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Deixem-me gozar esta réstia de paz
Imerso em solidão.
Imerso em solidão, eu sinto Paz.
O homem isolado tem paz?
Mas o animal-homem não pode
E não deve existir como ser isolado:
Enlouquece e morre.
Não vive – vegeta.
(Homem – vaga-lume da sociedade).
Destrói tudo o que o cerca:
Mata o seu igual
E morre, um dia, também.
Por que não existem hoje
Homens de boa Vontade?
Isolando o espírito,
O homem tende a criar ódios.
Não pode, ou não deve, manifestar
Sentimentos seus
Quando provocam guerra.
Onde, então,
Os Homens de Boa Vontade?
Deixem-me gozar esta réstia de paz
Imerso em solidão!
Se tal for possível: solidão!
Profunda solidão.
Os nossos olhos então
Perturbam-se:
Há, no subconsciente,
E no nosso olhar o mundo,
Um arquivo de maldades
Que nos obriga a perder
Essa réstia de paz.
Do alto da montanha,
Olho o vale verde, tranquilo,
Florido, onde um riacho corre
Mansamente
E o tempo parece ter parado...
Comunhão perfeita de beleza,
De pureza, de humildade.
O homem?! Vive de aparência.
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Nos meandros da estrada,
Há garotos que já lutam
Por coisas mesquinhas.
Herança dos pais!...
Naquela casa tão tranquila,
Donde se solta,
Numa aura quase espiritual,
Um fumo levezinho
Para o ar sereno,
Um homem espanca,
Sem dó,
Mulher e filhos.
É isto paz?!
Onde a paz da Natureza?
O homem é guerra,
Não é paz.
(Não há Homens de Boa Vontade!)
Oh! Deixem-me gozar esta réstia de paz,
Sem alegria, imerso em solidão,
Como eremita louco, numa incerteza cruel...
Repito: paz. Mas só escuto o arfar no peito.
A voz não vem.
Paz! Paz! Paz!
Palavra proibida,
Encravada na garganta
De quem a pronuncia.
Homens do meu tempo,
Cadáveres ou autómatos,
Animais, talvez ávidos de sangue
E guerra! Lutando por ideais
Que desconhecem – são de outros –
Em disputas inúteis, tão vãs,
Sem princípio nem fim.
Esse fim que os aguarda
– Que
nos aguarda. O fim!...
Se nele pensassem poderia haver
Mais paz... Paz!...
Já houve?...
O que é a Paz?!...
(Década de 1970)
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