VOCABULÁRIO
Aloquete — Cadeado
Azeiteiro — Aquele que vive à custa de prostitutas
Benha — Diz-se repetidas vezes, e é o grito de
guerra dos arrumadores de carros para assinalar um lugar
vago entre muitos outros disponíveis. É um «beinha» que
prosaicamente significa «venha»
Botar — Pôr, deitar
Breca — Cãibra
Burgesso — Aquele que, além de burro, é teimoso
Canalha — Miúdos, catraios
Calcantes — Sapatos
Cimbalino — Café
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Carago — Na
verdade é caraças o que mais se utiliza para referir de
forma metafórica o órgão sexual masculino
Cruzeta — Cabide
Chuço — Guarda-chuva
Estrugido — Refogado
Fino — Cerveja servida a copo
Infusa — Jarro
Moina — Polícia
Molete — Pão, carcaça
Mor — Termo utilizado pelas vendedeiras.
Abreviatura de «amor»; forma carinhosa de chamar o cliente
Morcão — Palerma
Perseguida — Órgão sexual da mulher
Sameira — Cápsula de refrigerante
Vagem — Feijão verde |
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A INSISTÊNCIA de um
certo humor televisivo lisboeta na exploração das particularidades
fonéticas do modo de falar do Porto é eficaz como caricatura, mas
tem o inconveniente de apresentar uma visão redutora de um
fenómeno extensível a todo o País, e não exclusivo de uma dada
região. O facto de ser o Porto a fonte inspiradora da graça a
partir dos sons das palavras poderia ter várias explicações de
raízes sociológicas, logo a começar pela natural rivalidade entre
os dois principais centros urbanos, com passagem pela eterna
questão da norma imposta pelo poder.
Fosse o Porto a
sede do poder político e dos grandes órgãos de comunicação social
difusores daquilo que se supõe ser o modo correcto de falar e, por
certo, lá estariam os lisboetas a ser massacrados pelo modo como,
por exemplo, acentuam o «u» em final de palavra.
Gil Vicente, no
auto pastoril A Visitação, para fazer graça junto do rei
imitava o falar das beiras, região onde, na altura, se situava
algum do contra-poder à corte situada na capital. Os linguistas e
foneticistas costumam relativizar a importância destas questões, e
Armando Lacerda, considerado um dos maiores foneticistas da língua
portuguesa, duriense assumido, gabava-se em Coimbra, onde dava
aulas, de pertencer a uma cidade que tinha honra em guardar o seu
sotaque. Ele próprio não fazia qualquer esforço para amenizar os
ditongos.
Mais recentemente,
Mário Vilela, catedrático da Faculdade de Letras do Porto e um dos
grandes especialistas nesta área, fez uma experiência junto do
corpo docente da escola, para avaliar até que ponto se verificava
ou não, num sector mais culto, um assinalável afastamento dos
traços distintivos do característico falar do Porto. O resultado
foi elucidativo: a generalidade dos professores naturais do Porto
assume com naturalidade que na sua linguagem estão presentes os
traços identificadores da fonética portuense. Mário Vilela afirma
que esta situação é reveladora da «auto-estima que as pessoas
sentem pelos seus modos de ser, viver e falar».
O que distingue o
falar do Porto, mais que a maior ou menor criatividade de algumas
expressões populares — aliás presente em todo o País — é a
fonética. Os órgãos que articulam a fala dos portuenses são
rigorosamente iguais aos de qualquer português. Contudo, talvez
por influência de réstias de uma língua anterior ao
galaico-português, no Porto os «b», por exemplo, são mais fortes e
sobrepõem -se aos «v». Daí resulta o «binhu» (vinho), «barãnda»
(varanda), «biána» (Viana) ou «bibu» (vivo).
Os ditongos «ão» ou
«õe» são muito acentuados e prolongam-se mais que em outras
regiões. Para dizer limão, irmão, Bolhão ou cartão, um habitante
do Grande Porto pode transformar um dissílabo num trissílabo ao
acrescentar um «e» fechado e anasalado no final da palavra. A
transcrição fonética permitiria entender este fenómeno em toda a
sua extensão, mas não é perceptível pelo comum dos leitores, pelo
que nos dispensamos de avançar aqui com um exercício quase
académico.
É possível detectar
fenómenos semelhantes em palavras como fonte ou morto. Um
portuense de Miragaia ou da Sé — áreas onde se mantém com mais
força este traço de identidade — acrescentará uma espécie de «u»
antes dos «o» fechados de fonte e morto. No limite, uma palavra
como ponte quase parecerá «põente», na boca de um residente na
Bainhana.
E aqui temos uma
outra faceta. Em palavras onde se encontram as palatais «lh», como
telha ou palha, teremos «teilha» ou «pailha», como «beiju» para
referir «vejo». Estes exemplos ilustram um modo de falar que tem
vindo a perder-se, devido à influência normalizadora da televisão
e da rádio. Ninguém espere, por isso, chegar ao Porto e tropeçar
em portuenses que trocam os «b» pelos «v» e apresentam um sotaque
muito cerrado e acentuado. Uma outra particularidade do falar do
Porto, e nem sempre entendido para quem chega, é o modo
descomplexado e até com sentido majorativo como são utilizadas
palavras e expressões que noutros locais são tidos como grandes
palavrões. Não é invulgar ouvir uma amigo dizer a outro, dando-lhe
uma palmada nas costas: «Anda cá, meu filho da puta...» Tal
como não é uma coisa do outro mundo presenciar uma mãe a
regalar-se com uma tropelia do filho, chamando-lhe carinhosamente
«cabrão do caraças».
Este jeito singular
de criar expressões estranhas, com frequência brejeiras, muito
explorado nos bairros populares, não tem qualquer carga negativa e
constitui, muitas vezes, um factor de socialização. Nas duas
caixas inventariamos algumas frases e expressões idiomáticas
utilizadas no Porto ou na sua área de influência. Como se vê, há
uma preponderância de frases e termos que jamais teriam lugar no
baile de debutantes do Clube Portuense. Algumas são
inequivocamente do Porto, outras terão sido assimiladas, mas em
nenhum lado são ditas como aqui. E é esse modo muito particular de
dizer que faz com que se tornem propriedade da comunidade de
falantes portuenses.
EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS
Chá de Bico —
Clister
Deu-lhe a filoxera — Desmaiou
Dar corda aos vitorinos — Andar rápido, fugir
Dói-me o garfeiro todo — Doem-me os dentes
Estar com os vitorinos encharcados — Estar bêbado
Estar de beiços — estar amuado
Falar ao microfone — O que é suposto Monica
Lewinsky ter feito a Clinton e que o Presidente dos EUA
alega não ter sido uma relação sexual
Foi fazer tijolos — Morreu |
Foi medir caixotes — Morreu
Mandar uma traulitada
directa à caixa dos fusíveis — Dar um murro nas
ventas, quer dizer, no focinho, ou seja, na cabeça
Narizinho de cheiro ou de caticha — Diz-se de
alguém que se ofende facilmente
Secou-se-lhe o céu da boca — Morreu
Vai no Batalha — Como quem diz: isso é filme; forma
mais prosaica de dizer que é mentira
Vai à postura — vai até à praça de táxi
Via de serventia — expressão das mulheres do povo
na sua relação com os ginecologistas |
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