Nascimento

Janeiro! Frio e vento lá fora.
Céu escuro! Inverno. Noite profunda...
Aquela árvore, com vento se corcunda.
Soou um vagido... era a minha hora.

Nasci; cheguei ao mundo chorando.
Tremi; seria o mundo um perigo?
Pressenti; trazia algo comigo
Que me vem acompanhando.

— A menina é uma graça — diz meu Pai.
Escutei; não chorei, não dei um «ai».
Eu nascera e comigo a minha sorte;

Era a minha vida e a minha sina;
Então chorei: porque EU era MENINA
E, envolta vinha de POESIA... até à morte!

                              Ponte de Sôr, 1944

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