2. Estrutura do Átomo
No artigo anterior demos uma ideia genérica da constituição da
matéria, isto é, que todos os corpos, desde o ar e o ferro, às
estrelas e à própria luz, são formados por moléculas e estas por
átomos.
O mundo que nos rodeia tem, pois, natureza atómica, não é mais do
que um agregado de átomos. Em suma, toda a matéria é composta por
átomos.
O problema da constituição da matéria
apaixonou desde sempre a humanidade. Recordemos um pouco de
história.
Primitivamente, supunha-se que a Natureza era formada pela
combinação de elementos contínuos e infinitamente divisíveis, tais
como o ar, terra, água e fogo. Mas já na antiga Grécia (séc. IV e V
a. C.), Leucipo e Demócrito imaginavam a matéria como um agregado de
uma infinidade de partículas não divisíveis, os átomos (grego:
atomos = indivisível). Epicuro (séc. IV - III a. C.), também
considerou os átomos indivisíveis, doutrina esta que persistiu até
ao séc. III d. C..
Porém o pensamento físico decaiu com
Sócrates que orientou a filosofia para os problemas morais e com
Platão que atribuía ao espírito a natureza de todas as coisas.
Durante toda a Idade Média prevaleceu a doutrina de Aristóteles,
considerada de inspiração divina, e que supunha não haver limite à
divisibilidade da matéria.
A doutrina atomística voltou de novo a
tomar posição em fins do séc. XVI e na primeira metade do séc. XVII,
com Bacon e Galileu. Porém, só a partir dos fins do séc. XVIII, com
Dalton, considerado o fundador da teoria atómica actual, e Lavoisier,
Proust, Richter, Gay-Loussac, ao estabelecerem as leis fundamentais
da Química, o conceito adquire precisão.
Com efeito, estas leis são interpretadas
na base da teoria atómica que admite que cada espécie química
simples, ou elemento, é constituída por partículas indivisíveis e
todas iguais – os átomos desse elemento.
Mais tarde, com a descoberta da
radioactividade (propriedade que certos elementos possuem de emitir
espontaneamente radiações), por Henri Becquerel, em 1896, o conceito
da indivisibilidade do átomo perdeu o seu valor. Becquerel descobriu
que o urânio emitia espontaneamente radiações que eram capazes de
impressionar as chapas fotográficas. As partículas emitidas são,
afinal, fragmentos de átomos. Um elemento transformou-se
espontaneamente noutro elemento. E assim se verificou a fragmentação
dos átomos e este facto veio modificar inteiramente as ideias
anteriores, pois os átomos são agora considerados divisíveis e
portanto complexos. Foi na base das experiências de Lenard
(1862-1947), Rutherford (1871-1937) e Niels Bohr (1885) /
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que se ficaram a conhecer os constituintes dos átomos. Vejamos então
qual a sua estrutura.
Estrutura do átomo
Todos os átomos são compostos por um núcleo central, em volta
do qual gravitam electrões.
O núcleo é formado por protões e
neutrões.
Os protões são partículas carregadas de
electricidade positiva; os neutrões são desprovidos de carga
eléctrica; e os electrões possuem uma cargo eléctrica negativa igual
à carga elementar.
Esquematizando, temos
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PROTÕES -
partículas carregadas de electricidade positiva |
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NÚCLEO |
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ÁTOMO |
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NEUTRÕES - partículas
sem carga eléctrica |
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ELECTRÕES -
partículas de carga eléctrica negativa |
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O átomo é comparado a um pequeno sistema
solar, no qual o núcleo ocupa o Sol e os electrões os planetas; por
isso, os electrões são designados habitualmente por electrões
planetários.
O átomo é electricamente neutro. Cada
protão é equilibrado por um electrão e o conjunto dos constituintes
do átomo é ligado por forças de origem eléctrica.
No sistema solar, o movimento dos
planetas é devido à atracção do Sol; nos átomos, o movimento dos
electrões resulta da atracção da carga positiva do núcleo (pois que
dois corpos carregados de electricidade contrária atraem-se – lei de
Coulomb). Entretanto, devido ao seu movimento circular e elíptico,
os electrões são igualmente solicitados por uma força centrífuga que
equilibra a força de atracção de Coulomb, de tal maneira que ficam
em órbita.
Quando se diz que os electrões gravitam
em torno do núcleo, devemos pensar num movimento tão rápido, que o
electrão se encontra por toda a parte e forma em volta do núcleo uma
espécie de um denso invólucro.
Calculou-se que o electrão efectua em
volta do núcleo 7000 triliões de voltas por segundo!
O átomo mais simples é o hidrogénio
(fig. 1), formado por / 6 / um electrão planetário e por um núcleo
composto unicamente por um protão.
Os outros átomos têm uma estrutura semelhante à do hidrogénio,
variando no número de electrões e na constituição do núcleo. Por
exemplo, o átomo do hélio (fig. 2) é constituído por um núcleo com 2
protões e 2 neutrões, à volta do qual giram 2 electrões; o átomo de
carbono (fig. 3) é formado por 6 electrões planetários e por um
núcleo (fig. 4) com 6 protões e 6 electrões. Por razões de
simplicidade representam-se as trajectórias dos electrões do átomo
de carbono como circulares e supostas todas num plano.
O número de electrões é uma característica essencial de cada espécie
de átomos. Os electrões distribuem-se em sucessivas camadas em volta
do núcleo, dependendo o seu número por camada de condições bem
determinadas que regem o comportamento físico e químico dos
elementos. Os electrões que gravitam em volta do núcleo são
particularmente estáveis e os que se encontram sobre a periferia do
átomo são instáveis.
O átomo de hidrogénio tem 1 electrão, do hélio 2, o lítio 3, o
berílio 4, o boro 5, o carbono 6, o azoto 7, o oxigénio 8, etc., até
ao urânio que é o átomo natural mais carregado, com 92 electrões
planetários.
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Uma vez que o átomo é electricamente neutro e que cada electrão
possui uma carga eléctrica negativa igual à carga elementar,
conclui-se que a cada carga positiva do núcleo corresponde um
electrão. Portanto, o número de protões do núcleo é igual ao número
de / 7 / electrões e determina a carga total do núcleo: se um núcleo
contém 10 protões, 10 electrões devem circular em volta do núcleo
para formar um átomo neutro.
Ao número de electrões que gravitam em volta do núcleo de um átomo,
igual ao número de cargos elementares positiva do núcleo, dá-se o
nome de número atómico do elemento considerado.
Os átomos dispostos pela ordem crescente do seu número atómico,
formam a classificação periódica dos elementos, estabelecido em 1868
por Mendelejeff. Há 92 elementos químicos naturais, desde o
hidrogénio de número atómico 1, até ao urânio de número atómico 92.
O número total de partículas do núcleo – protões e electrões –
denomina-se número de massa do elemento correspondente. Este número
vem a ser o inteiro mais próximo do número que representa o peso
atómico do elemento considerado. A simples análise de uma tabela de
pesos atómicos indica-nos o número da massa do elemento.
A estrutura dum átomo fica definida pelo conhecimento do número
atómico (Z) e do número de massa (A).
O número de neutrões (N) do núcleo é pois determinado por N = A - Z.
Assim, por exemplo, o número atómico (Z) do alumínio é 13 e o número
de massa (A) é 27; o átomo de alumínio é pois formado por um núcleo
constituído por 13 protões e 14 neutrões (N = 27 - 13 = 14) em volta
do qual gravitam 13 electrões planetários.
A representação dos átomos faz-se habitualmente da seguinte maneira:
escreve-se o símbolo do elemento colocando à esquerda deste como
índice inferior o número atómico e como índice superior o número de
massa.
No caso do alumínio temos 27 / 13 AI; para o hidrogénio (fig. 1) 1 /
1 H, número atómico 1 (1 electrão) e número de massa 1 (1 protão);
para o hélio (fig. 2) 4 / 2 He, número atómico 2 (2 electrões) e
número de massa 4 (2 protões e 2 neutrões); para o berílio (fig. 5)
9 / 4 Be, número atómico 4 (4 electrões) e número de massa 9 (4
protões e 5 neutrões), etc. (Nota:
Os valores numéricos representam-se um sobre o outro, tal como se
mostra nas figuras: 27 sobre 13 Al; 1 sobre 1 H; 4 sobre 2 H; 9 sobre 4
Be,
etc.)
/ 24 / continuação
da página 7
Algumas ordens de grandeza
A teoria cinética dos gases permitiu determinar aproximadamente as
dimensões dos átomos. O átomo de hidrogénio é, grosso modo,
comparável a uma esfera de raio igual a 10-8 cm (1 décimo de
milionésimo de milímetro), ou, em outros termos, 10 milhões de átomos
dispostos uns após outros formariam uma cadeia de 1 milímetro de
comprimento; e o raio do núcleo é da ordem de 10-13 cm.
A quase totalidade da massa do átomo está concentrada no núcleo,
cujo volume é cem mil vezes inferior ao do átomo.
O átomo é então constituído por um vazio quase total no centro do
qual se encontra uma partícula muito densa; se compararmos as
dimensões do átomo às duma casa, o volume do núcleo seria reduzido à
cabeça de um alfinete. Se pudéssemos separar todos os espaços vazios
compreendidos nos átomos de um arranha-céus, este seria reduzido às
dimensões dum caroço de cereja: mas um caroço de cereja de 30000
toneladas!
A massa do electrão é igual a 9,1083 x 10 - 28 gramas. O protão e o
neutrão têm aproximadamente a mesma massa e são 1840 vezes mais
pesados que os electrões.
Sendo a massa dos electrões extremamente pequena, a massa do átomo é
sensivelmente igual à soma das massas dos protões e neutrões do
núcleo.
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As ordens de grandeza referidas são difíceis de conceber e parecem
realmente bizarras ao nosso pensamento, tal é a pequenez das
partículas constituintes dos átomos. Todavia, os mais recentes
progressos da física, mostram que o átomo possui uma estrutura ainda
mais complexa do que a indicada, tendo sido descoberta uma série de
novas partículas, num total de vinte e cinco.
Apesar disso o problema da constituição da matéria ainda não está
bem definido, tão complexas são as leis que regem o campo do muito
pequeno.
Os cientistas dispõem de conhecimentos vastíssimos e de aparelhagem
cada vez mais aperfeiçoada e potente, que lhes permitirão descobrir,
talvez, num dia não muito longínquo, quais são as partículas
elementares dos corpos, isto é, os constituintes últimos da matéria.
A seguir: Radioisótopos e energia atómica.
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