Quatro sonetos do livro de curso

Coimbra 1949

 

       Aos nossos pais

 

Longínqua melodia avançou no espaço

Veio de longe da infância, avultou, cresceu

Soa ainda agora envolvida num abraço

É a canção do berço que jamais morreu.

 

E ao som argênteo desta melodia

O nosso ser vibra, tal como a lira.

Pai! Mãe! Como é bela esta sinfonia!

Bate mais o coração e o peito mais delira!

 

Bons pais, os sonhos embalados à criança

Idealizaram e hão-de florescer.

Na tempestade ou na calma da bonança

 

Seremos romeiros da nossa profissão

E o ”livro” ao vosso amor vimos oferecer

Gratos à vossa paternal dedicação.

 
 

       Aos nossos mestres

 

Queridos Mestres, fostes Vós a conduzir-nos

Ao Alto Caminho que vamos trilhar;

Aceitai, pois a gratidão de todos nós

Pelo porvir que nos soubestes iluminar.

 

Todos, unidos em doce harmonia,

Caminhamos em senda segura;

Seguindo no além, sempre, dia a dia

A estrela peregrina da ventura!

 

Fiéis escravos dum sagrado Dever,

Bendizemos os Mestres, nossos guias,

Que nos levaram a bem o compreender!

 

Formar o Portugal vindoiro, é nossa sina…

E divisamos já, auscultando novos dias,

A Pátria nossa, junto da Pátria Divina!

 
 

      Às nossas inclinações

 

Em seguida, o nosso livro vimos ofertar

Àquele...ou Àquela que encantou nosso pensamento

E que nesta hora era impossível olvidar

E lançar à campa fria do esquecimento.

 

A vida seria para nós espinhosa – triste amargura

Se não vivêssemos essa doce esperança

Que bebemos na cristalina taça da ventura,

Temperada com fé, amor e muita confiança!

 

Aqui deixamos gravadas as nossas ilusões...

Fantasias que a nossa juventude idealizou,

Fogueiras acesas aquecendo os corações.

 

Tudo, em realidade desejamos transformar.

Porque a fantasia que a nossa mente traçou

É a esperança num ditoso e bem fundado Lar.

 
 

          Despedida

 

Chorosa saudade que nos envolve

Na hora que passa, de dura partida;

Um brado triste que ao longe se ouve,

O pungente adeus da despedida!...

 

Chorosa saudade... sulco cavado

Na esteia das nossas recordações;

Visão dum riso que já é passado,

Mas que guardamos nos corações!

 

Estamos tristes... foi-se uma vida...

Mas temos Outra... Alto Ideal

Que suporta a nossa despedida!

 

Essa Nova Vida é de fé e confiança

E nós vamos consagrá-la a Portugal

Na cândida e pura alma da Criança!

 

                Maria Helena Nobre Carrilho

                Coimbra, 1949

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24-Março-2010