Vejam o que encontrei
de Leibniz relativamente ao problema do mal.
Quase todas as
obras de Leibniz estão escritas em francês ou latim e poucas em alemão,
língua que não era muito destinada às obras de filosofia. Eram ortodoxos
e optimistas, proclamando que o plano divino fez este o melhor de todos
os mundos possíveis, um ponto de vista satirizado por Voltaire
(1694-1778) no Candide.
Leibniz é
conhecido entre os filósofos pela amplitude de seu pensamento sobre
ideias e princípios fundamentais da filosofia, incluindo a verdade, os
mundos possíveis, o princípio de razão suficiente (isto é, que nada
ocorre sem uma razão), o princípio da harmonia pré-estabelecida (Deus
construiu o universo de tal modo que os fatos mentais e físicos ocorrem
simultaneamente), e o princípio de não contradição (que uma proposição
da qual se pode derivar uma contradição é falsa).
Teve por toda a
vida interesse, e perseguiu a ideia, de que os princípios da razão
pudessem ser reduzidos a um sistema simbólico formal, uma álgebra ou
cálculo do pensamento, no qual controvérsias seriam acertadas por meio
de cálculos.
Foi tanto um
filósofo quanto um matemático de génio. Na matemática criou, com Isaac
Newton (1643-1727) físico-matemático inglês, o cálculo infinitesimal ou
de limites de funções, uma ferramenta para o cálculo diferencial que é o
cálculo de derivadas de funções. No seu aspecto geométrico, o cálculo
infinitesimal, integral e diferencial, toma o ponto simplesmente como
uma circunferência de raio infinitamente pequeno, a curva como um pedaço
de circunferência de raio finito, constante, e a recta um pedaço de
circunferência de raio infinitamente longo.
Teoria do conhecimento
Princípios
De acordo com Leibniz, a razão afirma
que uma coisa só pode existir necessariamente se, além de não ser
contraditória, houver uma causa, causa de origem e causa final, que a
faça existir. Tira daí dois princípios inatos.
Para explicar a Verdade da Razão e a Verdade de Fato, Leibniz recorre à
dois princípios, um falando das coisas a priori e outro das coisas a
posteriori, ou seja, uma não dependente da experiência e dos sentidos
mas dependente da razão e outro dependente dos sentidos e da experiência
(tal como afirmava Kant).
Princípio da não Contradição
O primeiro princípio inato é o Princípio da não Contradição do que é
explicado ou demonstrado. Ao primeiro princípio correspondem as verdades
de razão. São necessárias, têm a razão em si mesmas. O predicado está
implícito na essência do sujeito. As verdades de razão são evidentes a
priori, independentes da experiência, prévias à experiência. As verdades
de razão são necessárias, fundam-se no princípio da contradição, como na
proposição "dois mais dois são quatro": Não poderiam não ser. Não cabe
contradição possível.
Princípio da Razão Suficiente
O segundo princípio é o Princípio da
Razão Suficiente da existência da coisa em questão. Para que uma coisa
seja, é necessário que se dê uma razão porque seja assim e não de outro
modo. Ao segundo princípio correspondem as verdades de fato. Estas não
se justificam a priori, mas sim pelo princípio da razão suficiente. As
verdades de fato são contingentes. A sua razão resulta de uma infinidade
de actos passados e presentes que constituem a razão suficiente pela
qual ele se dá agora. São atestadas pela experiência. São as verdades
científicas; são de um jeito, mas poderiam ser de outro. A água ferve a
100 graus centígrados, mas poderia não ferver e, de fato não ferve,
quando é mudada a pressão no seu recipiente. Essas verdades dependem de
experiência que as comprove.
Em Deus desapareceria a distinção entre
verdades de fato e verdades de razão, porque Deus conhece actualmente
toda a série infinita de razões suficientes que fizeram que cada coisa
seja aquilo que é. Além dos princípios da não-contradição, da razão
suficiente, encontra também os princípios do melhor, da continuidade e
dos indiscerníveis, considerados por ele constitutivos da própria razão
humana e, portanto, inatos, embora apenas virtualmente.
Nos "Novos Ensaios Sobre o Entendimento
Humano", Leibniz rejeita a teoria empirista de Locke (1632-1704),
segundo a qual a origem das ideias se encontra exclusivamente na
experiência e que a alma seria uma tabula rasa. Para Leibniz, a
vontade do Criador submete-se ao seu entendimento; Deus não pode romper
Sua própria lógica e agir sem razões, pois estas constituem Sua natureza
imutável. Consequentemente o mundo criado por Deus estaria impregnado de
racionalidade, cumprindo objectivos propostos pela mente divina. Deus
calcula vários mundos possíveis e faz existir o melhor desses mundos.
Entre tantos mundos possíveis (existentes em Deus como possibilidades),
Deus dá existência a um só e a escolha obedece ao critério do melhor,
que é a razão suficiente do existir do nosso mundo.
Princípio de Continuidade
De acordo com o princípio de
continuidade, não existem descontinuidades na hierarquia dos seres (As
plantas são animais imperfeitos e também não há vazios no espaço).
Quanto ao princípio dos indiscerníveis, Leibniz afirma que não há no
universo dois seres idênticos e que sua diferença não é numérica nem
espacial ou temporal, mas intrínseca, isto é, cada ser é em si diferente
de qualquer outro.
Origem das ideias
Leibniz, diante da necessidade de
conciliar algumas evidências favoráveis e contrárias à existência de
ideias inatas, supôs existir no espírito alguma estrutura coordenadora
do raciocínio. Ao invés das ideias inatas em si, ele admitiu serem
inatas certas estruturas geradoras de ideias. No prefácio aos "Novos
Ensaios sobre o Entendimento Humano", diz:
«Por isso emprego de preferência a
comparação com um bloco de mármore que tem veios... se há veios na pedra
que desenham a figura de Hércules em lugar de qualquer outra, este bloco
lhe estaria já disposto, e Hércules lhe seria de algum modo como inato,
ainda que fosse sempre necessário certo trabalho para descobrir estes
veios e destaca-los pelo polimento, eliminando o que impede sua
aparição. Do mesmo modo as ideias e a verdade nos são inatas como
inclinações, disposições, capacidades e faculdades naturais, e não como
acções ou funções, se bem que estas faculdades vão sempre acompanhadas
de algumas acções correspondentes imperceptíveis.»
A mônada encerra em si toda a realidade
e nada lhe pode vir de fora. Portanto, tudo o que aconteça está incluído
na sua essência e, por conseguinte, na sua noção completa. Leibniz
contraria a posição empirista de que não há nada no entendimento que não
tenha passado antes pelos sentidos, exceptuando o próprio entendimento.
Todas as ideias procedem do princípio de continuidade. Nada é recebido
de fora. Este é um postulado diametralmente oposto ao empirismo de Locke,
que reconhece as ideias resultantes da experiência.
As ideias são, pois, inatas num certo
sentido. Não estão em estado de actualidade que pudessem ser percebidas.
Estão em nós em estado de virtualidades, ou potencial, e é através da
reflexão que a alma adquire consciência. Esta é uma certa aproximação
com Platão. Nossa alma (que é uma mônada) é preformada, isto é, contem
virtualmente as verdades necessárias que descobre e torna distintas pela
reflexão.
Lógica
A lógica tradicional, demonstrativa,
não satisfaz Leibniz. Crê que só serve para demonstrar verdades já
conhecidas e não para encontra-las. Quis fazer uma lógica que servisse
para descobrir verdades, uma combinatória universal que estudasse as
possíveis combinações dos conceitos. Esgrimindo com objectos ideais,
seria possível chegar a todas as verdades. Poder-se-ia operar de uma
forma apriorística e segura, de uma maneira matemática, para a
investigação da verdade.
Esta é a famosa Ars magna
combinatoria, que seduziu filósofos desde Raimundo Lúlio
(1235-1316). Ela se apoia, evidentemente, na crença de que os fatos
acompanhariam a linguagem em lugar da linguagem acompanhar os fatos,
ordenando os conceitos e apontado possibilidades apenas enquanto associa
referências da experiência passada, como em Locke.
Monadologia
Em 1676 Leibniz tornou-se o fundador de
uma nova formulação teórica conhecida como dinâmica, que substituía a
energia cinética pela conservação do movimento. Leibniz explica os seres
como forças vivas, não como máquinas. Em crítica a Descartes, reelabora
o pensamento cartesiano. A redução cartesiana da matéria à extensão não
explica a resistência que a matéria oferece ao movimento. Esta
resistência é uma "força".
A chamada matéria, na sua essência, é
força. E Descartes não se ocupa da força, mas apenas do movimento, da
mera mudança de posição de um móvel em relação às coordenadas. Leibniz
muda essa física estática e geométrica. O movimento é produzido por uma
força viva. A ideia de uma natureza estática e inerte é substituída por
uma ideia dinâmica; em contraste com uma física da extensão, faz um
retorno ao pensamento grego de que a natureza é princípio de movimento.
Para acomodar a força na natureza
Leibniz necessita uma nova ideia de substância. A partir da noção de
matéria como essencialmente actividade, Leibniz chega à ideia de que o
universo é composto por unidades de força, as mônadas, noção fundamental
de sua metafísica. Mônada quer dizer substância real, palavra usada por
Giordano Bruno, segundo dizem, a teria tirado de Plotino.
A mônada não tem extensão, não é
divisível, não é material. Mônada é força, é energia, vigor. Não força
física mas capacidade de actuar, de agir. O universo não é senão um
conjunto de substâncias simples, activas, construídas pelas mônadas. São
unidades sem partes, que formam os compostos; são os elementos das
coisas.
Leibniz faz o contrário de Espinoza:
enquanto este reduz a substancialidade a um ente único, natureza ou
Deus, Leibniz restitui à substância o carácter de coisa individual que
teve desde Aristóteles. A substância, dizia Aristóteles, é o que é
próprio de cada coisa. A substância ou natureza torna a ser o princípio
do movimento nas próprias coisas.
As mônadas são rigorosamente
indivisíveis e, portanto, inextensas, porque a extensão é sempre
divisível. Estas mônadas simples não podem corromper-se, nem perecer por
dissolução, nem começar por composição. Têm qualidades, são distintas e
incomunicáveis entre si e também mudam de modo contínuo segundo suas
possibilidades internas. São unidades de força. A partir de seu lugar,
cada mônada representa ou reflecte o universo inteiro, activamente. As
mônadas não são todas de igual hierarquia; reflectem o universo com
distintos graus de claridade.
Tudo o que acontece à mônada brota do
seu próprio ser, das suas possibilidades internas, sem intervenção
exterior. As mônadas têm percepções e apercepções; as primeiras são
obscuras ou confusas, as segundas claras e distintas. As mônadas das
coisas têm percepções insensíveis, sem consciência, o que também
acontece ao homem, em diferentes graus. Uma simples sensação é uma ideia
confusa. Quando as percepções têm clareza e consciência, e são
acompanhadas de memória, são apercepções, e estas são próprias de almas.
No cume da hierarquia das mônadas está Deus, que é acto puro.
As coisas do mundo são indiscerníveis
quando são iguais (princípio de Leibniz chamados "os indiscerníveis") e
uma mônada é totalmente diferente de outra. Quantidade para Leibniz é
movimento e multiplicidade, portanto, como força não é mais passividade,
mas actividade. O universo não é senão um conjunto de mônadas. A
quantidade das mônadas é infinita, mas cada mônada é diferente uma da
outra. À matéria-prima, de todo passiva, dotada apenas de extensão (como
queria Descartes), contrapõe a matéria segunda, dotada de acção. A
matéria-prima (concebida em abstracto pois não existe sem a matéria
segunda) é a matéria em si mesma, de todo passiva, sem nenhum princípio
de movimento. A matéria segunda ou vestida é aquela que tem em si um
princípio de movimento.
Porém cada mônada resulta de uma matéria-prima ou princípio passivo e de
um elemento activo ou força. A mônada criada não pode jamais libertar-se
da passividade pois, ao contrário, seria ato puro como Deus. O espírito
é mônada. Nossa experiência interior, que nos revela a nós mesmos como
uma substância ao mesmo tempo una e indivisível, indica nossa
consciência como uma mônada. Conhecemos, imaginamos a força da mônada
captando a nós mesmos como força, como energia, como trânsito e
movimento interno psicológico de uma ideia, de uma percepção a outra
percepção, de uma vivência a outra vivência.
Apesar de indivisível, individual e
simples, há mudanças interiores, há actividades no interior na mônada.
Estas actividades são a percepção e a apetição. Leibniz define a
percepção como a representação do múltiplo no simples. Apetição é
tendência, carência de passar de uma a outra percepção: é uma lei
espontânea. A realidade metafísica da mônada (perceber e apetecer)
corresponde ao Eu.
A absoluta perfeição da mônada criada é
sempre um esforço e não um ato. A actividade contínua da mônada é o
esforço de exprimir-se a si mesma, isto é, de adquirir sempre mais
consciência do que virtualmente contem. Perceber é ao mesmo tempo
apetecer de perceber ainda mais.
Há uma diferença de consciência entre
as mônadas (de percepção). Existem as mônadas dos corpos brutos "que só
têm percepções inconscientes e apetições cegas", Os animais se
constituem de mônadas "sensitivas", dotados de apercepções e desejos, e
o homem de mônadas "racionais", com consciência e vontade. Categorias de
percepções. Há três distinções fundamentais entre as percepções: os
viventes, os animais, os homens.
As percepções das quais não se tem consciência são chamadas por Leibniz
percepções insensíveis. A cada momento nós temos impressões das quais
nós não nos consciencializamos... Existem muitos indícios que comprovam
que temos em cada momento uma infinidade de percepções, mas sem
apercepção e sem reflexão.
Todas as acções que à primeira vista
parecem arbitrárias e sem um motivo encontram a sua explicação
precisamente nas percepções insensíveis, que explicam também as
diferenças de carácter e de temperamento. As mônadas têm percepção, mas
algumas dentre elas têm apercepção. As mônadas que tem apercepção e
memória constituem as almas.
O saber de perceber é a apercepção, que
é também esforço de ter sempre percepções mais distintas. Tal tendência
vai ao infinito, pois a mônada não realiza jamais a sua completa
perfeição. Leibniz não admite comunicação ou ligação entre as mônadas.
Cada uma tem um plano interno segundo o qual vai movimentar-se de modo
que esteja no lugar rigorosamente certo onde é esperado que esteja para
constituir, com outras mônadas, os corpos em repouso ou em movimento. É
o que Leibniz chamou "harmonia preestabelecida".
É fundamental no pensamento de Leibniz
o conceito de "harmonia preestabelecida". Deus põe, em cada mônada, a
lei da evolução interna de suas percepções em harmónica correspondência.
Os actos de cada mônada foram antecipadamente regulados de modo a
estarem adequados aos actos de todas as outras; isso constituiria a
harmonia preestabelecida.
Deus cria as mônadas como se fossem
relógios, organiza-os com perfeição de maneira a marcarem sempre a mesma
hora e dá-lhes corda a partir do mesmo instante, deixando em seguida que
seus mecanismos operem sozinhos. Assim operam coordenadamente seu
desenvolvimento corresponde, a cada instante, exactamente ao de todas as
outras. No ato da criação, fez com que as modificações interna de cada
mônada correspondessem exactamente às modificações de cada uma das
outras.
Há um reparo que alguns fazem a Leibniz
nesse particular. Segundo seu pensamento, Deus assegurou, desde sempre,
a correspondência das minhas ideias com a realidade das coisas, ao fazer
coincidir o desenvolvimento da minha mônada pensante com todo o
universo. Porém diz, no Discours de Métaphysique, que temos na
nossa alma as ideias de todas as coisas "mercê da acção contínua de Deus
sobre nós"... Então, aquela correspondência não estava assegurada e
mais, as mônadas não seriam invioláveis. Se, de acordo com o próprio
pensamento de Leibniz, as mônadas "não têm janelas" e têm já em si todo
seu desenvolvimento, então há uma excepção necessária: em vez de se
porem em comunicação umas com as outras, abrem-se exclusivamente para
Deus.
Teodiceia
Leibniz concebe um mundo rigorosamente
racional e como o melhor dos mundos possíveis. Então, como explicar a
presença do mal? O mal manifesta-se de três modos: metafísico, físico e
moral.
O Mal Metafísico é a imperfeição
inerente à própria essência da criatura. Só Deus é perfeito. Falta
alguma coisa ao homem para a perfeição, e o mal é a ausência do bem, na
concepção neoplatónica e agostiniana. O mundo, como finito, é imperfeito
para distinguir-se de Deus. O mal metafísico, sendo a imperfeição, ele é
inevitável na criatura. Ao produzir o mundo tal como ele é, Deus
escolheu o menor dos males, de tal forma que o mundo comporta o máximo
de bem e o mínimo de mal. A matemática divina responsável pela
determinação do máximo de existência, tão rigorosa quanto as dos máximos
e mínimos matemáticos ou as leis do equilíbrio, exerce-se na própria
origem das coisas.
Um mal é, para Leibniz, a raiz do
outro. O mal metafísico é a raiz do Mal Moral. É por ser imperfeito que
o homem se deixa envolver pelo confuso. O Mal Físico é entendido por
Leibniz como consequência do mal moral, seja porque está vinculado à
limitação original, seja porque é punição do pecado (moral). Deus não
olhou apenas a felicidade das criaturas inteligentes mas a perfeição do
conjunto.
Na moral, o bem significa o triunfo
sobre o mal e para que haja bem é necessário que haja mal. O mal que
existe no mundo é o mínimo necessário para que haja um máximo de bem.
Deus não implica contradição, portanto, Deus é possível como um ser
perfeitíssimo, mas para um ser perfeitíssimo sua tendência à existência
se traduz imediatamente em ato. A prova de que existe é a harmonia
preestabelecida. Porque há acordo entre as mônadas é necessário Deus
como autor delas. Outra prova são as coisas contingentes: tudo que
existe deve ter uma razão suficiente da sua existência; nenhuma coisa
existente tem em si mesma tal razão; portanto existe Deus como razão
suficiente de todo o universo. Deus é a mônada perfeita, puro acto. A
Teodiceia de Leibniz leva como subtítulo Ensaios Sobre a Bondade de
Deus, a Liberdade do Homem e a Origem do Mal.
Liberdade
A questão da liberdade é o mais difícil
de se compreender em Leibniz porque as mônadas encerram em si tudo o que
lhes há de acontecer e hão de fazer. Todas as mônadas são espontâneas,
porque nada externo pode exercer coação sobre elas, nem obriga-las a
coisa nenhuma. Como é possível a liberdade?
Segundo ele, Deus cria os homens e os
cria livres. Deus conhece os faturíveis, isto é, os frutos
condicionados, as coisas que serão se se puserem em certas condições.
Deus conhece o que faria a vontade livre, sem que esteja determinado que
isto tenha de ser assim, nem se trate, portanto, de predeterminação.
O Mal Metafísico nasce da
impossibilidade do mundo ser tão infinito quanto o seu criador. O Mal
Moral é permitido por Deus simplesmente, pois é condição para os outros
bens maiores. O Mal Físico tem a sua justificação para dar ocasião a
valores mais altos. Por exemplo, a adversidade dá ocasião a que exista a
fortaleza de ânimo, o heroísmo, a abnegação; além disso, Leibniz crê que
a vida, em suma, não é má, e que é maior o prazer que a dor.
Não se pode considerar isoladamente um
fato. Não conhecemos os planos totais de Deus, já que seria necessário
vê-los na totalidade dos seus desígnios. Como Deus é omnipotente e bom,
podemos assegurar que o mundo é o melhor dos mundos possíveis; isto é, é
aquele que contém o máximo de bem com um mínimo de mal que é condição
para o bem do conjunto.
Deus quer que os homens sejam livres e
permite que possam pecar, porque é melhor essa liberdade que a falta
dela. O homem não sabe usar a liberdade; esta é um bem. O pecado
aparece, pois, como um mal possível que condiciona um bem superior, a
saber: a liberdade humana. |