CONTUDO, O RIO
NOVO DO PRÍNCIPE É A MELHOR OBRA HISTÓRICA ATÉ HOJE FEITA NO CAMPO
LAGUNAR DO BAIXO-VOUGA
Fig. C - Construção
anual de uma «tapagem» no Rio Novo do Príncipe, para evitar que o
sal entre nas caldeiras da fábrica de celulose de Cacia.
O Rio Novo foi,
como está comprovado, uma obra de grande alcance económico e que,
mesmo a ser feita agora, por certo beneficiaria do apoio
consensual de engenheiros, lavradores, pescadores, povo em geral e
até dos próprios ecologistas!.., tão claros são os seus
benefícios. Foi uma “correcção” inteligente aos desígnios da
natureza, com vantagem para esta, para a saúde do povo e para a
qualidade de vida dos que trabalh(av)am e vivem naquelas zonas
ribeirinhas.
A este Canal se
deve — não é demais repeti-lo — grande desenvolvimento na
agricultura; mas também é justo enaltecer a melhoria que, por via
dele, se processou, a partir de 1815, nos transportes fluviais,
com a consequente redução de distâncias entre o interior —
Pessegueiro, S. João de Loure, Angeja, Cacia, Sarrazola —, e
Aveiro, Murtosa e Praias de S. Jacinto e da Torreira.
A própria
paisagem se enfeitou com a abertura deste álveo artificial, já que
se tornou famosa a agradável e repousante BARREIRA DE VILARINHO,
onde se erguem aos céus os braços gigantescos dos eucaliptos que
bordejam e seguram as margens, ou motas, construídas com os 85.000
metros cúbicos de terra removida do que veio a ser o próprio leito
do RIO NOVO.
Mas a
agricultura voltou ao sofrimento, pelo que tem surgido, nas
últimas décadas, movimentos a exigir a dessalinização dos campos
através de um dique que, atravessando o RIO NOVO, ligue Aveiro à
Murtosa, defendendo do salgado — hoje, o maior inimigo da
agricultura do Baixo-Vouga — estes milhares de hectares a que só
por ironia se pode continuar a chamar de “holanda portuguesa”. E
com esse dique se evitaria a sangria anual de dezenas de milhares
de contos, arrancadas do erário público, para custear uma tapagem
feita no RIO NOVO, todos os anos construída e todos os anos
destruída (Fig. D), para evitar que o sal entre nas caldeiras da
fábrica de celulose.
Muitos jornalistas, sensíveis à beleza e ao
bom aproveitamento deste troço do Vouga para a prática de
desportos náuticos, souberam entremear o relato desportivo com o
romanesco desta fabulosa paisagem, autêntico arco festivo de
arvoredo a coroar a horizontalidade anfíbia do cenário lagunar[I].
*
Mas a juventude
está alerta!... Junto à “Pista”, à espera que a olhem, lá está uma
jovem associação desportiva — a COLECTIVIDADE POPULAR DE CACIA —
com um barracão onde se guardam os seus barquitos a remos, diária
e animosamente levados para a água (Fig. E) por aqueles moços que
ainda teimam em dar ao RIO NOVO DO PRÍNCIPE, um valor acrescentado
ao que lhe deu outro jovem animoso: — o Princípe D. João!
É desta
associação um Projecto apresentado superiormente, cujos pontos
essenciais se resumem no texto seguinte.
[I]
João
Sarabando, jornalista desportivo,
enquanto a idade e a saúde o não afastaram dessas lides, foi o
aveirense mais animoso a defender e a lutar, numa apropriação
suplementar, pela instituição, no RIO NOVO DO PRÍNCIPE, de uma
PISTA NÁUTICA INTERNACIONAL. Mas como lutar nem sempre é
vencer, ali está, parada e inútil, ao sabor da fúria
destruidora do seu adversário (as marés), uma bela Pista
“caída do céu” em Portugal, como assim a designou aquele
decano dos jornalistas aveirenses.
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