Fazendo a
ligação entre a porta da Vila e a porta da Ribeira, a antiga Rua Direita
foi uma das mais importantes para o crescimento de Aveiro. Através dela,
a população tinha acesso directo ao centro cívico da vila, localizado,
durante séculos, no largo da igreja de S. Miguel.
Nessa
época, Aveiro estava cercada por muralhas e a terra e o mar eram as duas
formas de entrada na vila.
A porta
da Ribeira, situada ao fundo Rua da Costeira, dava acesso à Vila a quem
chegava por mar. Os viajantes que entravam por terra confluíam para a
porta da Vila, que ficava no início da actual Rua de Eça de Queirós.
Estas portas simétricas uniam-se pela Rua da Costeira, conhecida pelo
seu acentuado declive e pela famosa Rua Direita.
Por ser a
única rua que, apesar de sinuosa, fazia a ligação entre as duas portas,
proporcionando o acesso rápido e directo ao centro da vila, é que a
actual Rua dos Combatentes da Grande Guerra foi em tempos designada por
Rua Direita. Outros nomes teve, como Rua da Santinha e Rua de Anselmo
Braamcamp.
Falemos
primeiro da Rua de Coimbra, vulgarmente conhecida por Rua da Costeira…
No início
desta rua ficava a sapataria Miguéis, propriedade de José Migueis Picado
Júnior. Era uma casa velha com algumas características de "arte nova",
que em 1924 foi transformada numa sapataria, como ainda se mantém. Quem
recorda aquela época, lembra o calçado de qualidade que embelezava as
montras deste estabelecimento.
Era uma
das melhores sapatarias da cidade!
Um pouco
mais acima, ficava uma confeitaria e mercearia, pertença de Maria da
Apresentação Peixinho onde, ainda hoje, podemos deliciar-nos com as
famosas especialidades da região − os ovos-moles de Aveiro.
Do outro
lado da rua, onde funciona o Banco Fonsecas & Burnay (BFB), havia a
ourivesaria de António Souto Ratola que, para além de pratas, vendia
também postais e valores selados.
A actual
Igreja da Misericórdia, construída na primeira metade do século XVlI,
serviu de Sé aquando da criação do Bispado de Aveiro. Do lado esquerdo
da igreja, e por cima da actual Casa Espanhola, ficam a sala do despacho
e as demais dependências da Santa Casa. O templo está voltado para a
Praça do Município
[ver o mapa: «Praça da República»], antigamente denominada Adro de S. Miguel.
Este
largo já era o centro nevrálgico da vila, no século XV. Foi ali que se
formou o centro cívico e se implantaram os edifícios públicos, como os
paços do concelho, o hospital, as casas dos mercadores, a albergaria de
S. Brás, os fornos e, também, a igreja matriz − Igreja de S. Miguel –
localizada onde foi erigida a estátua de José Estêvão.
O
edifício dos Paços do Concelho foi construído na última década do século
XVlII, depois de Aveiro ser elevada à categoria de cidade, em 11 de
Abril de 1759. É neste edifício que termina a Rua de Coimbra e se inicia
a
Rua dos Combatentes da Grande Guerra,
mais conhecida por Rua Direita. (Ver
esta rua em «Aveiro Diacrónico».)
Ao longo
desta rua, no século XIX, podia-se encontrar grande variedade de
estabelecimentos comerciais: mercearias, lojas de ferragens,
alfaiatarias, casas de fotografias e livrarias.
Hoje, é
uma das ruas históricas mais frequentadas pela população aveirense. As
retrosarias enchem-se de senhoras à procura de botões, fazendas,
tecidos, rendas ou fitas. O valioso espólio fotográfico do Sr. Henrique
Ramos é procurado por apreciadores de fotografias antigas. Num espaço
amplo, recentemente renovado, a loja de óptica do Sr. António Nascimento
oferece uma variada gama de marcas.
Do lado
esquerdo da rua, e a fazer esquina com a Rua do Dr. Nascimento Leitão,
temos a loja do Sr. Fernando, ali estabelecido há 31 anos, e que, no
século XIX, foi a casa do visconde-barão de Santo António. Logo a seguir
fica o Hotel Imperial, antigo Palácio do Infante D. Pedro.
A Rua
Direita terminava no antigo Largo do Espírito Santo, mas foi sofrendo
alterações até à sua mais recente modificação quando rasgada pela actual
Avenida Santa Joana.
Hoje… alguns problemas
A Rua de
Coimbra e a Rua dos Combatentes da Grande Guerra fazem parte das ruas
mais antigas da cidade e estão intimamente ligadas à evolução histórica
e económica de Aveiro. Por isso, os protestos generalizam-se
relativamente ao incumprimento do projecto de recuperação destas ruas,
há tanto tempo prometido pelo executivo camarário.
Há
necessidade de resolver as dificuldades de estacionamento, bem como a de
facilitar a circulação de pessoas.
A opinião
dos comerciantes e transeuntes aponta para o encerramento das ruas ao
trânsito e sua recuperação. Desejam que esta zona se transforme numa das
melhores do núcleo histórico de Aveiro, onde se tenha o prazer de
passear. Poderá ser mesmo um complemento do Fórum Aveiro.
Com a
nova Ponte de Pau a funcionar e com a recente reabertura da Rua Batalhão
10, estão criadas as condições necessárias para que estas ruas sejam
devidamente recuperadas, tornando-as bonitas, com empedramento,
floreiras, bancos, iluminação adequada e outros tantos atractivos.
Outro
factor que poderá beneficiar a Rua dos Combatentes da Grande Guerra é o
retomar da sua antiga toponímia. Aliás, qual é o aveirense que
desconhece a localização da Rua Direita?
NOTA:
Actualmente, em 2017, as ruas de Coimbra e Combatentes da Grande Guerra
estão encerradas ao trânsito, sendo exclusivamente pedonais. A Rua dos
Combatentes começa na esquina do edifício dos Paços do Concelho e vai até
à actual avenida Santa Joana. Diversas lojas referidas neste artigo de
1998, salvo raras excepções, já não existem.
Na
secção «Aveiro Diacrónico», além de imagens de outras épocas, procura-se
reproduzir fotograficamente os percursos a pé destas ruas. |