Se lermos os capítulos da Bíblia em que
Gibson se inspirou, é isso mesmo que se sente, vê, escuta e vivencia:
violência, crueldade, muito sangue derramado inocentemente.
Todos os relatos da época confirmam, sem
reservas, essa atrocidade, essa "deshumanidade", essa insensata histeria
colectiva, movida pelo gosto da agressividade e pelo prazer do ódio.
O realizador, frisemo-lo, não enfatizou
ou empolou a contextura epocal, como sustentam os espíritos menos
esclarecidos. Apenas a mostrou na sua autenticidade.
A humanidade é assim mesmo: bárbara, violenta, vil... Toda a História o
mostra. Só que nem sempre o vemos. Nem sempre o queremos ver. Ou,
simplesmente, não convém que o vejamos. É mais cómodo compactuar com o
regime, mesmo que literalmente o abominemos.
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Cristo foi tão-só mais um, entre
tantos outros, mártir dessa bestialidade, insensibilidade e insensatez
exacerbada dos Homens.
Cristo não convinha ao sistema
instituído. Foi um revolucionário. A sua filosofia contestatária.
Naturalmente, teve de ser morto, como também o foi Gandhi, por razões
idênticas, só para dar mais um exemplo histórico da intolerância. |
Assim é a postura de todos os regimes
políticos totalitários, os de ontem, os de hoje, os de sempre. São
dogmáticos, inflexíveis, intocáveis, pretensos donos da verdade absoluta.
Não admitem, portanto, outras verdades, outras visões do mundo, ou, uma
outra ordem.
É preciso mostrar a todos os olhares
dispersos, do modo mais realista possível, o que o Mundo é na sua essência,
sem preconceitos, sem falsos moralismos. Este Mundo – o de Cristo e o nosso
– não é um mar de rosas, mas, sobretudo, uma imensidade de espinhos,
camuflado por belas, cheirosas e aveludadas pétalas.
Devemos observá-lo, clara e
distintamente, por detrás de todos os véus, de todas as máscaras que
ludibriam as mentes extraviadas. Devemos pensá-lo profundamente, analisá-lo
criticamente com os olhos da razão, que ultrapassa a vulgaridade das
opiniões comuns.
Urge não esquecer que vivemos, tal
como experienciou “O Messias”, minados pelo fingimento, pela dissimulação,
pela inveja, pela violência gratuita, pela guerra, entre alguns escassos
momentos de paz e de enaltecimento dos valores que efectivamente devem
prevalecer: a verdade, a honestidade, o bem, a solidariedade, a tolerância,
o respeito pelas diferenças fundamentais e pela liberdade essencial de que
fala a “Declaração dos Direitos Humanos”, publicada em 1948. Só em tese
aceite, mas raramente cumprida pelos detentores do poder.
Isabel Rosete
07/12/07
15/01/08 |