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Em
pergaminho firmado há mais de seis décadas (rigorosamente,
em 12 de Setembro de 1920), refere-se, além do mais, que
"foi solenemente assente o pau de fileira no novo edifício
que a Ex.ma Câmara Municipal está fazendo construir no Largo
Maia Magalhães, desta cidade, e destinado ao Quartel desta
Companhia. E para que fique gravado em letras de ouro este
acto soleníssimo e o preito devido à Ex.ma Vereação, se
lavrou o presente auto".
Seguem-se numerosas
assinaturas de representantes municipais, da imprensa local,
dos comandantes, militar da cidade e das companhias
voluntárias de Viseu, de Aveiro e de diversas autoridades. |
Foi desde essa data que a
instituição em causa – a
Companhia Voluntária de Salvação Pública Guilherme Gomes
Fernandes, transpôs
as suas instalações do extremo da freguesia da Glória,
confinante com o Canal Central da Ria, para a freguesia da
Vera Cruz – assim se distanciando da sede dos "Bombeiros
Velhos" (a conceituada e hoje ultra-centenária Associação
Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro). Não foi um
virar-de-costas (pois muito se devia – e deve – ao
salutaríssimo exemplo dos "Velhos"): apenas se operou uma
mudança do provisório para o definitivo, em lugar donde mais
rapidamente pudessem, então, ser assistidas as gentes da
Beira-Mar.
Hoje, no
mesmo local, os "Bombeiros Novos" têm um novo quartel –
neste ano, em que celebram as suas "Bodas de Diamante", esta
uma clássica e feliz expressão que significa festa e brilho
culminantes dos 75 anos de vivência – o que, feitas as
contas, significa muito para cima de meio milhão de horas de
permanente vigília, numa espontânea dádiva de homens (de
múltiplas gerações) ao irmão-homem. Matemática simples, em
elevadíssima cifra, mas nela cabe um mundo de reflexões que
nem podem liquidar-se num mundo de palavras – de resto, e no
caso, as palavras não passariam de roupagem de burel sobre
um corpo digno de um manto de ouro cravejado de diamantes.
Aliás, o modesto signatário destas linhas – bombeiro, desde
há algumas décadas, mas bombeiro sem farda – cada vez menos
sabe falar de Bombeiros: a devotação dos que, ao grito da
sereia (que é a chamada sonora de um qualquer humano drama
ou de uma qualquer humana tragédia), não encontra palavras
que traduzam, neste mundo de egoísmo, a abnegação dos que
estão sempre prontos a acudir ao irmão-homem, numa
fraternidade que não distingue o ser conhecido do ser
desconhecido, nem sequer o amigo do inimigo.
Num
quadro, que esteve patente no velho quartel, lia-se esta
eloquentíssima sextilha:
"Vida por
vida é divisa
Que por
bem o mal suaviza
E sobe em
graças aos Céus.
Diz Amor
e Caridade;
Valor;
Honra e Humanidade;
Foi
inspirada por Deus".
Para
crentes, mesmo para descrentes, infere-se destes versos que
algo de transcendente existe naqueles que consideram o seu
semelhante num âmbito fraterno e desinteressado – arriscando
a própria vida pela vida alheia, sem sequer pensarem, pelos
riscos que correm, que podem deixar em risco o seu próprio
lar.
E – tudo
já dito aqui, sem nada dizer apenas um voto: que os
"Bombeiros Novos" envelheçam por séculos, na continuidade do
exemplo de altruísmo que têm dado, sempre brilhando como o
diamante, em festivas e futuras bodas. |