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Aguarela (1)

 

Naquele pic-nic de burguesas
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

 

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

 

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

 

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios com duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.

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Notas:

Este poema é intitulado «De Tarde», na edição de Silva Pinto.

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