A “praceta” ficou mais
vazia…
A vida dá muitas voltas, cambalhotas e reviravoltas…
A vida leva-nos para
onde menos esperamos e para onde, muitas vezes, não queremos ir.
A vida (as comunidades,
os bairros, as ruas) já não é o que era… e nem precisamos de
recuar muitas décadas atrás.
Mas essa mesma vida
traz-nos as memórias, as vivências comuns, as infâncias, os
amigos e os VIZINHOS… vizinhos no seu pleno sentido: aquele que
habita ao nosso lado, o que partilha o mesmo local, bairro ou
rua. Vizinho a quem podemos recorrer, que ajuda, a quem ajudamos
e a quem socorremos. Vizinho que partilha um mesmo espírito de
pertença a um espaço, a uma comunidade.
E já há poucos vizinhos
(e vizinhanças) assim, hoje em dia. Porque a vida muda e
muda-nos. Porque os tempos são outros…
Mas ainda há vizinhos
assim… porque ainda há memórias dos tempos de brincar na rua,
nos prédios, nos sótãos, nas casas uns dos outros… na comunidade
bairro. Ainda há memória de nos cruzarmos nas escadas, à porta
do prédio, no passeio, no café…
Mesmo que para muitos e
em muitos lugares seja necessário celebrar o Dia Mundial do
Vizinho (como na terça-feira passada).
E o Adriano Pires era
um desses vizinhos que a “praceta” (sempre chamada assim a Rua
Dr. Vale Guimarães) sempre soube ter, partilhar e relembrar nas
nossas memórias.
Cada fotografia que ele
nos tirava tinha uma história partilhada, uma conversa sobre a
vida, sobre tudo e nada… por isso eram mais demoradas, mas
igualmente únicas.
Cada saída de casa de
cana e cesto da pesca ao ombro (muitas vezes bem de madrugada)
era acompanhada de um regresso com algo singular e
característico… e nunca havia “pescarias” iguais.
Assim como nunca eram
iguais as conversas, os olhares críticos sobre a vida, o
dia-a-dia, a cidade… porque o Adriano Pires conhecia e vivia
Aveiro.
Assim como vivia a
poesia e o gosto que tinha nas palavras e nos seus sentidos,
cores e cheiros.
Era um Vizinho…
daqueles que connosco riam, falavam, ajudavam, que estavam
presentes, e que também refilavam (se bem que não me lembro
muito de o ver refilar, mas de certeza que o fazia, porque todos
os bons vizinhos o fazem)…
E esta semana… a
“praceta”, neste sentido pleno de vizinhança e do que é ser
Vizinho, ficou mais triste e mais vazia.
E se não fosse verdade
este sentimento de vizinhança e de bairro, não seria possível
saber de tantas manifestações de solidariedade, respeito,
consideração e amizade para com a família, por parte de muitos
de “nós” para quem a vida nos foi afastando da “praceta”, dos
vizinhos, mas não das memórias (de infância e de juventude), da
afectividade e das amizades que sempre soubemos guardar… nem,
como é óbvio, dos vizinhos: dos bons vizinhos.
E estes, como é o caso
do Adriano Pires, nunca deixaremos de lembrar.
À D. Maria do Carmo, à
Nini, à Rú e ao Náni um abraço solidário de uma “praceta” e de
um “Vizinho” que nunca esqueceremos. |