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dos livros que

tenho lido...

por guilherme barroso

 

DE «menino e moço» que fui educado por meu Pai na leitura de poucos, mas bons e escolhidos livros. A vida é tão curta no seu veloz perpassar pelo planeta terráqueo, que não se pode desperdiçar o pouco tempo que nos resta dos deveres profissionais a esbanjar o irrecuperável e inexorável minuto que passa para sempre na leitura, em horas de estudo ou recreio, de trechos donde se não possa tirar proveito e ensinamento para alguma coisa mais aprender do pouco que se sabe.

De todos os livros do inconfundível estilo de Eça de Queirós, há uma passagem em «A Correspondência de Fradique Mendes» que, talvez por ser a que mais perfeitamente se amolda e coaduna com a minha maneira de ser e agir para com todos aqueles que considero meus semelhantes e irmãos, ficou gravada quase palavra por palavra no meu cérebro de adolescente, naquela saudosa idade em que a receptividade de memória tudo fixa com o mínimo esforço.

É para mim uma das facetas extraordinárias da fulgurante prosa e espírito superior de Eça a referida passagem desse soberbo livro que abaixo transcrevo:

«Todos nós que vivemos neste globo formamos uma imensa caravana que marcha confusamente para o nada. Cerca-nos uma natureza inconsciente, impossível, mortal como nós, que não nos entende, nem sequer nos vê, e donde não podemos esperar nem socorro nem consolação. Só nos resta para nos dirigir, na rajada que nos leva, esse secular preceito, suma divina de toda a experiência humana – «ajudai-vos uns aos outros!». Que, no tumultuosa caminhada, portanto, onde passos sem conta se misturam – cada um ceda metade do seu pão àquele que tem fome; estenda metade do seu manto àquele que tem frio; acuda com o braço àquele que vai tropeçar; poupe o corpo daquela que já tombou; e
/ 11 / se algum mais bem provido e seguro para o caminho necessitar apenas simpatia d'almas, que as almas se abram para ele transbordando dessa simpatia... Só assim conseguiremos dar alguma beleza e alguma dignidade a esta escura debandada para a morte.»

Belas e sublimes frases que, numa dúzia de palavras de profundo amor pela humanidade, condensam em si todas as Bíblias, todos os credos, todas as religiões!

Quão maravilhosa seria a vida, nas suas relações entre os homens, se todos nos esforçássemos por seguir esta simples e humilde doutrina, tão simples e tão humilde como o viver humilde e simples da ingénua gente da luminosa Galileia, onde nasceu e morreu o doce Rabi que teve o mérito e a coragem não só de a pregar, mas principalmente de a praticar, e que os homens, na sua ingénita maldade, não souberam ou não quiseram aproveitar e compreender!

Numa época tão perturbada e cheia de incertezas pelo dia de amanhã como aquela em que actualmente vivemos, como seria fácil e redentora a aplicação deste princípio, numa afirmação eloquente da boa vontade entre os homens, que parecem apostados em complicar e baralhar tudo o que é singelo, mas de grande alcance espiritual e moral.

Que esta máxima – «Ajudai-vos uns aos outros» – seja um dos lemas e apanágio do neófito Boletim da tão unida família dos empregados da E. P. A., onde possa sempre brilhar como a luz vivificadora de resplandecente farol a iluminar e orientar os esperançosos rumos da Flâmula, desde os seus primeiros e vacilantes passos até ao mar encapelado e talvez tormentoso da sua futura e ainda desconhecida existência.


flâmula


A partir do próximo número, esperamos poder contar com a colaboração dos nossos prezados colegas de Matosinhos e Agadir, que muito interessará à finaIidade do nosso Boletim.

Daqui lhes renovamos o nosso pedido, certos de que o acolherão com a melhor boa vontade.

 

 

 

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