FIGURAS EM AVEIRO LIGADAS AO DESPORTO

Manuel Mateus «O Profissional»

Quinta-feira, 19 de Novembro de 1998 – pág. 19 Daniela Sousa Pinto

Manuel de Oliveira Marques Mateus nasceu em Aveiro (1928). Tem 70 anos e começou por jogar no Futebol Clube de Aveiro, aos 18. Com 21 anos foi chamado a integrar a equipa principal aveirense. Acode sempre pelo Beira Mar e simpatiza com o Sporting. Gosta de ir ver jogar a equipa aurinegra, de que é sócio, e sofre muito nos jogos. Esta é a história de um grande profissional, tanto que nunca teve nenhum castigo. É um homem muito feliz, que só lamenta ainda não ter tido nenhum neto que se dedicasse ao futebol... Eis a sua história.


Desde sempre adorou o futebol, «tinha o vício da bola». O primeiro clube que defendeu foi o Futebol Clube de Aveiro (FCA) uma equipa particular. Para integrar o plantel do Beira Mar era preciso ser muito bom jogador. «Na altura eram quarenta e tais jogadores... Tínhamos que trabalhar muito para chegar a titular.» Foi chamado três vezes ao Beira Mar, mas nunca chegou a jogar. Entretanto, o FCA acabou e houve alguém que o levou definitivamente para o Beira Mar. «Comecei a treinar e fiz três jogos em reserva. Depois, subi à categoria de principal, onde fiquei até deixar o futebol em 1959, tinha 30 anos.» Deixou o futebol, «não porque ainda não estivesse em forma, mas porque exigiram a 4ª classe. Eu não tinha a 4ª classe. Mas continuei a treinar, porque eles precisavam de 22 jogadores para os treinos.»

Manuel Mateus jogou durante 10 anos, mas «não ganhei muito dinheiro. Ganhava 200 escudos pelos treinos e tínhamos os prémios de jogo; dava para  as minhas despesas.» Mas os treinos eram duros. «Treinava às sete da manhã e tomava banho em água fria! Depois, ia para o emprego e, no dia seguinte, era a mesma coisa.» Todo este sacrifício porque gostava muito de jogar. Mas os sacrifícios não se ficavam por aqui, e, mesmo em termos de alimentação... «Todo o atleta tem que ter muito cuidado com o que come e com as horas a que se deita. Neste aspecto tive muita sorte, porque a minha mulher tratou-me, sempre, muito bem.»

Tem muitas e boas recordações do tempo de jogador, mas há um momento especial que lhe causa grande emoção: «Houve um jogo em Vila do Conde em que precisávamos de ganhar, para subirmos à terceira divisão. Estivemos a ganhar por três bolas a zero, até que ficámos empatados. Faltava um minuto, um minuto e meio, para acabar e eu marquei o golo da vitória! Foi um momento muito bonito. Quando chegámos até tínhamos música à nossa espera. Andei às cavalitas de algumas das pessoas que nos esperaram. Ficou no meu coração e no coração de toda a gente.»

Manuel Mateus − em baixo, o segundo a contar da direita.

Confessa que se entristece com o facto de os jogadores, hoje, ganharem tanto dinheiro, principalmente quando tantos deles não merecem. «Ficam muito longe da categoria dos jogadores do meu tempo. Parece que eles não se esforçam o necessário ou então não há camaradagem entre os colegas de equipa.»

Jogou numa época em que havia muita camaradagem, muita amizade e respeito entre os jogadores. «Nós dávamos tudo por tudo. Éramos uma equipa e trabalhávamos em conjunto. Agora, parece-me que os jogadores são muitos individualistas. Querem fazer tudo sozinhos e, depois, não fazem nada... Perdem muitos golos, assim.» O egoísmo não compensava e, por isso, dava muitos golos a marcar. «O que interessa é que a equipa ganhe».

Do Beira Mar recebeu um emblema em prata, quando completou 25 anos de sócio e, ainda hoje, «sou muito acarinhado pelos outros sócios. Passam-me a vida a dizer: "agora é que tu devias estar a jogar!"» Elogiado pelos que ainda se lembram do jogador, diz sentir-se muito feliz.»

Um homem que defendeu e, muito bem, as cores do Beira Mar lamenta que nenhum dos netos se tenha dedicado ao futebol. "Gostava de lhes poder ensinar umas coisitas e vê-los serem melhores do que eu.» Homem alegre, fica muito triste quando o Beira Mar perde em casa. Simpatiza com o Sporting, mas «primeiro, o Beira Mar, porque precisa muito mais. Os mais pequenos têm que ser mais acarinhados.»

O conselho que deixa aos mais novos é que façam da equipa de futebol uma família. «Viver no campo e em casa é igual. É preciso muito respeito, muita amizade, muito companheirismo.»


Ora, bolas!

Manuel Mateus conta:

«Antigamente, as nossas mulheres iam ver os nossos jogos e podiam entrar à vontade.»

"Não ganhávamos nada, mas esforçávamo-nos muito. Eu ia de bicicleta às 7 horas da manhã para poder treinar...»

«No início era conhecido por "Ninguém". E uma vez apareceu num jornal: "Ninguém marcou três golos.»

«Nunca levei nenhum cartão amarelo e nunca fui expulso.»

«A nossa equipa era muito unida. Brincávamos muito... Uma vez, fecharam-me na mala do carro sem eu me aperceber de nada...»

«Num jogo em Ovar quase me arrancaram o artelho! Mesmo assim, todo ligado, voltei ao jogo.»

«O melhor jogador de todos os tempos foi o Eusébio. O Figo é, hoje em dia, o melhor jogador português.»

 

O Jogador: Manuel Mateus

Posição: Avançado, mas marcava o adversário muito bem

Características: Muito resistente e bom marcador. Também dava muitos golos a marcar.

 

 

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