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Adriano Casqueira Pires

1937 – 23-5-2010



Tributo a Adriano Pires

CHEIRA A MARESIA

por Miguel Araújo
In: "Diário de Aveiro", 27-5-2010

 

A “praceta” ficou mais vazia…

A vida dá muitas voltas, cambalhotas e reviravoltas…

A vida leva-nos para onde menos esperamos e para onde, muitas vezes, não queremos ir.

A vida (as comunidades, os bairros, as ruas) já não é o que era… e nem precisamos de recuar muitas décadas atrás.

Mas essa mesma vida traz-nos as memórias, as vivências comuns, as infâncias, os amigos e os VIZINHOS… vizinhos no seu pleno sentido: aquele que habita ao nosso lado, o que partilha o mesmo local, bairro ou rua. Vizinho a quem podemos recorrer, que ajuda, a quem ajudamos e a quem socorremos. Vizinho que partilha um mesmo espírito de pertença a um espaço, a uma comunidade.

E já há poucos vizinhos (e vizinhanças) assim, hoje em dia. Porque a vida muda e muda-nos. Porque os tempos são outros…

Mas ainda há vizinhos assim… porque ainda há memórias dos tempos de brincar na rua, nos prédios, nos sótãos, nas casas uns dos outros… na comunidade bairro. Ainda há memória de nos cruzarmos nas escadas, à porta do prédio, no passeio, no café…

Mesmo que para muitos e em muitos lugares seja necessário celebrar o Dia Mundial do Vizinho (como na terça-feira passada).

E o Adriano Pires era um desses vizinhos que a “praceta” (sempre chamada assim a Rua Dr. Vale Guimarães) sempre soube ter, partilhar e relembrar nas nossas memórias.

Cada fotografia que ele nos tirava tinha uma história partilhada, uma conversa sobre a vida, sobre tudo e nada… por isso eram mais demoradas, mas igualmente únicas.

Cada saída de casa de cana e cesto da pesca ao ombro (muitas vezes bem de madrugada) era acompanhada de um regresso com algo singular e característico… e nunca havia “pescarias” iguais.

Assim como nunca eram iguais as conversas, os olhares críticos sobre a vida, o dia-a-dia, a cidade… porque o Adriano Pires conhecia e vivia Aveiro.

Assim como vivia a poesia e o gosto que tinha nas palavras e nos seus sentidos, cores e cheiros.

Era um Vizinho… daqueles que connosco riam, falavam, ajudavam, que estavam presentes, e que também refilavam (se bem que não me lembro muito de o ver refilar, mas de certeza que o fazia, porque todos os bons vizinhos o fazem)…

E esta semana… a “praceta”, neste sentido pleno de vizinhança e do que é ser Vizinho, ficou mais triste e mais vazia.

E se não fosse verdade este sentimento de vizinhança e de bairro, não seria possível saber de tantas manifestações de solidariedade, respeito, consideração e amizade para com a família, por parte de muitos de “nós” para quem a vida nos foi afastando da “praceta”, dos vizinhos, mas não das memórias (de infância e de juventude), da afectividade e das amizades que sempre soubemos guardar… nem, como é óbvio, dos vizinhos: dos bons vizinhos.

E estes, como é o caso do Adriano Pires, nunca deixaremos de lembrar.

À D. Maria do Carmo, à Nini, à Rú e ao Náni um abraço solidário de uma “praceta” e de um “Vizinho” que nunca esqueceremos.

1937

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† 23/5/2010