o
Arteiro era já então conhecido de todos nós, foi através de "O
NOSSO JORNAL" que melhor se vincou o seu perfil de poeta.
Colaborador desde a primeira hora, foi e tem sido sempre um
entusiasta e um grande animador para o bom sucesso daquele
mensário dos trabalhadores do Centro-Cacia, onde tem acumulado
uma boa mancheia de trabalhos poéticos merecedores do melhor
acolhimento. Daí que o seu melhor galardão, como prova o seu
reconhecido valor, tenha sido a entrevista que a TV lhe fez,
dando a conhecer ao grande público a veia poética-popular deste
poeta-pedreiro.
A publicação
deste volume com os seus versos é uma acta que Arteiro merece:
ele foi e é um símbolo para todos quantos, não tendo podido
pisar as aulas das escolas de literatura, aprenderam no
trabalho, na rua, nas romarias, nas alegrias e tristezas da
vida, os mais vivos e espontâneos sentimentos do povo que somos.
Se um dia se
fundar o panteão dos poetas populares, Arteiro terá lugar
reservado na ala dos pajens do laureado António Aleixo. Poetas
de um povo sem podium, eles souberam ser bons
representantes da cultura popular portuguesa.
Bartolomeu
Conde |