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André Ala dos Reis, Ainda vida,
1980.
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... depois, nunca fui excessivamente
infeliz
— porque não tenho imaginação.
[O Mandarim — Eça]
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Imaginar é ver-te na flor cujo nome não
sei,
é sofrer o extravio da carta que não se extraviou
e escrever versos num maço de tabaco,
sentado à sombra nocturna da música,
num jardim público.
Imaginar é desiludir-me da clara fala de teus olhos
e crer que o verde da árvore é mais verde,
só porque não diz nada.
É passear nos meandros da cidade,
vivendo rastos de estrelas.
É ser tristemente o impossível
dum amor que não existe.
É escrever, na noite,
cartas que um sopro te vai levar.
Imaginar é ter-te sempre perto,
ver-te olhar,
falar,
andar,
viver,
por entre o oco que enche o ar que vivo.
É sentir-te no amarelo mecânico
que rodeia o teu mundo.
É invadir o espaço,
galgar quilómetros (milímetros de mim),
para escutar o teu piano amado.
Imaginar não é só isto, eu sei;
mas também isto é amar. |
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