In: "65º Aniversário do – Comemorações em Aveiro", Aveiro, 1956, 24 pp.

31 de Janeiro de 1891

«Transcrição de todos os textos inseridos pela mesma ordem em que entraram para composição do opúsculo então publicado.»

 

Listagem dos diferentes autores

  - Diferentes Comissões
  - Dr. José Lopes de Oliveira
  - Dr. António Luís Gomes
  - Dr. Manuel Rodrigues Lapa
  - Dr. Humberto Lopes
  - Dr. Eduardo F. dos Santos Silva
  - Dr. José Domingues dos Santos
  - Prof. Dr. Ruy Luís Gomes
  - Dr. Joaquim de Araújo Cotta
    - Prof. Dr. Mário de Azevedo Gomes
    - Ferreira de Castro
    - Almirante Tito de Morais
    - Professor César Anjo
    - Dr. Fernando Namora
    - Alexandre Cabral
    - Manuel Mendes
    - Papiniano Carlos
    - Dr. Vergílio Ferreira
    - Carvalhão Duarte
    - Eng.ª Virgínia Moura
    - Arq. António Lobão Vital
    - Dr. Ramos de Almeida
    - Dr. Augusto César Anjo
    - Dr.ª Maria Isabel d’Aboim Inglez
    - Dr. Armando Cotta
    - Dr. António Macedo
    - Silas Coutinho Cerqueira
    - Prof. Dr. Barbosa de Magalhães
    - Dr. Eduardo Ralha
    - Manuel Lavrador
    - Dr. Alberto Vilaça
    - Carlos de Morais
    - PROGRAMA

COMISSÃO DE HONRA

Doutor António Luís Gomes
Escritor Ferreira de Castro
Prof. Dr. Rodrigues Lapa
Prof. Dr. Barbosa de Magalhães
Coronel Cunha e Costa
Dr. Ângelo Miranda
Dr. José Lopes de Oliveira
Dr. Eugénio Ribeiro
Dr. Elísio Sucena
Dr. João Salema
Armando Castela
Dr. Manuel Rodrigues da Cruz
Dr. Manuel das Neves
Dr. Vergílio Pereira da Silva
Capitão Joaquim José de Santana
Dr. Ferreira da Costa
Manuel Lavrador
Tiago Ribeiro.

COMISSÃO PROMOTORA

Dr. Arala Chaves
Dr. José Rodrigues
Dr. Oliveira e Silva
Dr. Dionísio Vidal
Eng. João Seiça Neves
Dr.ª Eduarda Senos
Arq. Aristeu Gonçalves
Dr. Alcides Strecht Monteiro
Dr. Joaquim Pinheiro de Morais
Dr. Francisco Rendeiro
Dr. Mário Duque
Firmino Brito da Costa
António Osório
Joaquim Dias Baptista
Diamantino Pereira da Cruz
Manuel Reis Pedreiras
Sérgio Pinheiro de Aguiar
Manuel de Pinho e Melo
Dr. Manuel Pato

COMISSÃO EXECUTIVA

Dr. Álvaro de Seiça Neves
João Sarabando
Dr. Júlio Calisto
Dr. Manuel da Costa e Melo
Dr. Mário Sacramento

 


O 31 de Janeiro

Com o Ultimatum que a Inglaterra dirigiu a Portugal, todos os sinceros patriotas vibraram, com alma confrangida, em protesto contra esse inesperado gesto, e em revolta contra a inércia do governo que então presidia aos destinos da Nação. E deste vibrar convulsivo adveio a revolução de 31 de Janeiro de 1891, essa prometedora alvorada que os portugueses acolheram com estridentes vivas e calorosos aplausos quando as tropas revolucionárias desciam a rua do Amada em direcção à Praça Nova, hoje Praça da Liberdade. A revolta, porém, baqueou pela excessiva confiança que o chefe militar depositou no comandante de Infantaria 18, que atraiçoou o seu juramento de fidelidade ao movimento; pelo facto de os revolucionários não terem providenciado no sentido de que da Serra do Pilar saísse, como estava combinado, o regimento de artilharia; e, sobretudo, pelas divergências existentes entre os republicanos. Foi esta última causa o factor dominante da derrota, o qual converteu as esperançosas alegrias do alvorecer em lágrimas e sangue.

Se existisse, de facto, a Unidade Republicana, a revolução do 31 de Janeiro teria sido vitoriosa, a República teria sido proclamada e a Pátria seria libertada da exploração, da opressão e do vexame com que a monarquia a vinha supliciando e continuou a supliciar.

Que foi a inexistência da Unidade Republicana que mais contribuiu para a derrota, confirmam-no os seguintes factos históricos: a revolução de 5 de Outubro de 1910, as incursões monárquicas na fronteira norte do País, a escalada do Monsanto e a Traulitânia.

Todas essas vitórias se devem à Unidade Republicana. É pois impreterível necessidade a sólida existência desta Unidade, para que a República Portuguesa seja uma palpável realidade e desempenhe cabalmente a sua alta missão patriótica, sempre exposta na propaganda republicana por homens cujo aprumo, dignidade, valor e competência eram e são incontestáveis.

Infelizmente, há republicanos que contrariam a Unidade Republicana (embora conheçam perfeitamente a verdade dos factos aqui apontados), quando, à face do imperativo dever, todos os republicanos devem congraçar os seus esforços na defesa dos princípios fundamentais da República e da Democracia, princípios sintetizados na trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Se desta trilogia for Amputada a Fraternidade, isso equivale à sua completa destruição, visto que uma família não pode viver em paz e activra o seu progresso, material e social, se os seus componentes não conjugarem, com igualdade de sacrifícios, os seus esforços a bem do lar.

É erro gravíssimo e imperdoável o procedimento de tais republicanos, pois transformam-se em auxiliares dos inimigos da República e da Democracia.

Os republicanos que não cooperam na Unidade Republicana ou a contrariam, com nitidez revelam que a sua alma não sente o acrisolado amor à República e à Democracia e provam sem dúvida que são injustos e cruéis com o Directório do velho Partido Republicano Português, o qual, solidificando a Unidade Republicana, organizou a revolução do 5 de Outubro e, como lógica consequência, combatem as conquistas do 5 de Outubro e do 31 de Janeiro, factos heróicos que entatecem [sic] a beleza da alma lusa.

Os heróis e mártires destas duas revoluções merecem a todos os republicanos a maior veneração, e não o seu repúdio.

Comemorar, UNIDOS, a gloriosa data de 31 de Janeiro de 1891, é portanto um sacrossanto dever de todos os indefectíveis republicanos e de todos os verdadeiros patriotas.

Janeiro de 1956
Dr. José Lopes de Oliveira


A minha homenagem aos Combatentes de 31 de Janeiro de 1891

O único título com que posso condecorar-me é o de ter sido sempre fiel à causa da República, não havendo concorrido até aqui para perturbar a sua marcha pela influência de qualquer ambição pessoal.

Tenho tido tremendas desilusões com os homens, mas nunca descri dos princípios republicanos, à roda dos quais constitui a minha formação moral e jurídica, e sinto que nada há mais belo no mundo que a verdadeira democracia. O que é difícil é servi-Ia com desassombro e desinteresse, lutando sempre para defender os fracos e oprimidos pelos grandes da terra, que com as suas torpezas e violências são os maiores culpados dos infortúnios e desgraças dos povos que suportam o peso das suas tiranias!

Esta comemoração de 31 de Janeiro deve servir para despertar na consciência dos verdadeiros democratas portugueses a obrigação de trabalharem denodadamente para não deixar perder as liberdades fundamentais que uma vez perdidas muito custa a reconquistar aos inimigos da liberdade e da justiça.

Os povos que deixam escravizar o seu pensamento desonram-se por si e quase sempre recebem o castigo da sua servidão política. É por aí que começa a decadência das nações!

Doutor António Luís Gomes


Para o 31 de Janeiro

Aviso a todos os tiranos, que supõem jugular com o uso da força bruta os grandes movimentos libertadores. Só aparentemente se domina uma revolução que tem as suas raízes nos profundos anseios da alma popular. A Monarquia em 1891 atraiçoara o País e tinha os seus dias contados. Parasita da Nação, arrastou durante 20 anos uma vida miserável, até que sucumbiu em 1910. O sangue dos mártires do 31 de Janeiro de 1891 tinha feito reflorir a terra generosa. Era a vitória dos vencidos. Valera a pena lutar, valera a pena morrer.

Prof. Dr. Manuel Rodrigues Lapa


Actualidade do 31 de Janeiro

Os homens do movimento do Porto queriam salvar o País da derrocada; lutar contra um regime corrompido e incapaz; protestar, patrioticamente, contra a submissão ao imperialismo estrangeiro; fundar novas instituições políticas de raiz popular; impulsionar audaciosamente o País no caminho do Progresso, da Paz, da Cultura e da Independência Nacional.

O seu gesto e a sua luta não podiam ser mais actuais e os democratas modernos, ao comemorá-los, pagam apenas, e em pequena parte, aos antepassados, um alto exemplo e uma nobre lição de verdadeiro amor da Pátria.

Dr. Humberto Lopes


Relembrando...

O 31 de Janeiro não foi uma simples revolta militar, com o intuito de apoiar uma reivindicação política. Foi, sim, um consciente e abnegado sacrifício por uma ideia, revelador da profundidade que tinha atingido o movimento de emancipação cívica iniciado uns vinte anos atrás, o qual já ultrapassava as aspirações expressas no programa do Partido Republicano, de 1876, que se limitavam «ao desenvolvimento gradual e benéfico das ideias democráticas nas instituições do País», mercê duma doutrinação elevada e generosa.

Acontecimentos políticos vários tinham criado, em 91, um estado de espírito público que forçava aquele movimento a passar, bruscamente, da fase de evolução lenta para outra de acção imediata, revolucionária. O forte choque emotivo do ultimatum inglês de 1890, que a todos os portugueses unira na ânsia de rasgarem novos horizontes à vida da Nação, só não fora sentido pelos governantes.

A separação entre o País e a Realeza — único sustentáculo dos governos — era total e irremediável.

A Monarquia constituía o estorvo fundamental a remover, para se poder conseguir o ressurgimento nacional.

Os homens de 31 de Janeiro tiveram a coragem de pôr este grave problema ao País, em toda a sua rude nudez.

A República recebeu em 31 de Janeiro o seu baptismo de fogo: por ela portugueses morreram ou sofreram prisões, o degredo, o exílio.

Vinte anos depois — em 1910 — a República irrompeu, pura, fulgurante!

Os precursores da República bateram-se com galhardia, e souberam ser vencidos com dignidade e altivez.

Não os esqueceu nunca a alma popular e, de geração a geração, se vai transmitindo o respeito com que é consagrada a sua memória.

Em 1902, a geração académica a que pertenceu o insigne e malogrado escritor Manuel Laranjeira comemorou a data de 31 de Janeiro, gravando, em placa de bronze, maravilhosas e proféticas palavras, que aquele brilhante espírito ditou, e que neste momento não quero deixar de relembrar, por elas, na sua transcendência, serem de firme esperança em novos e melhores dias:

«SANGUE DE VENCIDOS,

            SEMENTE DE LUZ!

                  — GERMINA!»

Janeiro de 1956
Dr. Eduardo F. dos Santos Silva


Uma ideia-força

O «31 de Janeiro» é um exemplo de coragem e devoção cívica. Como tal, um incentivo para os vindouros, uma ideia-força.

Foi mais do que um grito de revolta abafado pela força; foi antes uma sementeira de ideias que germinaram e frutificaram. Custou lágrimas, sacrifícios e sangue. Todas as ideias salvadoras partem do sofrimento e de uma crise.

Mas uma das virtudes daquela Revolução foi ter despertado, pelo sobressalto que provocou, o espírito de Liberdade na vida nacional, permitindo-lhe tomar consciência da sua própria consciência, do seu verdadeiro destino e das suas possibilidades.

Os heróis do «31 de Janeiro» demonstraram assim, pelo seu exemplo, que não há impossíveis na vida dos povos, nem dificuldades insuperáveis e que a resignação a uma vida de mediocridade, sem horizontes e sem esperanças, é a mais desoladora atitude que o homem pode tomar.

Após a crise que o medo origina, vem sempre a hora da compreensão em que o homem sente a sua dignidade abastardada e recupera a consciência dos seus direitos e dos seus deveres.

A libertação é o fruto desse despertar de consciências.

Dr. José Domingues dos Santos


A Revolução de 31 de Janeiro

Para compreender o 31 de Janeiro e todo o valor de libertação que esse movimento popular ainda hoje encerra, basta ter presente que a luta pela independência nacional se desenvolve actualmente, na Europa, na Ásia, na África e na América, a partir de princípios idênticos aos de 1891.

Agora como então a bandeira da independência nacional contra o imperialismo é a nossa bandeira, a bandeira da República!

E se a Revolução de 31 de Janeiro não triunfou, a explicação deve procurar-se nas razões circunstanciais que impediram se fizesse a unidade das forças liberais com a classe operária.

Por isso, ao recordar o 31 de Janeiro de 1891, a nossa palavra de ordem, nas actuais condições históricas, não pode ser senão a do Directório do Partido Republicano no célebre manifesto de 11 de Janeiro daquele ano:

«Uma só vontade nos una...»

Porto, 21 de Janeiro de 1956
Prof. Dr. Ruy Luís Gomes



LUÍS SOARES

Operário-serralheiro, nasceu a 29 de Março de 1858 em Rogo, Vale de Cambra. Faleceu a 2 de Maio de 1954 em Ínsua, Carregosa, Oliveira de Azeméis, com 96 anos e no pleno gozo das suas faculdades. Fez parte do grupo que primeiro ocupou o edifício da Câmara Municipal. A ele recorreu Basílio Teles (como conta no seu livro «Do Ultimatum ao 31 de Janeiro») numa derradeira tentativa de salvar o movimento revolucionário pela mobilização da classe operária.

Gravura obsequiosamente cedida pela redacção do Jornal “República”.


Janeiro de 1891  - Janeiro de 1956

A Revolução do «31 de Janeiro» foi, então, a arrancada patriótica e heróica de um punhado de Portugueses que se sacrificou pelo seu ideal, pela sua consciência amarfanhada de cidadãos indefectíveis, pela compreensão clara dos seus deveres de cidadania.

Solidários e leais, todos imolaram, à devoção pela Pátria, a pureza das suas convicções e a honestidade das suas afirmações cívicas.

A jornada foi o preciso abalo, que devia acordar do entorpecimento em que vivia, um País absolutamente seguro do seu destino, e, então como hoje, pleno de energia latente.

Janeiro de 1956
Dr. Joaquim de Araújo Cotta


31 de Janeiro de 1956

Quando a minha geração, na idade juvenil, assistiu entusiasmada ao advento da Primeira República, já então para nós o «31 de Janeiro», perdida a vibração própria, figurava quase apenas de curto episódio, arrumado nos arquivos da história pátria. Como haverão de considerá-lo os novos de hoje, a geração que por sua vez aí desperta para a vida pública e equivale àquela mocidade brava de 1910? Todavia, existe um episódio distante, a dar-lhe carácter de merecida perenidade na lembrança dos portugueses, qualquer coisa que, através dos tempos e numa continuidade fácil de encontrar-se perante outros passos da história, tem a força educativa na formação dos jovens, pois revela uma das melhores facetas do carácter deste povo. Essa qualquer coisa que se transmite, constitui norma constante de vida e direito nacional que se não discute, é que: querem os portugueses mandar, eles só, em sua própria casa, não toleram as intervenções estranhas e batem-se onde for preciso pela independência total. Todas as formas de condomínio, de influência directiva na vida interna vinda donde quer, na ideologia como na materialidade, por mais disfarçados e por mais hábeis, são-nos hostis e provocam reacções com que é preciso, sempre, contar.

Entendido que a independência total a que se alude implica, antes de mais, que a vida interna se organize na base democrática, num pleno ajustamento de direitos e deveres ao pensamento soberano de que não distingue a Pátria una entre os seus filhos, e assim os não devem distinguir nem o poder, nem a lei.

Prof. Dr. Mário de Azevedo Gomes


Eu estou contente de haver nascido no distrito de Aveiro, porque o distrito de Aveiro ama a Liberdade. Portugal inteiro ama a Liberdade e não são poucos os sacrifícios que ele lhe tem devotado; mas, entre as regiões que a amam mais fervorosamente, o distrito de Aveiro ocupa sempre um dos primeiros lugares. Sabemo-lo nós e sabem-no até os inimigos da Liberdade. Muitas vezes tenho perguntado a mim próprio porque os habitantes destas aldeias do distrito, perdidas nas suas montanhas ou nas suas várzeas, gente humilde, em grande parte analfabeta, que trabalha de sol a sol e cuja única preocupação parece ser, pela própria força da sua miséria, o pão de cada dia, ama tanto a liberdade, ela que não escreve, ela que não exerce actividade política, ela que não pensou jamais chegar à glória ou ao governo?

Muitas vezes tenho perguntado isto a mim próprio e a resposta é sempre a mesma. Há, na história humana, muitos homens que sacrificaram os seus bens, a sua situação social, a sua própria vida pela liberdade; mas a liberdade é, sobretudo, um sentimento daqueles que não têm grandes bens a perder, que não exploram o seu semelhante, que vivem à margem das grandes operações financeiras, dos grandes negócios, das grandes transacções com o sangue e com o trabalho de outros homens.

Foi na terra em que nasci que esse sentimento, fundamental na minha vida, se inoculou em mim. Foi lá também, no vale alacre e inesquecível, que eu aprendi, desde os primeiros dias da minha existência, a conhecer o que é a vida do povo português que ama a liberdade, o que é a sua pobreza que se herda e lega como uma tara. Foi lá que se expôs aos meus olhos, pela primeira vez, este grande problema do mundo contemporâneo, esta imensa injustiça social que pesa sobre a maioria dos homens e que é necessário que finde.

Ferreira de Castro


TRINTA E UM DE JANEIRO, primeiro brado indignado de protesto, altivo e solene da ALMA PORTUGUESA contra um regime político que conduzia a Nação para o abismo e não soube evitar a grande afronta do «ultimatum» inglês.

Devem, portanto, o Movimento Revolucionário que essa data representa e a Memória dos que nele heroicamente intervieram, merecer a admiração e o reconhecimento eternos de todos os bons Portugueses,

Almirante Tito de Morais


O 31 de Janeiro

Jamais um nobre Ideal triunfou sem que lágrimas e sangue tenham fertilizado o campo sagrado, donde brotam as flores do Sentimento.

A Vida nasce da Dor. O 31 de Janeiro, epopeia de martírio, era, pois, necessário para o triunfo da Causa Republicana.

O ultimatum vibrara na Alma Nacional como a dor duma vergastada forte nas carnes em ferida. No Porto, cidade escrínio do instinto de conservação e independência do Povo Português, a indignação passou à Revolta.

Foram vencidos os revoltosos. Os vencidos, porém, quando lutaram pela Liberdade e pela Justiça sempre venceram, mais tarde. Nada poderá evitar tal triunfo.

Os vencidos de 31 de Janeiro foram os vencedores de 5 de Outubro.

Professor César Anjo


Mais do que a primeira tentativa para a proclamação da República em Portugal, o 31 de Janeiro de 1891 representa a primeira manifestação estruturada da consciência republicana do país e da participação activa do povo nos interesses que tem o direito e o dever de defender.

Dr. Fernando Namora


A gloriosa jornada do 31 de Janeiro de 1891 simboliza para os democratas a justeza dos belos princípios que defendem, enraizados na mais profunda tradição liberal da nossa História.

Lembrar esta data, e comemorá-la, é prestar uma homenagem aos denodados patriotas de 91, ao mesmo tempo que proclamar os nossos mais veementes propósitos de conquistar a Felicidade e o Bem-Estar para o Povo Português, lutando contra a Arbitrariedade, a Censura e a Instabilidade.

Manifestamos ainda, desse modo, os nossos desejos de Paz, de Intercâmbio Cultural e Coexistência Pacífica com todos os Povos do Mundo.

Alexandre Cabral


A Revolta do Porto de 1891 é o primeiro clarão da República Portuguesa. Tantos anos passados, não são apenas os vultos do Alves da Veiga, do Sampaio Bruno, do Basílio Teles, do sargento Abílio, do João Chagas e do tenente Coelho que persistem na sua lição exemplar. Não são só os acordes de «A Portuguesa» e pouco tempo depois a estrofes admiráveis da «Pátria» do Junqueiro... É a soberba legião dos emigrados que fugiram para Espanha e para França, dos degredados da África, é a longa lista dos bons homens condenados — os cidadãos anónimos, os soldados, os cabos e os sargentos da insurreição —, e aqueles rapazes de Coimbra, muitos dos quais haviam de implantar a República em Outubro de 1910.

Nesta aliança e no quadro dos sacrifícios, é que nós nos queremos ver como num espelho.

Manuel Mendes


O sonho ardente dos patriotas de 31 de Janeiro não morreu ainda no coração do Povo Português.

Para além da derrota e do cárcere, a luz que nessa madrugada se acendeu nas ruas do Porto continua viva e indestrutível na alma popular.

O Povo Português «sabe» que só realizando a República e a Democracia encontrará o caminho da sua completa emancipação.

Papiniano Carlos


O sonho dos de «31 de Janeiro» não esquece nem se esgota: é o sinal último do homem vivo — a Esperança. Força elementar de uma aspiração eterna, reviverá sempre depois do que à sua imagem recriar. Assim nós descobrimos a exaltadora certeza de que a dignidade do homem não morre.

Dr. Vergílio Ferreira


Em homenagem à memória dos Mártires de 31 de Janeiro

A velha monarquia chegara ao ponto de não poder já manter elevado ao devido nível o expoente da honra, do prestígio e da dignidade nacional.



José Sampaio (Bruno)

Os desregramentos da dinastia brigantina e os acumulados erros de administração ameaçavam precipitar o País nos abismos da bancarrota.

Longa e desastrosa prova levara, na verdade, à conclusão de que a monarquia se tornara impotente para redimir a Pátria das afrontas e vexames que a macularam e de realizar a obra de renovação política, económica e social que se impunha e a Nação reclamava.

No entanto os partidários do velho regime, na ânsia louca de se conservarem senhores do poder, impediam o exercício das fundamentais liberdades públicas, ao mesmo tempo que usavam dos mais brutais processos de violência.

Tomaram pelo pior caminho, pelo que a sua queda se tornou inevitável.

Foi a nobre cidade do Porto que atirou o primeiro golpe sério contra um regime cuja falência era já manifesta.

Não triunfou o movimento de 31 de Janeiro, porque não actuaram em perfeita conjunção de esforços todas as forças contrárias à monarquia. Despertou, porém, tão vivamente a consciência nacional que deixou, desde logo, o trono dos Braganças em situação insustentável.

Aos homens de 1891 cabe, por isso, a honra e a glória de terem sido eles, com o seu sacrifício e o seu altivo e patriótico brado de protesto e de desagravo, que atearam o rastilho da fogueira que aqueceu a alma nacional e a impeliu para a triunfante jornada de 5 de Outubro de 1910, que sob a égide da liberdade implantou a República em Portugal.

Desde longe se proclama, e com razão, que nenhum povo protesta ou se revolta quando se sente feliz e honrado.

Ora os portugueses de 1891 bateram-se exactamente pela felicidade e pela honra da Nação. Tantos caíram abatidos pelos tiros da monarquia, ao mesmo tempo que muitos outros suportaram e sofreram os duros tormentos da prisão, do degredo ou do exílio.

Nada esmoreceu, no entanto, a sua ardorosa fé nos altos destinos da Pátria e no triunfo próximo da República. Com o seu sacrifício prefaciaram, assim, a obra imortal que, levou à conquista definitiva da honra e da liberdade.

Como preito de homenagem à memória dos portugueses de 1891 hoje como sempre, façamos repetir por todos os recantos da nossa terra o eco vibrante e patriótico do brado com que eles se atiraram para o glorioso movimento de 31 de Janeiro:

Viva Portugal!
Viva a República!
Viva a Liberdade!

Carvalhão Duarte


A Revolução republicana e democrática de 31 de Janeiro de 1891 foi fundamentalmente a luta dum Povo pela sua emancipação, pela sua liberdade e pelo seu direito à vida. E o facto de passados 65 anos se comemorar este grande acontecimento histórico, apesar das limitações impostas aos democratas portugueses, é a prova indesmentível de que o Povo Português continua decidido a bater-se pelos mesmos ideais que os revolucionários de 31 de Janeiro tão corajosamente afirmaram nessa madrugada heróica do ano de 1891.

Ao recordarmos essa data, desejamos associar-lhe a admirável lição de dignidade e de consciência política que nos deram os combatentes quando se encontraram perante os tribunais da Monarquia. Não tivessem, eles próprios, conquistado já a admiração do Povo Português pela maneira como se bateram nos ruas desta Invicta cidade, e bastariam as suas declarações no tribunal para merecerem da Pátria, pelo alto e corajoso exemplo que nos legaram. Como símbolo dessa atitude, em frente dum tribunal que representava naquele momento a máquina repressiva do poder despótico da Monarquia, apontamos o exemplo daquele simples soldado que interrogado com insistência férrea do medíocre culto que envolve na tenaz a alma ingénua do simples declarou: «Eu não sei o que é a República, mas não pode deixar de ser uma cousa santa. Nunca na Igreja senti um calafrio assim. Perdi a cabeça então, como todos os outros todos. Todos a perdemos. Tiramos as barretinas ao ar. Gritamos então todos: Viva, viva, viva a República!» (do Manifesto dos Emigrados da Revolução Republicana Portuguesa de 31 de Janeiro.)

Foi assim que todos responderam. E é essa mesma atitude de UNIDADE que hoje nos cumpre seguir, para dar continuidade ao pensamento e à acção dos Homens de 31 de Janeiro de 1891.

Porto, Janeiro de 1956
Eng.ª Virgínia Moura
Arq. António Lobão Vital


31 de Janeiro

A Revolução Republicana de 31 de Janeiro de 1891 deve ser comemorada por todos os democratas portugueses, não como uma simples efeméride passageira e banal, mas como um acontecimento histórico na emancipação da sociedade portuguesa, que culminou em 5 de Outubro de 1910 com a Implantação da República.

Mais de um século durou entre nós a luta pelas liberdades públicas, iniciada com a resistência popular contra os invasores franceses (1808) e somente terminada quando a Monarquia, já sem forças para vigorar e se manter, foi obrigada a capitular.

Foi uma arrancada tão magnífica como persistente, onde muitos tombaram como mártires ou como heróis e ainda outros por terem tão simplesmente cumprido o seu dever de súbditos que queriam ser cidadãos.

O 31 de Janeiro foi uma etapa intermediária dessa caminhada que, por jugulada pela força às ordens do poder, nem por isso deixou de contribuir para o triunfo final.

O exemplo do 31 de Janeiro deve estar bem presente no ânimo de todos os democratas que, através das circunstâncias mais difíceis e das emergências mais dolorosas, jamais desistiram de lutar pelos direitos fundamentais do povo português, que tanto custaram a conquistar aos nossos antepassados de ideais e de convicção.

Ontem, como Hoje, como Amanhã, as perspectivas do futuro pertencem-nos sempre, desde que saibamos querer, unidos nos interesses do Povo, a única personagem verdadeiramente imortal da História, até porque diante da sua grandeza logo os tiranos não passam de pigmeus e é da sua presença sempre renovada que se faz a perenidade das Nações.

Dr. Ramos de Almeida


O 31 de Janeiro foi um elo na longa cadeia das lutas do Povo Português pela Liberdade e pela Independência Nacional. Sessenta e cinco anos depois, os democratas, recordando o sacrifício heróico daqueles combatentes, e fiéis aos mesmos objectivos, adquirem a certeza histórica de que, unidos na luta, alcançarão a vitória.

Dr. Augusto César Anjo


O «31 de Janeiro» permanecerá na história de Portugal como lição de profundo e valioso significado político. A dignidade e a independência da Pátria exigem a dignificação dos seus filhos e esta só pode alcançar-se pelo exercício efectivo de direitos democráticos.

Os homens de «31 de Janeiro» compreenderam-no e, reivindicando com coragem e sacrifício esses direitos, legaram-nos altíssimo exemplo de patriotismo e de civismo.

Lisboa, Janeiro 1956
Dr.ª Maria Isabel d’Aboim Inglez


Assim foi...  -  Assim será...

Quando, com o ultimatum enviado em 1890 à sua mais antiga aliada, o Governo de Sua Majestade Britânica nos usurpou os territórios do Chire e dos macololos, da colónia de Moçambique, nem o Rei de Portugal nem o seu Governo conseguiram encontrar as razões e os meios de repudiar esta afronta, aliás atitude diplomática sem qualquer justificação que não fosse a mais ignora e cúpida ambição imperialista...

Tendo como único objectivo político (com raros períodos de excepção, desde 1640), a conservação da sua posição de domínio e privilégio na sociedade portuguesa, pela administração das riquezas nacionais, metropolitanas e ultramarinas, a Monarquia, apoiada

numa oligarquia aristocrática, latifundiária e teocrática, onde recrutava os quadros burocráticos para os altos órgãos do Estado e os seus Governos, demonstrou ser absolutamente incapaz, não só de defender os interesses nacionais dessa época, mas até, mesmo, de os compreender e sentir.

Porque, nessa ocasião, se tornou insofismável o divórcio entre os interesses dos dirigentes e os interesses da nação, foi irreprimível a indignação popular.

Assim surgiu em 1891 o «31 de Janeiro».

Foi o primeiro e indignado sobressalto de um Povo que compreendera a necessidade de derrubar as instituições que já o não serviam, apenas garantindo a uns tantos a perpetuação de privilégios injustificáveis e anacrónicos.

Os seus promotores foram, fora de toda a dúvida, os mais inteligentes, heróicos e patriotas de todos os portugueses de então.

O seu sacrifício e insucesso necessitaram, ainda, cerca de 20 anos para serem compensados e corrigidos na revolução triunfante do «5 de Outubro», em 1910.



Basílio Teles

(Medalha do escultor Euclides Vaz, obsequiosamente cedido
para as Comemorações pelo Senhor Prof. Dr. Ruy Luís Gomes.


Mas foram-no, finalmente!

Quando as instituições políticas, — isto é, o país legal —, deixam de se adaptar aos autênticos interesses nacionais, o Povo, isto é, o país real — , por acordo cívico, democrático, promove a sua transformação, segundo as suas legítimas necessidades.

Porém, se as instituições políticas, por anacronismo ou perversão do poder, lho não consentem, facilitando antes a traição aos autênticos interesses nacionais, então o Povo, vilipendiado e explorado, num repelão, derruba-as!

Foi assim, e assim continuará.

Porto, Janeiro de 1956
Dr. Armando Cotta


 

IMAGEM

Ontem como amanhã...

...A revolução do 31 de Janeiro representou, na ronda da nossa História Pátria, mais um veemente impulso patriótico, como determinante característica dum Povo que desde sempre se bateu pela liberdade e pela democracia contra as violências e os desmandos do poder.

Dr. António Macedo


Os patriotas do «31 de Janeiro» tiveram o mérito de desmascarar a ligação íntima entre uma política interna anti-popular e uma política externa de traição nacional. Hoje também nenhum patriota pode ignorar a relação directa entre a política de blocos armados e a subjugação militar, territorial, económica e política a interesses estrangeiros. A unidade de todos os portugueses reivindicando uma política externa de paz e independência é o caminho para a recuperação da soberania nacional, ou seja, para a defesa das nossas matérias primas, da nossa cultura, da liberdade de comerciar, dos interesses nacionais dos trabalhadores, industriais e agricultores, da independência do nosso exército.

A paz entre os povos é o caminho para o seu futuro livre e feliz!

Porto, 25 de Janeiro de 1956
Silas Coutinho Cerqueira


/.../ Considero de grande oportunidade, num momento em que, inexplicavelmente, se procura denegrir o regime e os seus homens e idealistas, lembrar e fazer justiça àqueles que foram os precursores da implantação da República em Portugal e que, com a sua atitude patriótica, o seu idealismo e a sua isenção, mais contribuíram para que o Ideal republicano se arreigasse na alma do Povo Português.

Prof. Dr. Barbosa de Magalhães


— Comemorar o «31 de Janeiro» não tem apenas o significado de rememorar e homenagear os homens que se bateram pelas instituições republicanas e democráticas, mas antes e principalmente o de viver o mesmo anseio, de sentir os mesmos cruciantes problemas, num confrangedor reconhecimento de que, 65 anos volvidos, ainda agora nos falta aquilo que então para eles já tardava.

— Eles foram bem os pioneiros na luta pela libertação e dignificação da pessoa humana, que ainda agora nos anima e norteia, e que tão necessária se mostra hoje como o fora então.

Dr. Eduardo Ralha


Através do romantismo da sua acção, brilhará sempre, nos capítulos da História da Revolução de 1891, a grandeza do patriotismo dos homens que naquela madrugada fria derramaram o seu sangue, o sacrifício máximo da sua vida, aniquilada somente em proveito do futuro triunfo da República e da Democracia. Por ele continuam ainda a sacrificar-se os republicanos de hoje e sacrificar-se-ão os de amanhã, animados pelo exemplo e pelo sentimento dos Homens do 31 de Janeiro.

Entre nós, bons democratas, não há desânimos nem ingratidões. Temos esperanças e a noção exacta do dever a cumprir... Ingratos somente são aqueles indivíduos que teimam em negar justiça às virtudes admiráveis dos revolucionários de 91.

Para que essa ingratidão não alastre mais além do meio acanhado dos seus poucos apaniguados, são indispensáveis comemorações como a de hoje, em cada ano que passa... A elas se associará sempre todo o entusiasmo da minha alma, em sincera homenagem aos Mártires gloriosos do 31 de Janeiro, primeiros obreiros da República e da Democracia.

Manuel Lavrador


Incentivo para o presente, semente para o futuro — eis o que sempre podemos encontrar nos mais insignificantes acontecimentos do passado. Sabem-no sobretudo aqueles que, interessados na construção da felicidade do Homem, com maior consciência se esforçam por viver e sentir os problemas do seu próprio tempo.

Mas o 31 de Janeiro, estuando como um grito de revolta e um anseio de libertação populares, é daquelas datas em que esse significado nos surge precisamente como nota predominante. E mais: constituindo, como passo para a República, um passo para a Democracia, radicando na alma do Povo, a sua memória atinge as pessoas mais simples e desperta-as para uma luta inconformista e firmemente unida pela conquista dos direitos de que têm sido privadas.

Não será isto estranho ao esquecimento a que se tem pretendido votar o 31 de Janeiro. A verdade, porém, é que essa privação de direitos persiste. Tais esquecimentos até a agravam.

Daí a garantia de que o incentivo e a semente do 31 de Janeiro não morreram nem morrerão.

Encontra eco. Dá fruto.

Coimbra, 26-1-1956
Dr. Alberto Vilaça


VENCIDOS

(Em memória dos mortos de 31 de Janeiro) 
 

Glória aos que morderam,
Derrotados,
O ensanguentado pó das ruas!
Aos que verteram
Seu sangue generoso,
Humildes, ignorados,
Rasgando as pobres carnes nuas
De encontro às baionetas dos soldados!

 

Glória aos que tombaram
Por um ideal de vida mais humana e sã!
— Em sua trajectória indefinida,
Por mais que a vida tombe, ou que se roje,
A vida é chama eternamente renascida...

 

— E em seu ansioso, doloroso afã,
As vidas apagadas de hoje
Podem ser os clarões da vida de amanhã!

Carlos de Morais


PROGRAMA

Dia 30 — Sessão comemorativa, às 21 horas, no Cine-Teatro Avenida, sob a presidência do Excelentíssimo Senhor Doutor ANTÓNIO LUÍS GOMES, em que usarão da palavra os senhores Dr. Magalhães Godinho, Dr. Heliodoro Caldeira, Dr. Eduardo Ralha, D. Cibele da Silva Carvalho, Dr. Carlos Cal Brandão, Dr. Armando Bacelar, Dr. Costa e Melo, Dr. Óscar Lopes, Dr. Júlio Calisto, Dr. Mário Sacramento, Dr. Alcides Monteiro e Operário José Ferreira.

 

Dia 31 —- Às 10 horas, missa de sufrágio, na Igreja de S. Gonçalo, mandada celebrar por um grupo de democratas católicos; às 12 horas, romagem de saudade e preito à memória dos democratas sepultados no Cemitério Central da cidade, com ponto de partida da Praça da República, junto ao monumento a José Estêvão; às 19 horas, Jantar de Confraternização Republicana, no Restaurante Galo d'Ouro.

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Inserido em
12-Outubro-2006