O
Selo, o Brasão e a Bandeira de Esgueira
Povoação
antiquíssima, situada na antiga linha da Costa, Esgueira foi Comarca até
11/04/1759 e Concelho até 6/11/1836. sendo hoje uma freguesia da Cidade de
Aveiro. Centro de grande poder e influência, Esgueira foi distinguida com a
Comenda da Ordem de Cristo.
|
Como
sinais do seu antigo poder, perduram o Foral de D. Manuel I, o Pelourinho —
obra considerada Monumento Nacional —, o edifício onde estiveram instalados o
Tribunal e a Câmara de Esgueira (sede actual da Junta de Freguesia) e ainda a
matriz do Selo Municipal, em latão, que se encontra a bom recato no Museu de
Aveiro (fig. 1).
|
Segundo
o historiador aveirense Marques Gomes, este Selo, preciosa relíquia das armas
da Vila, remonta à primeira fase deste Município.
O
mesmo Autor refere o Códice 498 da Biblioteca do Porto (fins do Séc. XVII),
estampado com o Brasão de Esgueira (fig. 2) onde se notam algumas diferenças:
a Nau aproada à esquerda, três mastros, uma flâmula, um Sol de seis pontas
(sino-saimão judaico) e um pavilhão de cinco quinas no mastaréu da ré...
coisas que não condizem com a primitiva simbologia do velho SELO!
|
|
A
partir da instauração da República (1910), começaram a aparecer, em olarias
decorativas, painéis de azulejos, potes, pratos, medalhões, etc., os mais
variados e fantasiosos desenhos do Brasão de Esgueira, ao sabor dos artistas:
um Sol de cinco pontas, uma bandeira à ré (fig. 3), ou ainda um Sol de seis
pontas e flâmula e Cruz no mastro principal (fig. 4).
Figura 3
|
Figura 4
|
Em
todos os casos, a Nau é o elemento mais característico e mais significativo do
Selo Municipal de Esgueira; e porque é uma embarcação do alto — uma Carraca
— alguns historiadores atestam que Esgueira tenha sido um porto marítimo de
grande importância, tanto mais evidente quanto aquele tipo de Nau transportava
900 T de carga, 2000 homens e 35 peças de artilharia!
Entretanto
saiu a Lei 150/87 a regulamentar o uso da Bandeira Nacional. Esta lei determina
“a necessidade de dignificar a nossa Bandeira como símbolo da Pátria e de
avivar o seu culto entre todos os portugueses”; e mais: “em actos públicos,
a Bandeira Nacional, quando não se apresenta hasteada, poderá ser suspensa em
lugar honroso e bem destacado, mas nunca usada como decoração, revestimento
ou qualquer finalidade que possa afectar o respeito que lhe é devido”.
Todos
temos visto o (ab)uso que dela se faz, pendurada em dois pregos a tapar uma
qualquer lápide comemorativa de simples actos autárquicos ou particulares,
para ficar ao lado como um trapo, já que apenas serviu de revestimento,
pois nenhuma cerimónia lhe foi prestada durante o Acto.
Face
à lei, foi proposto à Junta de Esgueira a confecção de uma Bandeira que,
dignificando a História da Vila, fosse usada nesses actos em substituição da
Bandeira Nacional, como decoração ou revestimento.
A
proposta foi aprovada pela Junta e Assembleia de Freguesia na sessão pública
de 26/10/1989. E a Bandeira de Esgueira foi confeccionada com a simbologia do
Selo Municipal, como mandam as Regras Heráldicas (fig. 5). Esta Bandeira foi
usada em actos públicos até finais de 2000, ano em que surge um novo Brasão,
homologado pela Comissão Heráldica (!), mas que não respeita integralmente a
simbologia do Selo Municipal de Esgueira (fig. 6):
• O Sol tem 16 pontas em vez de 12;
• A Carraca virou à esquerda;
• A Cruz de Cristo - “símbolo da glória marítima dos
portugueses” - sumiu-se!
E
aqui deixo, para alguma reflexão, a história que rebusquei nas danças e
contradanças do Brasão de Esgueira.
Fevereiro/2002
Bartolomeu
Conde
|