Uma Noite Dionisíaca

Uma das facetas mais conhecidas da cultura romana que chegou até nós é a gastronómica. Não é por acaso que se celebrizou a expressão latina “É necessário comer para viver e viver para comer”.

Eram quatro as principais refeições dos Romanos antigos:

 

  • Ientaculum – primeira refeição do dia, entre as 7/8h (do nosso relógio), frugal e modesta.

  • Prandium – refeição leve em horário equivalente ao do almoço.

  • Merenda – usual entre os agricultores que trabalhavam de sol a sol e quando a cena se atrasava.

  • Cena – corresponde ao jantar e constitui a principal e maior refeição do dia.

 

Habitualmente, a cena tinha lugar no fim do dia de trabalho; porém, nas cidades, onde o expediente do Fórum terminava à uma da tarde, poderia ser servida cerca das duas ou três da tarde. De qualquer modo, era uma refeição preparada para toda a família e feita, igualmente, em família. A cena era precedida do banho e prolongava-se, depois, até ao amanhecer.

Para a cena a família convidava, também, alguns amigos que se exigiam amáveis e de bom nascimento, atendendo à conveniência do lugar, à oportunidade do momento do convite e à cuidadosa confecção da comida. Era a altura ideal para conversar com os amigos sobre todos os problemas e assuntos familiares, políticos e sociais; para ouvir a recitação de poemas e leituras de algumas obras; para partilhar novidades, acontecimentos públicos e privados. Acompanhavam as cenae, como entretenimento, grupos de músicos, cantores, comediantes e bailarinos. O ambiente era meticulosamente decorado com parras, madressilvas, plantas aromáticas.

Primeiramente, esta refeição fazia-se no atrium onde se sentavam ao redor de uma mesa. Posteriormente, promovendo a intimidade, era feita num cenaculum. Contudo, o costume grego foi o que vigorou: comer recostados em divãs ou colchões no local da casa denominado triclinium. Nas casas grandes poderia existir o triclinium de verão e o de Inverno.

O nome triclinium deriva da existência de três leitos em redor da mesa – o summus, o medius e o imus. Havia lugares fixos consoante o estatuto social das pessoas; por exemplo, um cônsul ou magistrado ocupava o espaço número três do medius. Numa cena não deveria haver menos de três pessoas – o número das Graças – para que a animação não decaísse, nem mais de nove pessoas – caso contrário, dificilmente se manteria uma só conversa.

Escolhiam-se os melhores escravos para servir à mesa – os mais bem apresentados, vestidos de bonitas cores e bem penteados. Não se dispensavam também as boas maneiras e delicadeza de gestos.

Numa cena havia ainda alguns preceitos a ter em conta:

- Não se entrava no triclinium com o pé esquerdo;
- Só se pegava na comida com a mão direita;
- Não se devia falar de coisas tristes nem pronunciar palavras como «incêndio»;
- Depois de comer os ovos, havia que partir de imediato as cascas para que ninguém pudesse servir-se delas para urdir malefícios contra quem os comera.

Estas cenae não eram acessíveis a toda a população, sendo que a plebe jantava sentada à volta de mesas rectangulares ou quadradas, sem o ritual e aparato das cenae dos Patrícios.

Com tudo isto, estabelecia-se entre os romanos amigos uma convivência tão intima que passavam juntos muito tempo, umas vezes em casa de um, outras na de outro. O convite tinha uma função social e familiar de primeira categoria e os convidados não buscavam o prazer de comer, mas a satisfação e o gosto de conviver ab ouo usque ad malum.

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