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1998-1999



Imagens de Outono II
 


Castanheiro
Castanea sativa
 

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Um souto, isto é, uma zona com castanheiros na região do Sabugal (Beira Alta).

Os castanheiros formam matas denominadas soutos, ou castinçais, quando são castanheiros bravos. Em Portugal, os soutos localizam-se nas zonas interiores, encontrando-se, especialmente, em Trás-os-Montes e nas Beiras. Crescem em solos pouco húmidos, de preferência graníticos ou xistosos.

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O castanheiro chega a atingir grandes dimensões com a idade.

As folhas são oblongo-lanceoladas, compridas, de bordo ligeiramente serrilhado. As suas flores, conhecidas por candeias, são amentilhos ou agrupamentos de flores de forma parecida com a espiga.

Floresce em Junho-Julho e os frutos amadurecem em Outubro-Novembro.

As castanhas formam-se dentro dos ouriços que abrem para lhes dar saída quando estão maduras, por acção do vento, que sacode os ramos, espalhando-as no solo à volta do castanheiro. Na ausência de vento, são apanhadas recorrendo-se a uma vara ou a um pau apanhado do chão, por vezes, ramos secos caídos do próprio castanheiro, batendo-se com ele nos ramos carregados de ouriços. As castanhas comem-se cruas, assadas, cozidas, piladas (secas ao fumeiro) ou reduzidas a farinha.

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Ramo de castanheiro carregado de ouriços, vendo-se, na imagem da direita, a castanha quase a soltar-se do seu invólucro.

A madeira de castanho tem um grande número de aplicações, principalmente para o fabrico de móveis e revestimentos interiores de casas. Dela podem extrair-se substâncias utilizadas para curtir peles e para o fabrico de tinta negra.

Na Europa, o castanheiro acompanhou o homem desde o Paleolítico. As tribos pré-romanas obtinham dele castanhas secas ou farinadas, que constituíam um alimento rico.

Durante muito tempo, foi considerado como árvore-do-pão e a castanha um dos mais importantes alimentos farináceos de vastas regiões. Depois da chegada à Europa da batata e do milho, perdeu o seu carácter de alimento básico das populações.


Lebre Lepus capensis

 

Classe – Mammalia

Ordem – Lagomorpha

Família – Leporidae

Género – Lepus

Espécie – Lepus capensis

Lebre. Clicar para ampliar.

A lebre pertence à família dos leporídeos como o coelho, distinguindo-se deste por algumas características morfológicas, tais como o grande comprimento dos seus membros posteriores, o que lhe permite adquirir uma velocidade de 60 km/hora, e o tamanho das orelhas, que são bastante mais longas. Apresenta uma cor amarela acastanhada no dorso e a parte ventral branca. É um animal que se adapta a zonas abertas e planas, mas também se pode encontrar a altitudes relativamente elevadas.

Nos países nórdicos, encontra-se uma lebre diferente, a espécie Lepus timidus, em que a cor do pelo varia com as estações do ano. No Verão apresenta a coloração normal e, quando se aproxima o Inverno, a cor torna-se branca.

 

Histórias à volta da lebre
 

A lebre, desde tempos remotos, inspirou a imaginação do homem que nela se baseou para criar fábulas e crenças.

Os manuais de magia referem que é perigoso comer a sua carne, pois a timidez deste animal pode transmitir-se a quem a comer. De acordo com esta ideia, está o facto de a lebre dormir de olhos abertos. Segundo esta crença, as grávidas não a devem comer, pois as crianças nascidas dormiriam também com os olhos abertos.

Os Romanos adivinhavam o futuro pelos seus movimentos; e a sua carne sagrada estava vedada aos simples cidadãos.

Buda, numa das suas reencarnações, tomou a forma de uma lebre.

Há também quem acredite que a pata de uma lebre, levada no bolso direito, afasta o reumatismo.


 

Le Lièvre et la Tortue.

Rien ne sert de courir: il faut partir à point 1...

Le lièvre et la tortue en sont un témoignage.

Gageons, dit celle-ci, que vous n'atteindrez point

Sitôt que moi ce but. – Sitôt! Êtes-vous sage?

Repartit l'animal léger:

Ma commère, il vous faut purger

Avec quatre grains d'ellébore 2

Sage ou non, je parie encore.

Ainsi fut fait, et de tous deux

On mit près du but Ies enjeux.

Savoir quoi, ce n'est pas l’affaire,

Ni de quel juge I'on convint.

Notre lièvre n'avait que quatre pas à faire,

J'entends ce ceux qu'il fait lorsque, près d'être atteint,

Il s'éloigne des chiens, Ies renvoie aux calendes 3,

Et leur fait arpenter les landes.

Ayant, dis-je, du temps de reste pour brouter,

Pour dormir et pour écouter

D'ou vient le vent, il laisse la tortue

Aller son train de sénateur.

Elle part, elle s'évertue,

Elle se hâte avec lenteur 4

Lui cependant méprise une telle victoire,

Tient la gageure à peu de gloire,

Croit qu'il y va de son honneur

De partir tard. Il broute, il se repose ;

Il s'amuse à tout autre chose

Qu'à la gageure. À la fin, quand il vit

Que l'autre touchait presque au bout de la carrière

Il partit comme un trait; mais les élans qu'il fit

Furent vains 5: la tortue arriva la première.

Eh bien! Lui cria-t-elle, avais-je pas raison?

De quoi vous sert votre vitesse?

Moi l'emporter! Et que serait-ce

Si vous portiez une maison?

La Fontaine

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1 –  Espèce de proverbe qui se trouve déjà dans Rabelais.

2 – Herbe à laquelle les anciens attribuaient la propriété de guérir de la folie.

3 – Il faudrait aux calendes grecques, c’est-à-dire, à un temps qui n'arrivera jamais, car les grecs n'avaient point de calendes dans leur calendrier, comme les Romains.

4 – Boileau a dit aussi: Hâtez-vous lentement.» C’est le mot d’Auguste: Festina lente

5 – Ce monosyllabe au troisième pied exprime à merveille l’inutilité de l’effort que fait le lièvre.» (Chamfort)

A Lebre e a Tartaruga

Não serve de nada correr: é necessário partir na hora (1)

A lebre e a tartaruga são disso testemunho.

Apostamos, diz esta, que não atingirás

Tão depressa como eu este objectivo. – Tão depressa!
                              Estás no teu juízo!

Retorquiu o animal ligeiro:

Minha comadre, precisa de purgar-se

Com quatro grãos de heléboro (2).

Ajuizado ou não, ainda aposto.

Assim se fez, e ambas

Arriscaram as suas paradas.

Saber o quê, não é a questão,

Nem é preciso juiz.

A nossa lebre não tinha mais que dar quatro passos:

Como os que ela dá quando, prestes a ser apanhada,

Ela afasta-se dos cães, envia-os para as calendas (3)

E obriga-os a percorrer os campos a passos largos.

Tendo, digo eu, tempo de sobra para pastar,

Para dormir e para escutar

Donde vem o vento, ela deixa a tartaruga

Caminhar no seu passo de senador.

Ela parte, esforça-se:

Ela apressa-se com lentidão.

A lebre contudo despreza uma tal vitória,

Tem a aposta em pouca glória,

Crê que a sua honra está

Em partir tarde. Ela pasta, descansa,

Diverte-se com qualquer outra coisa

Que não a aposta. Por fim, quando vê

Que a outra estava quase no fim do caminho,

Partiu como um tiro; mas os esforços feitos

Foram vãos: a tartaruga chegou primeiro.

Então! – gritou-lhe esta, eu não tinha razão?

De que vos serve a velocidade?

Eu venci-a! E o que faria

Se transportásseis uma casa?

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(1) – Espécie de provérbio.

(2) – Planta da família das ranunculáceas à qual os antigos atribuíam a propriedade de curar a loucura.

(3) – Às calendas gregas, ou seja, a um tempo que não chegará nunca, pois os Gregos não tinham calendas no seu calendário, como os Romanos.

                   Tradução de Maria Luísa Fonseca

 


Momento da leitura das fábulas por alunas do 11º Ano das turmas K e L

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Perdiz-vermelha Alectoris rufa


Ave galiforme da família das fasianídeas, encontra-se em terrenos abertos, sobretudo em zonas onde se cultiva o centeio e o trigo. A perdiz-vermelha é muito vulgar no nosso país, especialmente no Alentejo, Beira Baixa e Trás-­os-Montes.

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«Ao fundo daquela rua

À esquerda que à direita não

Está uma perdiz à porta

À espera do perdigão»

A perdiz vive quase todo o ano em bandos, separando-se os casais na época da reprodução.

O ninho consiste numa simples depressão cavada na terra, coberta com folhas secas.

Nascidos os perdigotos, estes alimentam-se de insectos, larvas e pequenos grãos, durante o primeiro mês de vida. Mais tarde, passam a comer, principalmente, grãos, folhas e frutos e também insectos.

A perdiz é uma espécie cinegética cuja população está a diminuir em todo o país, devido à excessiva pressão da caça e às alterações ambientais que atingem o seu habitat.

 

Mito relativo à perdiz

Perdix, sobrinho de Dédalo, inventou a serra e o compasso, revelando grandes aptidões para a mecânica e as artes. Isso provocou a inveja de seu tio, que o precipitou do alto de uma torre. Porém, Atena metamorfoseou o jovem numa linda ave (perdiz), restituindo-lhe a vida.

 

Fábula «A Perdiz e os Galos»

      La Perdrix et les Coqs.

Parmi de certains coqs incivils, peu galants,

Toujours en noise, et turbulents,

Une perdrix était nourrie.

Son sexe, et I'hospitalité,

De la part de ces coqs, peuple à l'amour porté,

Lui faisaient espérer beaucoup d'honnêteté:

Ils feraient les honneurs de la ménagerie.

Ce peuple cependant, fort souvent en furie.

Pour la dame étrangère ayant peu de respect,

Lui donnait fort souvent d’horribles coups de becs.

D'abord elle en fut affligée;

Mais sitôt qu'elle eut vu cette troupe enragée

S'entre-battre elle-même et se percer les flancs,

Elle se consola. Ce sont leurs moeurs, dit-elle ;

Ne les accusons point, plaignons plutôt ces gens:

Jupiter sur un seul modèle

N'a pas formé tous les esprits;

Il est des naturels de coqs et de perdrix.

S'il dépendait de moi, je passerais ma via

En plus honnête compagnie.

Le maître de ces lieux en ordonne autrement;

Il nous prend avec des tonnelles (1),

Nous loge avec des coqs, et nous coupe les ailes:

C'est de l'homme qu'il faut se plaindre seulement (2).

      A Perdiz e os Galos

Entre certos galos incivilizados e pouco galantes,

Sempre em luta e turbulentos,

Estava uma perdiz.

O seu sexo, e a hospitalidade,

Da parte destes galos, povo dado ao amor,

Faziam-lhe esperar muita honestidade:

Eles fariam as honras do galinheiro.

Esta população, contudo, muitas vezes em fúria,

Tendo pouco respeito pela dama estrangeira,

Dava-lhe, com frequência, horríveis bicadas.

Ao princípio ela afligiu-se;

Mas logo que viu esta tropa enraivecida

Bater-se entre si e ferir-se os flancos,

Consolou-se. São os seus hábitos, disse ela:

Não os acusemos, antes os lamentemos.

Júpiter não formou todos os espíritos

Segundo o mesmo modelo;

Há naturezas de galos e de perdiz.

Se dependesse de mim, eu passaria a minha vida

Em mais honesta companhia.

O dono destes lugares ordena doutro modo;

Agarra-nos com redes,

aloja-nos com galos e corta-nos as asas:

É apenas do homem que nos devemos queixar.

Tradução de Maria Luísa Fonseca

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(1) - Tonnelles: sortes de filets, ainsi nommés à cause de leur forme.
(2) - Décidemment
La Fontaine, à force d'être indulgent pour les animaux, pousse trop loin la sévérité à l'égard des hommes.

 

Acerca de La Fontaine

Jean de La Fontaine nasceu em Château-Thierry no ano de 1621 e morreu em Paris em 1695. O seu espírito epicurista, descuidado e distraído, cedo o levou a abandonar a terra natal, o trabalho e a família e a instalar-se em Paris, onde se introduziu nas sociedades preciosas e, principalmente, libertinas da época.

É a partir de 1664 que surgem as recolhas das suas principais obras: os Contos e as Fábulas. As suas Fábulas foram publicadas numa colectânea de seis livros, em 1668; duas outras surgiram em 1678-1679 e o décimo segundo livro, em 1694.

Apesar de ter copiado, muitas vezes, os seus temas de outros autores, La Fontaine não deixa de ser original e sem ninguém que o iguale no seu género; ele colocou nos escritos a sua filosofia certa e indulgente da vida, a sua picante sátira dos costumes e dos ridículos, o seu profundo amor pelo natural. Os seus animais têm vida e movem-se num quadro onde se respira todo o encanto das paisagens campestres.
 

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