Ó Deuses imortais,
Ouvi
As vozes dos mortais,
Aqui,
Neste lugar sagrado,
Onde viemos
Para vos dizer
A nossa dor,
A angústia que trazemos,
Tudo quanto sofremos
Para viver!

Somos as mães dos filhos que criámos,
Somos os pais dos filhos que perdemos,
Somos a fonte da vida que lançámos.
Somos irmãos da dor que não queremos!

Ó Deuses imortais,
Da Paz,
Da guerra,
Do Céu,
Do Mar azul,
De tudo quanto existe à nossa volta,
De tudo quanto existe sobre a Terra,
De tudo quanto há dentro de nós!
Pensai,
Agi
E libertai
Aqueles que vos criaram,
Do fantasma de vós
Que somos nós;
Libertai-nos também
Daquele Deus condutor
Que é omnipotente
E que não pode ser
Mais
Ou diferente
Daquilo que nós homens, os mortais,
Quisemos que ele fosse,
Em hora de fraqueza,
Ao dar-lhe vida e forma
Em tudo igual à nossa!

O resto, o seu poder...

Esse é nosso também
E nós somos o MUNDO,
Cheio de afirmações
E negações,
A criar,
E a contrariar,
Ovo de todo o Bem,
Fonte de todo o mal.

O nosso apelo não será ouvido,
Bem sabemos!

Seria o mesmo que exigir de vós
O repetir da nossa própria voz,
Em eco de remorso
Por esta maldição,
De sermos a origem e a razão
Da sua existência parasita,
Inútil, impotente e incapaz
De ir além de nós,
Que o criámos
Para nos libertar
Das cadeias que nós próprios forjámos.

Mas mesmo assim
Nós queremos que este grito,
Aflito,
Aguarde aqui o eco pretendido,
Um eco que não seja
Privilégio duns tantos,
Mas um novo grito,
O regresso,
De todos nós,
Deuses e mortais,
Ao som inicial,
Segredo
Da vida natural.

   

 

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