Que importa que os outros digam
Que és rico e que brincaste
Com as linhas, os volumes e as cores?
Que importa, se amealhaste
Um pedaço do oiro daqueles que, por vaidade,
Gostavam de ter,
Para mostrar aos outros,
Não aquilo que valias
Mas o resto,
Para o qual não tinham outra medida
Senão o livro de cheques?

Que Importa, tudo isso?

Que importa mesmo que vejas
Na planície, as montanhas,
Na circunferência, o quadrado,
Na recta, as curvas do sonho,
Nas curvas, o voo mais directo?

És o que és e és muito.
Vales o que vales e és tudo
Quanto pode valer aquele que não se nega
Nem pretende negar
O que os outros são ou julgam ser.

Tens uma pomba branca no teu escudo,
Uma pomba real
Que não desceu do céu para fazer milagres,
Mas que subiu da Terra,
Dentre os homens,
Já fartos de sofrer,
Cansados de lutar,
Por causas que não são suas
E não podem compreender.

A tua pomba branca anda a voar
No céu da tua Arte,
Que é humana,
À espera de ser vista por aqueles
Para quem só há aves de rapina,
Para quem os milhafres,
Os abutres e os condores
São pombas, rouxinóis e cotovias.

Ó poeta dos olhos sobrepostos,
Das bocas em esgares,
Dos seios em catástrofe,
Nunca deixes de ser aquilo que tu és,
Embora haja quem diga que não és
Aquilo que sonhaste
E eu julgo ver, em ti!

Creio na tua ARTE
E na mensagem
Que ela nos traz, envolta na coragem,
De mostrar de GUERNICA o pesadelo
De toda uma idade,
Aquela que vivemos,
Em que a pomba surge como esperança
E confiança
No HOMEM que nós somos
E podemos
Continuar a ser!

   

 

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