O
desporto foi actividade sem preponderância até meados do século.
Os adultos não deixavam, porém, de ter os seus
entretenimentos que, embora com características Iúdicas,
davam origem a disputas e contribuíam para o desenvolvimento
das suas aptidões físicas e estéticas.
Os
jogos então praticados faziam parte integrante da cultura do
povo e suas tradições e tinham os seus pontos altos nos
festejos de outros tempos.
Ficarão
aqui mencionados apenas alguns dos mais populares. Começaremos
por referenciar o jogo da malha ou fito, que ainda hoje é
praticado com frequência pelos homens nas tardes de Domingo.
As
corridas de sacos, muito do agrado de todos, executadas
por jovens, eram disputadas na abertura das festas. Seguiam-se
as corridas das cantarinhas, sendo estas apenas do foro
feminino, pois, desde bem novinhas, as meninas treinavam
levando objectos à cabeça a imitar suas mães; mão havia
mulher por estas bandas que não tivesse treino suficiente
para entrar nesta competição. De cântara à cabeça era
feito o caminho de casa à fonte e vice-versa, às vezes mais
que uma vez por dia; não só água mas carregos de fruta,
bacias de roupa, pasto, o cesto das refeições e tudo o mais
que fosse necessário era carregado à cabeça das mulheres.
As
cantarinhas iam normalmente cheias de água e se, por qualquer
azar, alguém deixasse cair a sua na corrida, tinha banho
assegurado. Outro dos jogos consistia em apanhar com a boca
bolachas penduradas num fio, passando por baixo delas a
correr: a pé, a cavalo num burro ou de bicicleta. Noutro
ainda deveriam os concorrentes transportar um ovo numa colher
levando o cabo desta enfiado na boca além de serem obrigados
a fazer o percurso a correr Para qualquer destes jogos era
necessária destreza, precisão e controlo.
Terminavam
os festejos com a habitual subida ao mastro, um pau alto e
liso de eucalipto ou pinheiro descascado e profusamente
ensebado para assim se tornar bem escorregadio.
No
cimo do mastro estavam pendurados dois bacalhaus e um garrafão
de vinho que constituíam o prémio de quem conseguisse chegar
ao topo sem auxílio.
Devemos
acrescentar que não era fácil ganhar este troféu. A competição,
aguardada com expectativa, trazia sempre momentos de gáudio e
boa disposição, pois, a par dos trepadores exímios, havia
aqueles que, apesar de terem pouca destreza e o rabo bem
pesado, não se continham e, por lorpice ou ilusão, não
resistiam à tentação de tentar trepar o que redundava num
solene “bate cu”.
Tido
como um dos melhores entre os trepadores e corredores destas
bandas, era o Zé Carlos de Malhapão e contaram-nos que
festa onde ele se apresentasse para competir muitos
dos concorrentes inscritos desistiam de imediato por saberem
de antemão que o Zé Carlos [**] limpava os
prémios todos.
O
Jogo do Burro, que também teve muitos adeptos, era
jogado com patacas - moedas antigas fora de uso e muito
pesadas - num estrado grande de madeira inclinado e dividido
em rectângulos numerados tendo no cimo um buraco.
Os
jogadores atiravam as moedas de certa distância e iam
marcando pontos conforme o local onde as patacas caíam, tinha
a pontuação máxima quem acertasse no buraco. Neste jogo
era indispensável destreza manual e muita pontaria.
O
prémio de muitas destas competições era frequentemente
uma rodada de vinho paga por quem perdia.
Passear-se
em cima de andas era um dos “entreténs” mais apetecidos e
tanto o faziam crianças como jovens de qualquer dos sexos.
Bastava para isso terem equilíbrio suficiente. Podem crer que
é bem curioso olhar os outros lá de cima e vê-los admirados
e invejosos de nariz no ar.
Vamos
terminar recordando apenas mais um dos divertimentos da
rapaziada: “Andar de zorra”; consiste em deslizar em
ladeiras íngremes ou rampas, encavalitado num carroço de
madeira feito dum modo puramente artesanal. Esta brincadeira
era perigosa e ainda é lembrada a morte de um rapaz com os
seus 15 anos ocorrida numa destas descidas.
Tudo
isto passou de moda, é a roda da vida.
Hoje
porém, muitas terras vão começando a tentar reviver estas e
outras tradições, prática que consideramos muito louvável.
[**]
José Caetano de
Oliveira, mais conhecido por
José Carlos, era o pai da
autora.
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