Naquele Tempo

 

À minha frente, o percurso matinal:
A vida vibrava em ondas de fogo
Quando pisava as ervas geladas
Logo vergadas em sombras de prata
E acariciadas por ventos de penugem
Que iam agitando o musgo verde a brotar
Da orla dos caminhos lamacentos
Sob o pungente gemido dos pinheiros
Enquanto eu sonhava com o sol de agosto
A ferver festividades loucas e selvagens;
Mas era inverno, como todos os invernos
Árvores caídas, troncos gigantes cinzentos
A lembrarem trombas de elefante
E eu a calcorrear os mesmos trilhos
Agora com a chuva empinada e desalmada
A gerar o desejo, a repulsa e o medo
Mas a reacender candeias de esperança
Vendo surgir por nesgas de nuvens fugidias
Um pálido luar a espelhar o dorso dos campos
Que soluçavam com as rajadas do vento norte
Tudo me levando então a acreditar na vontade
Como partícula elementar da vida
Vera essência da liberdade que me seguia
Em cada volta do caminho.

                        Junho de 2025

 

 

09-06-2025