um pouco de sol, um
pouco de chuva. pouco importa.
que abres as mãos à
primavera mesmo
que seja inverno,
outono ou verão, e vais ver os
barcos chegar, ainda
que não haja mar nem
barcos, mas porque é assim que se encontram
as coisas do
coração.
um pouco de sol, um pouco de chuva, sei lá. mas
que recebas com
alegria as coisas tristes, as
mágoas, que te
comovas com as pessoas que te
faltam; que não
precisas de palavras, gestos ou
proclamações. basta
que sintas, que penses, que
acredites que de
alguma maneira hão de saber da
falta que te fazem.
recorda sempre que não há na
vida certezas, que
tudo nos escapa.
um pouco de sol, um pouco de chuva. não
importa. aceita tudo
e o seu inverso, mas nunca
as injustiças, a
maldade e uma longa lista
de nomes que só te
têm feito mal. resiste-lhes, para
que possas ser
diferente. constrói em ti bons
sentimentos, não
aceites a iniquidade.
um pouco de sol, um pouco de chuva. pode ser.
que não há no tempo
humano o tempo das
estrelas. o que há é
uma dor de tudo o que nunca
nos pertence. das
coisas que nunca se agarram a
nós, que nos fogem,
que nos deixam cada vez mais
para trás.
sim, um pouco de sol, um pouco de chuva. que
pode ser igualmente
um pouco de amor, um
abraço, um aceno,
uma ainda que pequena
palavra que se
desprendeu do teu coração e tocou
este e aquele, quem
se cruzou contigo, quem se
sentou contigo aqui
ou ali, os que estavam na
mesma rua ou na
outra rua e nunca viste porque
não calhou, e assim
os conhecidos, os vizinhos, os
desconhecidos, e
todos os que te são estrangeiros,
embora agora saibas que não há estranhos
nem estrangeiros:
somos todos em cada um. |