AVENIDAS, RUAS, PRAÇAS E LOCAIS DE AVEIRO

A Rua de João Mendonça

Quinta-feira, 22 de Outubro de 1998 – pág. 15 Marta Duarte

Antiga Rua do Cais. Clicar na imagem para mais informações.

Aveiro baptizou uma das suas ruas mais características com o nome de João Mendonça. No entanto, muito poucos saberão quem se esconde detrás de uma placa toponímica. E quem foi João Mendonça? Nascido em Aveiro, no dia 30 de Agosto de 1871, João Augusto de Mendonça Barreto foi visitador do Selo do distrito, fundador do Clube Mário Duarte e distinto desportista. Morreria, assassinado, a 12 de Julho de 1912, em Cabeceiras de Basto.

 

Paralela ao Canal Central, a Rua de João Mendonça teve um papel muito importante na história e no crescimento económico da cidade de Aveiro. Foi bastante frequentada pela população aveirense, que procurava, no cais, as mercadorias necessárias ao seu sustento.

Ali atracavam os mais variados barcos da ria: os pesados saleiros, os elegantes e emproados moliceiros e as leves bateiras mercantéis, todos chegando ao cais carregados de lenha, carqueja, moliço, sal, milho, batatas e um sem número de outros produtos.

No princípio deste século ainda se realizavam, no cais, feiras e ajuntamentos. Havia o mercado da madeira, que fornecia não só lenha, mas também tábuas e madeira para a reparação dos barcos; o mercado dos melões, onde se podia comprar melões e melancias nos barcos, vindos da Vagueira e das Gafanhas; e o mercado das cebolas, vendidas em “cambos”, por airosas mulheres.

Quem recorda aqueles tempos (e muito nos tem valido a memória e o trabalho de investigação do Sr. Fausto Ferreira) lembra a multidão alegre e agitada na labuta comercial. A confusão reinava no cais! Os calceteiros, os pescadores, os mareantes e alguns comerciantes que ali habitavam faziam, também, o bulício desta zona. Os centros de decisão e as estruturas necessárias ao bom desenvolvimento do comércio localizavam-se na proximidade deste local, como se uma força magnética os puxasse para junto da ria.

Hoje, o cais apenas serve barcos de recreio, de pesca, bem como actividades tradicionais e turísticas. Continua, no entanto, a ser indispensável preservar o seu bom estado para melhor fruição da vida nesta zona baixa da cidade.

A Rua de João Mendonça já teve diferentes designações. Foi conhecida por Rua do Cais, por ali atracarem os mais variados barcos da ria, fazendo as suas cargas e descargas; Rua do Pelourinho, por o pelourinho da cidade se localizar em frente ao café “Gato Preto”; e, ainda, rua de Fontes Pereira de Melo, em homenagem ao que foi como governante um dos principais impulsionadores do desenvolvimento português a partir de meados do século XIX.

Em meados deste século, era já possível encontrar, nesta rua, edifícios e estabelecimentos comerciais, que lhe conferiam características únicas.

A fazer esquina com a praça de Joaquim de Melo Freitas, onde fica a Companhia de Seguros Fidelidade, encontrava-se a livraria do Sr. Reis. Um pouco mais à frente, destacando-se pela raridade e valor arquitectónico da fachada “arte nova”, fica a Casa da Cooperativa Agrícola. Neste edifício funcionou, também, um talho pertencente ao Sr. Manuel Gamelas. Era considerado o melhor da cidade, quer pela qualidade da carne que vendia, quer pelas óptimas condições de higiene que o proprietário fazia questão de manter. Bastante degradado e com forte probabilidade de ruir, o prédio serve agora uma mercearia.

No vasto conjunto de construções de “arte nova” existentes na rua, e como acompanhamento do actual edifício da Região de Turismo “Rota da Luz”, onde, em tempos, funcionou o Banco Nacional Ultramarino, existem duas casas que foram adquiridas pela Câmara Municipal, com o intuito de se transformarem em Museu da Cidade. Problemas surgidos com o escoramento de toda a fachada dos prédios têm dificultado o desenrolar normal das obras, iniciadas em 1995.

A meio da rua, podemos encontrar, na “Mercantil Aveirense”, drogaria ali existente há mais de 60 anos, um variado “sortido” de materiais. No primeiro andar, fica o cabeleireiro do Sr. Alfredo Fortes e, no segundo, o Instituto Superior de Ciências de Informação e de Administração (ISCIA) e a redacção do jornal “Campeão das Províncias”.

A fazer esquina com a rua de Trindade Coelho ficava o café “Gato Preto”, como ainda hoje é conhecido.

 

Hoje… alguns problemas

A Rua de João Mendonça, localizada no coração da cidade, tem alguns problemas que os comerciantes e transeuntes anseiam por ver resolvidos pelo Executivo camarário.

A falta de estacionamento, a deficiente iluminação, a pouca segurança, alguma prostituição, e as frequentes inundações que, aquando das marés-vivas, representam preocupações constantes para quem ali tem negócio, para quem ali passa.

A rua é uma das mais visitadas e fotografadas da Região de Turismo da Rota da Luz. O canal central, com a ria e os seus encantadores moliceiros, é o elemento preferencial de folhetos informativos, guias e mapas da cidade. Por este acto, a opinião dos comerciantes e transeuntes da rua aponta apara a necessidade urgente de preservar as várias fachadas de casas de “arte nova”, que são o ex-libris de todo o distrito de Aveiro. E tem toda a razão!

Uma cidade vale pelo que revela da sua história. Não se visita por aquilo que em toda a parte se encontra, mas pelo que só ela possui. São os motivos artísticos do passado, os melhores títulos para o turismo de nível superior.

 

Sabia que...

Uma situação algo insólita ocorreu nesta rua, quando ainda havia a pena de morte. Um sapateiro, que tinha por alcunha o "Cospe-Fora", foi enforcado no pelourinho da cidade, após ter sido acusado de matar um indivíduo. Anos mais tarde, provou-se ter sido um erro judicial.

Foi o último enforcamento em Aveiro.

 

Rua João Mendonça em 28 de Março de 2017. Clicar na imagem para mais informações.

 

 

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