Estes Deuses que sinto à minha volta,
Que vivem, como eu, os seus prazeres,
Que lutam entre si,
Que comem e se embriagam,
Que oferecem em repasto a própria carne,
Que podem parar o Sol, para gozar mais tempo
O violeta do ocaso, no horizonte,
Que se transformam em coisas e em seres
Mortais,
Para melhor viver,
São mais que qualquer outro uma força,
Uma força divina e natural,
Uma força que é prolongamento
Da força que nós temos de criar
Deuses iguais a nós,
Para com eles viver
Ou os temer,

Nos momentos em que deles precisamos
Para ter
Alguém a quem contrariar
E provocar
O perdão ou o castigo que há-de vir,
Depois do pecado capitoso,
E sem o qual nem sei se vale a pena
Existir!

ZEUS,
DIONÍSIOS,
HERMES,
AFRODITE,
Filhos do mesmo homem que eu sou
E meus irmãos, também,
Quero brincar convosco e oferecer,
No altar dos vossos sacrifícios,
A dança tortuosa que criámos
Para dar a um só, o nosso Amor.

Quero que essa dança se consuma
No fogo desse altar
E que, purificada,
Seja o pó que cubra os nossos pés,
Descalços,
E, simples e arejada,
Livre de todos os ruídos falsos,
Seja a dança com que vamos procurar
Em cada um de nós,
Uma parte de nós,
Que corresponda agora, logo ou amanhã,
Àquele prolongamento
De que necessitamos,
Para ser
Aquilo que nós somos
E não mais,
No momento em que vos invocamos
Como Deuses,
Imortais!

   

 

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