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(De Domingos Guimarães)
(Nota a lápis no original: «Publicado
cerca de
Maio de 1912 no “Campeão das Províncias”, Ano 61, N.º 6156.»
Domingos Guimarães é um publicista
distinto e um elegante burilador da frase, bem conhecido nas nossas
letras para que aqui lhe viessemos traçar mais largo perfil.
Vive em Vale-Maior, entre montanhas, entre ramagens verdejantes,
entre livros queridos, entre as aguas que romorejam, trabalhando,
pensando, escrevendo.
Daí tem ele dirigido e produzido algumas
das melhores publicações do nosso paiz. No artigo que vai lêr-se, o
brilhante espirito de Domingos Guimarães surpreende admiravelmente
com mão de mestre e impressão de artista, a beleza da terra marinha
que nos foi berço.
Aveiro é uma cidadesinha linda,
cantante, arejada, que desabrocha como uma fresca flor aquatica,
como um enorme nenufar branco, de entre as aguas, que por todos os
lados a cingem, a atravessam em canais, a banham, a refletem, a
espelham, lhe erguem um hino claro, fremente, entusiastico,
apaixonado. E' a Flor das Aguas, a Flor do Mar – e a agua é a alma
suprema, activa, da paisagem. Cercam-na vastas campinas verdes,
cortadas de canais minusculos, por onde deslisam esbeltos saveiros;
salinas que relampejam ao sol como cristais rutilos; moinhos que
gesticulam e batem azas sobre o vasto polder, todo ensopado de agua;
rebanhos de vacas que pastam nos frescos lameiros; aguas onde
palpitam, em maravilhosos jorros de luz, todos os reflexos, todas as
imagens, ora ondeantes como sombras, ora flamejantes como brazas, e,
segundo a hora e a altura do sol, umas vezes côr de turqueza, outras
côr de safira, outras côr de nacar, outras côr de coral – e tudo
isto dando-lhe um aspéto de levêsa, de frescura, de graça, de
intimidade repousante e doce.
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Douro, pelo aberrativo artificio de uma
estupida divisão administrativa, á francesa, não tem Aveiro nada
dessa provincia ardente, nervosa, seca: antes, pela suavidade do seu
clima humido vaporoso, macio, é o atrio luminoso e largo dessa
escadaria. sumptuosa de montanhas gigantes que se chama a Beira-Alta,
e fIne vai das colinas roseas de Angeja e Agueda, que servem de
plinto aos montes das Talhadas, Montemuro e Sub Ripas, até ás
cristas do Caramulo, ultimo esforço da terra para chegar ao ceo.
Terra de encanto! Paisagem de maravilha!
Nunca os nossos olhos extasiados se fartam de contemplar o formoso
paiz que cinge a cidadesinha clara. Para qualquer lado que a vista
se alongue, sempre o panorama é largo e lindo, sempre embriagador e
estranho o scenario! Os charcos das marinhas que rodeam Aveiro
oferecem o mais complicado mapa que o delírio dos geografos poderia
conceber. Todas as combinações imaginaveis de meandros de agua,
correndo sem tino e sem ordem por entre tamargueiras e juncais, aIi
se patenteiam todas as formas geometricas de ilhas e penínsulas, que
seriam possíveis se estivesse em projéto uma nova creação do mundo,
ali se vêem, e não ha quem possa eximir-se a observar com pueril
atenção tão graciosa cosmogonia.
Entre estes caprichosos jogos de agua, a
luz brinca, e luz e agua são os dois motivos principais desta
paisagem, que tem em si um poder capaz de transformar os homens mais
positivos e secos em poetas – poetas volutuosos e ardentes se a luz
chameja e fulgura osculando em beijos freneticos o corpo moreno da
Terra: ou poetas de melancolia, de saudade e de sonho quando, sob
aqueles ceus velados, as arvores e as cousas se envolvem numa bruma
de prata, leve e fluida – como que numa espiritualisação!
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Aveiro e a pesca longínqua
Dados mais recentes dos que os da
estatistica da 1910, os referidos a 1911, acusam uma tendencia para
o desenvolvimento do porto de Aveiro como porto de pesca longinqua,
As condições interiores do porto facilitam o desenvolvimento da
industria; as vias de comunicação para os principais centros
distribuidores favorecem o comercio dos seus produtos. As más
condições da barra dificultam, porém, o movimento maritimo e a
falta, de recursos para a contrabalançar é bem conhecida, sendo da
maior oportunidade dar remedio a este estado de coisas.
Em 1911 entraram o porto 4 navios do
registo desta praça e 1 da praça do Porto, com a tonelagem bruta
785,77 t., 133 homens de tripulação, 120 canôas, valor dos navios
44.500:000 reis, dos aparelhos 500:000 réis. A época de pesca foi
considerada medíocre havendo a seguinte produção: 140: 161
kilogramas de bacalhau no valor de 28:332:280 réis, 1:532 litros de
oleo no valor de 123:200 réis. A permanencia nos Bancos foi em média
de 120 dias.
Esta industria apresenta em Aveiro uma
anomalia digna de atenção e que indica um amortecimento de energias
da população marítima da cidade, demonstrando-se que a crise
ecomomica, em que esta se debate, não é inteiramente devida á falta
de campo para onde possam derivar as atividades desocupadas, ou mal
remuneradas. Dos 133 homens que constituiam a tripulação dos navios
apenas 3 pertenciam á cidade de Aveiro: a distribuição de cerca de
18:600:000 réis de soldadas foi a seguinte: 9:000:000 réis para a
Fuzeta, réis 4.000:000, não incluindo os vencimentos dos capitães,
para ...
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... Ílhavo, 5.000:000 réis para diversas
localidades da costa, 470.000 réis, ou sejam 2,6% por cento, para
Aveiro. E’ de notar que convém aos armadores recrutar tanto quanto
possivel as suas tripulações no porto de armamento, o que lhes
evitaria as despezas de transportes, dificuldades com engajamentos
que se fazem por intermedio de agentes, e uma selecção difícil.
Silverio da Rocha e Cunha,
1.º tenente da armada e capitão do porto
de Aveiro.
Distrito de Aveiro
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Viagens pelo caminho de ferro
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Linhas em exploração
O Distrito de Aveiro é atravessado, no
sentido norte-sul, pela mais importante linha de Portugal ---
Porto-Lisboa --- pertencente á antiga Companhia Real dos Caminhos de
Ferro Portugueses e que hoje se denomina Companhia dos Caminhos de
Ferro Portugueses. A primeira estação, ao sul, dentro do distrito, é
Pampilhosa, onde entroncam as linhas da Beira-Alta, partindo para
poente até Figueira da Foz e para nascente até Vilar Formoso, na
fronteira espanhola.
A linha Porto-Lisboa está assim ligada
na Pampilhosa com a Figueira, com Vizeu (ramal partindo de S.ª Comba
Dão) com Guarda, Salamanca, Bordeus, Pariz.
A ultima estação ao norte, dentro do
distrito de Aveiro, é Espinho, donde parte a
Linha do Vale do Vouga,
que passando pelas vilas da Feira, Oliveira de Azemeis e
Albergaria-a-Velha, se deverá prolongar, seguindo o curso do Vouga,
até Vizeu, passando perto de Sever do Vouga e Oliveira de Frades,
Vouzela e S. Pedro do Sul. O
Ramal do Vale do Vouga
que se liga no entroncamento da Sarnada, perto de Albergaria-a-Velha
com a linha principal do Vale do Vouga, parte de Aveiro e passa na
vila de Águeda, .A
Linha da Beira-Alta,
partindo, como dissemos, da Pampilhosa, atravessa o distrito até á
estação do Luzo.
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