Pinto da Costa - Aveiro

Abril, 88

Ninguém nos diga que não há passagem
para além de nós e nos antípodas;
há sempre um lugar onde a alunagem
e a finisterra são recíprocas... 
Não nos intrujem com mapas só de alúmem
ou skys de estrelas para a lua; 
vossas mentiras logo em si resumem
haver  dentro de nós já essa rua... 
É bem de terra o sangue e o asfalto
que em nua mão levamos à fronteira;
e é descalços que vamos e a salto, 
faca nos dentes, à cinta a cremalheira... 
Arredem pois da frente e sobre nós, 
borrem-se de medo ou esperança 
pois bem sabemos dos contras e dos prós 
que vos salivam os cornos e a pança... 
Vamos já a caminho e são verdes 
os rudes focos das nossas lanternas 
e já latis de raiva por não terdes 
a elasticidade firme destas pernas...


Porque afinal vós sois os manquejoulas, 
os que cedestes já vossas muletas,
o chiadoiro, o rabo e as gaiolas 
em que os mandões vos doiram de grilhetas!

Pinto da Costa - Aveiro, 1988

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