O concelho de Trancoso caracteriza-se morfologicamente por uma vasta
área planáltica, com uma altitude média de 750 m. Variando entre os
450 m no quadrante Sul/Sudoeste e os 950 m na Serra do Pisco a Poente
e a Norte / Nordeste de Matinhos, Pingolinha e Surgaçães, entre
outras.
Este concelho abrange as cabeceiras de duas bacias hidrográficas,
respectivamente a do rio Douro, a Norte, definindo 2/3 do território,
e a do rio Mondego, a sul, ocupando 1/3 da área do concelho. A região
é atravessada por numerosos cursos de água, constituindo pequenas
sub-bacias hidrográficas.
Na região ocidental, o relevo apresenta maiores contrastes,
entrando-se na zona dos primeiros contrafortes do maciço da Estrela;
em seguida, o vale alarga e depara-se com a depressão de Celorico da
Beira, larga bacia de erosão.
O concelho de Trancoso tem 10.636 habitantes (censos preliminares de
2001) e localiza-se na região Centro do País, no distrito da Guarda;
tem uma área de 364,54 km2 e é constituído por 29
freguesias e 72 povoações.
Trancoso foi uma das mais importantes vilas medievais devido à sua
posição estratégica, constituindo um dos pontos de partida para sul na
reconquista cristã.
A posição dominante do castelo actual, com os seus quase novecentos
metros de altitude, faz-nos crer que, desde sempre, essa situação foi
considerada pelos povoadores de todas as épocas. Naturalmente que
Trancoso seria um pequeno povoado e não devia ultrapassar o espaço
intra-muros, que se circunscreveria certamente ao ocupado hoje pelo
castelo e pouco mais. Após a invasão dos godos, a povoação terá
naturalmente evoluído, mas nenhum documento nos permite concluir, nem
a dimensão dessa evolução, nem o seu processamento. Aliás, notícias
sobre Trancoso propriamente dito só nos aparecem no séc. X, no
testamento de D. Flâmula, filha do conde D. Rodrigo, senhora de
imensas terras ao sul do Douro. Tratava-se já de um importante
castelo, embora um dos muitos que a dita dona possuía nesta vasta
região. Depois, em 1059, Fernando "O Magno" de Leão irá reconquistá-lo
aos mouros, que, na sua arrancada de 715 sobre a Península, se
apossaram de quase todo o território e o dominaram durante vários
séculos.
A presença árabe em Trancoso não está perfeitamente esclarecida, mas é
um facto indiscutível que ocuparam o castelo por largo tempo, com
alguns intervalos resultantes das lutas entre cristãos e infiéis, até
que, em 1160, D. Afonso Henriques o conquistou definitivamente.
No séc. XIII, Trancoso começou a ter uma grande importância.
Tornara-se um local de intensa actividade comercial, por força da
periódica reunião de feirantes, donde viria a resultar, ainda nesse
século, por decisão de D. Afonso III, a criação da sua feira franca.
Todavia, é com a escolha de Trancoso para lugar do seu casamento com
D. Isabel de Aragão que D. Dinis confirmará a importância assumida por
esta terra na era de duzentos.
Até 1297, a vila circunscrever-se-ia a uma área de (no máximo) cem
metros em redor do castelo. Verificando, todavia, que a população se
expandia extra-muros, D. Dinis decidiu ampliar-lhe as muralhas,
abrigando a nova cerca, casas e terras que rodeavam a fortificação.
Essa preocupação de redimensionar Trancoso transparece na importante
medida tomada em relação à sua feira franca anual, que, por directiva
de D. Dinis, em 1306, passou a mensal, fixando a sua duração em três
dias.
Assim, como atrás referimos relativamente à acção de Dinis, a vila,
que possuiria dimensões muito restritas e confinadas à área envolvente
do castelo (desaparecidas Portas de S. João à Porta do Carvalho ou de
João Tição), vai ver-se acrescentada com uma boa "fatia" de território
e com o seu limite fixado, no sentido poente - sul - norte até onde
são hoje as Portas d'EI-Rei e do Prado. Esta ampliação, assaz
importante e necessária, permitiu-lhe ainda conseguir duas
contribuições fundamentais para o futuro dimensionamento: o da
formação do vasto bairro judaico e o traçado da famosa via − rua
Direita, depois de Corredoura e presentemente de Dr. Fernandes Vaz −
que há-de demarcar e até dividir todo o característico traçado do
burgo medieval no final de Quatrocentos e mesmo nos séculos seguintes.
Trancoso foi uma das terras que tomou o partido de Mestre de Avis na
crise de 1383/85, acabando por ter que defrontar os castelhanos, derrotados na
Batalha de S. Marcos a 29 de Maio de 1385.
Durante as Invasões Francesas, o General inglês Beresford estabeleceu
aqui o seu Quartel-General, numa casa que ainda se conserva.
Trancoso teve também um papel fundamental no séc. XIX, aquando da
Revolução Liberal.
PATRIMÓNIO
Castelo
Desde meados do séc. X que a região dos extremos ou estremadura estava
pontilhada de castelos e penelas, como se pode comprovar pelo
documento em que D. Flâmula doa os castelos e penelas ao mosteiro de
Guimarães, entre eles os castelos de Trancoso, Moreira de Rei e
Terrenho. O mais notável é o de Trancoso em que a Torre de Menagem é
testemunho único no país, pela sua estrutura tronco-cónica de origem
moçárabe, base da torre que constituía o castelo de D. Flâmula. O
castelo tem cinco torres quadrangulares e a torre de menagem tem a
porta em forma de arco de ferradura. As principais obras de
fortificação foram levadas a cabo entre os séc. X a XIII, quando foi
centro de duros combates. D. Afonso Henriques tomou-o em 1139, mas
suportou diversos ataques muçulmanos até 1155.
Muralhas
Em 1140 e 1160 reconstruíram-se as muralhas exteriores. Para manter os
seus defensores, o rei atribuiu-lhe o foral por volta do ano de 1173 e
doou a terra à Ordem dos Templários, à qual pertenceu até à sua
extinção, no princípio do séc. XIV. A fortificação contava com uma
cerca de muralhas de 1 Km de circunferência, apoiada em 15 torres, sob
as quais, ou a seu lado, se abriam 4 portas: a d'EI-Rei, a de S. João,
a do Prado e a do Carvalho; a estas juntavam-se 3 postigos: o do
Olhinho do Sol, Boeirinho e a Porta da Traição. Sendo uma vila de
fronteira, nunca se descuraram as suas fortificações. D. Dinis ordenou
diversas reformas no conjunto amuralhado e D. João I reforçou-o
durante as guerras com Castela. Por volta de 1530, D. João II mandou
acrescentar-lhe novas torres no lado norte.
Pelourinho
Monumento de granito, pertence ao período manuelino. O elegante fuste
oitavado, assente em quatro degraus, termina num capitel de remate em
gaiola com colunelos adoçados. A cúpula, em forma de pirâmide, é
rematada por uma cruz de cristo de ferro.
Igreja de Nª Srª da Fresta
Primitivamente da invocação de Santa Maria do Sepulcro, é um edifício
de estrutura românica do séc. XII ao qual foram acrescentadas no séc.
XVII a fachada e a torre barrocas. O interior é de uma só nave, cujas
paredes são decoradas por duas pinturas a fresco, bastante
deterioradas. No fresco mais antigo, de pintura monocromática
vermelha, é ainda possível vislumbrar o Anjo da Anunciação. O mais
recente, provavelmente do séc. XVI, representa a adoração dos reis
magos.
Igreja de Stª Maria
Matriz, pertencente outrora à Colegiada de Guimarães. Raiz românica.
Reconstrução em 1784 e 1788.
Igreja de S. Pedro
Restaurada entre 1720 e 1728, tem fachada de cantaria com pórtico
singelo e frontão de volutas. A torre barroca, com zimbório e
pináculos, foi construída a partir de 1755. No interior são dignos de
nota os altares, também barrocos, uma imagem da Pietá e, como pormenor
histórico curioso, a pedra tumular da sepultura de Gonçalo Anes, o
Bandarra, célebre sapateiro e poeta popular, autor das trovas que
profetizavam o regresso de D. Sebastião.
Igreja da Misericórdia
O actual templo deve datar de 1747. A porta principal é encimada pelo
escudo real. O altar-mor é em estilo filipino. Presume-se que esta
igreja tenha demorado 45 anos a ser construída. A antiga Misericórdia
possuía neste local um oratório com duas portas grandes, onde se
celebravam actos de culto, uma casa de despacho e uma sacristia.
Capela de S. Bartolomeu
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Templo reconstruído sobre um anteriormente existente. A
reconstrução de 1778 é em memória dos esponsais de D. Dinis e
Isabel de Aragão. |
É um templo sobrepujado por uma cruz e com seis pináculos nos recortes
dos cunhais, com base hexagonal. O frontão é belo e tem na parede sul
uma lápide em azulejos, evocativa do casamento real.
Capela de Stª Eufémia
É um monumento setecentista, de planta hexagonal com um pontão
sobrepujante na alçada principal e encimado por uma cruz. Foi
construído em 1776 por um dos frades franciscanos do convento, sendo
as obras custeadas com esmolas da população. Está bem conservada e
encontra-se no campo da feira, ladeada por frondosas árvores.
Capela de Stª Luzia
É um templo de estilo românico de transição, provavelmente do séc.
XIII. Na fachada pode ser admirado um portal de volta plena que
pertenceu ao desaparecido Convento de Santa Clara e foi para aqui
transferido em 1820. Uma cachorrada disposta ao longo da cornija
percorre todo o exterior da cabeceira. O interior é de uma só nave,
terminando numa abside triangular.
Capela do Sr. da Calçada
À saída das Portas de S. João (demolida), em frente do cruzeiro do Sr.
do Loreto, está situada a capela com torre sineira e cruz encimando a
fachada e outro crucifixo do lado oposto, no remate do telhado. É um
pequeno templo em granito.
Convento dos Frades Franciscanos
Fundado no séc. XVI, o portal de colunas caneladas, ao gosto toscano,
tem os capitéis reduzidos ao ábaco. A arquitrave remata com pirâmides
e bolas.
Palácio Ducal
Edifício dos finais do séc. XVIII. O facto de este palácio ser
conhecido correntemente por Palácio Ducal, apesar dos moradores terem
o título de Viscondes, deve-se possivelmente ao facto do 2° Visconde
Bartolomeu Menezes ter casado em segundas núpcias com a Duquesa de
Pozen. Esta é a única referência a duques no palácio.
Quartel do General Beresford
Casa do séc. XIV, com alpendre sustentado por colunas, foi
quartel-general durante a campanha que opôs as forças anglo-Iusas
contra os invasores franceses. Foi quartel-general de Beresford, conde
de Trancoso e comandante-chefe das tropas anglo-Iusas.
Cruzeiro do Sr. da Boa Morte
É um cruzeiro coberto com abóbada assente sobre quatro colunas,
mandado cobrir em 1729 pelo Padre Matias Álvares, ajudado pelo povo.
Situava-se em frente das Portas do Prado, tendo sido deslocado mais
para norte, por motivo de obras no local. O crucifixo é em granito.
Fonte Nova
Erguida em 1589, é uma curiosa construção de estrutura clássica em
forma de templete grego sustentado por colunas dóricas.
Sepulturas antropomórficas
Conjunto de sepulturas escavadas na rocha de tipo antropomórfico,
formando uma importante necrópole da Alta Idade Média.
Via antiga do Sintrão
Situa-se numa anexa da freguesia de Stª Maria de Trancoso.
PATRIMÓNIO CLASSIFICADO
Castelo e Muralhas
− Classificados como Monumento Nacional por Dec. Lei n.º 7586 de
08/07/1921.
Pelourinho
− Classificado como Monumento Nacional por Dec. Lei de 16/06/1910.
Planalto da Batalha de São Marcos
− A Ministra da Cultura, Drª Maria João Bustorff, homologou em 4 de
Outubro de 2004 a classificação como Monumento Nacional do Campo da
Batalha de São Marcos, local onde teve lugar a famosa batalha de 29 de
Maio de 1385. Encontra-se em vias de classificação.
Igreja de Nª Srª da Fresta
− Classificada como Imóvel de Interesse Público por Dec. Lei n.º 33587
de 27/03/1944.
Capela de Stª Luzia
− Classificada como Imóvel de Interesse Público por Dec. Lei n.º 39175
de 17/04/1953.
Sepulturas Antropomórficas
− Classificadas como Imóvel de Interesse Público por Dec. Lei n.º
95178 de 12/09/1978.
Via Antiga do Sintrão
− Classificada como Imóvel de Interesse Público por Dec. Lei n.º 67 de
31/12/1997
Centro Histórico de Trancoso e Zona de Protecção
− Portaria n.º 578 de 05/06/93.
Parque Municipal
− Está classificado como Arvoredo de Interesse Público em Diário da
República, Série II, nº 119, de 21/05/2004.
Tília do Largo de Santa Maria de Guimarães
− Está classificada como Arvoredo de Interesse Público em Diário da
República, SérieII, n.º 119, de 21/05/2004.
CONCELHO
MOREIRA DE REI
Castelo
− Castelo construído sobre escarpa bastante pronunciada. Restam alguns
panos de muralha e vestígios da Torre de Menagem. Classificado como
Monumento Nacional por Decreto-lei, n.º 21354 de 13/06/1932.
Pelourinho
− Data do séc. XVI, do tipo gaiola, todo em granito, formado por uma
coluna oitavada assente em cinco escaleiras.O capitel de gaiola é
encimado por cúpula piramidal. Está classificado como Monumento
Nacional por Decreto-lei, n.º 21354 de 13/06/32.
Igreja de Santa Marinha e Sepulturas Antropomórficas
− A igreja data do séc. XII. A fachada apresenta um portal de
arquivoltas, cachorrada e a decoração simbólica do estilo românico, na
porta principal estão gravadas medidas padrão medievais (côvado, braça
e pé). O interior é de uma só nave.
Abertas na rocha granítica em que assenta parte da Igreja de Santa
Marinha vêem-se sepulturas escavadas na rocha do tipo antropomórfico.
Estão classificadas como Monumento Nacional por Decreto-Iei, n.º 21354
de 13/06/1932.
TORRE DE TERRENHO
Solar dos Brasis
− Casa fidalga, datada do séc. XVIII, com capela em talha dourada.
Classificado como Imóvel de Interesse Público por Decreto-Lei, n.º 129
de 29/09/1977.
Igreja Matriz − Igreja com altar em talha dourada. Classificado
como ImóÓvel de Interesse Público por Decreto-lei, n.º 129 de
29/09/1977.
GUILHEIRO
Pelourinho
− Data do séc. XVI, do tipo cruzeiro. Está classificado como Imóvel de
Interesse Público por Decreto-Lei, n.º 23122 de 11/03/1933.
SÍTIOS OU LOCAIS PAISAGÍSTICOS COM INTERESSE
•
Capela de S. Pedro (Cótimos)
•
Quinta do Ferro (Rio de Mel)
•
Barragem da Teja (Terrenho)
•
Serra do Pisco
•
Castelo (Moreira de Rei)
•
Rochedo da Pena (Guilheiro)
•
Capela de S. Pedro (Tamanhos)
GASTRONOMIA
A gastronomia é extremamente variada, destacando-se o "Bacalhau à S.
Marcos", o "Cabrito assado no forno", o "Ensopado de míscaros" e as
"Sardinhas doces", bem como os vinhos da Adega Cooperativa de Vila
Franca das Naves e o queijo da serra produzido no concelho.
ARTESANATO
Velas de cera; tecelagem; artigos de couro; serralharia artística e
pintura em porcelana e azulejo.
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