Estávamos na Primavera
de 1928. Se Aveiro era uma cidadezinha pequena e sem pretensões, a
Gafanha não mais que planura verdejante e arenosa. donde espreitavam aqui e ali algumas casinhas de telhadito escuro.
A viagem até à Barra, atravessando a Gafanha, era difícil
ao
tempo, em carro puxado a cavalos já cansados e conduzido
por não menos fatigado cocheiro. Mas como a paisagem era bela!
Dum lado e doutro as terras alagadas tinham tanta transparência
como a ria e delas partia uma luz doirada que, sem ser forte,
parecia feita de água trespassada de sol. Por perto uma vela dum
moliceiro parecendo navegar entre os campos; mais
além um boi parecendo pastar na
água. Água e terra confundiam-se. Quase a saltar para a estrada, em diferentes gradações de
roxo, vasto acampamento de salinas. Além, mais perto do mar, a
ria a perder de vista, qual tabuleiro de cristal! Muito ao longe
a terra
prolonga-se e toda esta paisagem
torna-se irreal. E as coisas eram
tão leves, que a luz as atravessava.
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Primeiras instalações industriais da
EPA |
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