As feiras,
locais onde inicialmente convergiam as pessoas para efectuarem
trocas de produtos da sua região, foram desde sempre pólos
de desenvolvimento dos lugares e populações onde se
realizavam.
A origem
destes mercados baseou-se na necessidade que o homem tinha de
trocar os bens que produzia e lhe sobravam, por outros que lhe
faltavam. Hoje é tão grande o número de feirantes e os
artigos transaccionados tão variados que nada ali falta.
Em Oliveira
do Bairro realizava-se a 16 de cada mês uma feira de gado
cavalar, bovino e
porcino, vindo mais tarde a limitar-se à chamada “feira dos
porcos” que tinha lugar no cimo da ladeira da Raposeira.
Esta terminou por motivos de higiene sanitária.
Na vila
apenas se mantém o mercado que se realiza aos sábados de
manhã, sendo antes conhecido por “praça” por ter lugar
na praça pública ao longo da avenida principal. Agora tem
lugar próprio destinado a esse fim.
Oiã tem há
vários anos um mercado, com espaço próprio, criado pela
população e junta de freguesia, o qual serve razoavelmente
as gentes da vila.
FEIRA DO
SOBREIRO
A feira do
Sobreiro, criada em Outubro de 1936, realiza-se nos dias 9 e
22 de cada mês, sendo um mercado bastante concorrido que
traz à freguesia de Bustos muito desenvolvimento e nomeada, e
grandes benefícios à população com o movimento que dá
à terra e a receita que vai deixando.
FEIRA DOS
BURROS
Feira antiga
e curiosa era a chamada Feira dos Burros que tinha lugar em
Perrães na véspera da festividade de Nossa Senhora das
Febres.
Ali se
vendia gado cavalar e muar predominando este último, facto
que deu o nome à feira. Tivemos conhecimento através de
pessoas naturais de Perrães de que esta não se realiza vai
para uns vinte anos.
FEIRA DOS
CESTOS
À Feira dos
Cestos ainda poderemos dar uma saltada lá para o dia vinte e
três de Agosto, pois, embora com presença muito reduzida
de cesteiros e esteireiras, dado que o número destes é mínimo
no concelho, esta feira ainda tem lugar todos os anos no
Troviscal no dia que antecede a festa de S. Bartolomeu.
Lá, ao som
da música que sempre alegra o recinto, poderemos encontrar
cestos poceiros e de aro, em verga rústica, os quais têm inúmeras
utilizações em casa dos lavradores.
Encontraremos
também as esteiras feitas de tábua, pelas mãos hábeis das
mulheres dos lugares ribeirinhos, Gesta, Perrães e Silveiro
e, embora provenientes de outros sítios, poderemos ainda ali
comprar belos melões e melancias.
Feira em dia de festa.
FEIRA DA
PALHAÇA
A feira da
Palhaça foi e continua a ser a maior e melhor feira do
concelho e será certamente a mais antiga. Ali se pode comprar
e vender quase tudo. A esta feira se deve, em grande parte, o
desenvolvimento da terra.
O grande número
de pessoas que ali afluem nos dias 12 e 29 de cada mês enchem
de vida e animação todo o lugar, trazem novidades de toda a
ordem, e não é apenas comercial e economicamente que o
desenvolvimento chega à Palhaça através da feira, mas sim
num todo global.
A verdade é
que esta se tomou das mais conhecidas, talvez pela localização
privilegiada da Palhaça, local importante de passagem desde
longa data.
Feira da Palhaça. Foto
gentilmente cedida pelo Museu da Palhaça.
Apresentamos
uma fotografia da feira nos princípios do século, mais
propriamente do ano de 1933.
Seguidamente
vamos recordar alguns episódios pitorescos que animavam
esta feira e que hoje já não podem ser presenciados.
Alguns
fizeram furor até à década de 1960, outros terminaram
mais cedo.
- O jogo
da vermelhinha -
Este jogo dava com frequência origem a cenas de grande
discussão e até pancadaria, pelo facto dos jogadores se
sentirem burlados, pois as regras do jogo eram quase
sistematicamente viciadas.
- O “homem
da banha da cobra”-
Enquanto a mulher vendia o unguento e mostrava aos fregueses
como usá-lo, o homem ia lançando os pregões do maravilhoso
produto que ainda hoje cura bicos de papagaio, dores de
costas, irritações de pele, enfim... todos os males que, por
desventura, possam apoquentar o ser humano. O insólito de
tudo isto estava no facto do homem ter, durante todo o tempo,
uma enorme jibóia enroscada no seu corpo que o ia percorrendo
dos pés à cabeça. Esta, que teria um diâmetro muito próximo
dos 15 centímetros, sendo deveras comprida, era exibida como
um dos exemplares donde se poderia extrair a banha, que era
vendida em caixinhas de papel.
Escusado será
dizer que à volta deste charlatão se acotovelava
constantemente grande multidão de curiosos.
- Carteiristas
-
Quem nunca faltava nem falta em nenhum recinto de feiras ou de
festas são os carteiristas; esses porém, são dos poucos
personagens que ainda não passaram à história.
- Borda
d’água, Seringador -
Aqui tínhamos previsão meteorológica a longo prazo,
apregoada pelo vendedor de pequenos opúsculos que ainda hoje
poderemos encontrar.
- Ceguinhos
-
Outra das grandes atracções eram, sem dúvida, os
cantadores; quase sempre pobres ceguinhos que de alforge e
viola às costas, demandavam feiras e outros locais onde se
aglomerasse muita gente.
Traziam
pregados ao casaco e ao alforge, com alfinetes ou molas da
roupa, os folhetos que um moço “de cego” vendia pelos
assistentes enquanto o cego cantava ou apregoava a tragédia
da qual era arauto. Naqueles, em letra impressa, eram
relatados em verso melodramas, fortes paixões que levavam
ao suicídio, crimes passiona is, mortes súbitas e outras
desgraças.
Estas
cantigas, de cunho melodramático, contavam geralmente casos
verídicos ocorridos na região, um tanto fantasiados,
cantadas pelos ceguinhos em estilo de fado. Dado o seu
sensacionalismo tinham muita audiência, formando-se grandes
“adjuntos” ao redor do cantado. Este espectáculo quase
podia comparar-se ao jornal do crime ou a casos de polícia.
Porém, este modo de comunicação tinha vantagens em relação
ao actual: as notícias corriam campos e aldeias e andavam
na boca de toda a gente por muito tempo. Hoje, volvidos mais
de 60 anos, tivemos o gosto de ouvir uma senhora com 83
cantar-nos os seguintes versos, que relembra da sua juventude
e relatam um, de tantos desses dramas.
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Ó
minha mãe venha ver
O Mário no chão estendido
Por causa da Corininha
Deu dois tiros no ouvido.
Corina
estás à janela
Corina eu também estou
Por causa de ti Corina
É que o Mário se matou.
E a mãe
do Mário endoidece
Da sala para a cozinha
Matou-se seu querido Mário
Por causa da Corininha. |
Corina
o Mário morreu
E tu não o foste ver
As coroas que lhe mandaste
Voltaste-as “àrreceber”.
Ó
Corina tira o luto
Que o luto não te está bem
Tu hás-de vestir de luto
Em morrendo a tua mãe.
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