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Crepúsculo
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Os cánticos da tarde, os salmos do
Poente
Derramam pelo espaço um lánguido torpor…
Mergulha o Sol no Oceano e a abelha diligente
Haure, no último sôrvo, o mel de flôr em flôr!...
Os campos, os vergéis suspiram vagamente
Melodías de paz disendo em seu rumôr!
E a Ria, a serpear, levada na corrente,
Endêchas vai cantando ao Mar o seu amôr!
E o Mar – êsse gigante azul, côr de safira –
Em doida fúria esmaga o dôrso contra a práia,
A' lei do Eterno querendo impôr a sua íra!...
Fenéce o horisonte... O dia já desmaia…
Todo o Universo entôa um ritmo divino!
Convida o Campanário, ao longe, á Oração…
Da alma da Cristandade, harmonioso, um híno
Se desprende inocente e espalha na Amplidão!
No bosque, a toutinegra a saltitar anciosa
Seu ninho busca já por entre miI descantes,
E Venus, lá do Olimpo, a faíscar radiosa
Ondas de luz dardeja etéreas, cintilantes!
Da avêna ecôa o som do pastor solitário
Tocando p'ra o redíl as mansas ovelhinhas;
Cansado o lavrador repoisa do fadário
Indo levar, contente, o pão ás creancinhas!
E' prestes a dormir a Naturêza inteira.
Sussurra a viração trasida além do sul.
E, entretanto, a Lua – a branca feiticeira
Róla argéntea nos Ceus por sobre um veu de tul,
Beijando, carinhosa, a linda Pátria – Aveiro –
Que a Ria de cristal refléte alegre, amena,
E a sorrir a seus pés, num extasis fagueiro
Oscúla a suspirar tão meiga e tão serena!...
ANDRÉ DOS REIS.
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