Será que faz sentido falar em "consciência negra" ou em "consciência
branca", se somos geneticamente idênticos, igualmente seres humanos, animais
racionais, naturalmente dotados de consciência? "Celebrar" um tal dia, enfatizar
a ideia da existência específica de uma "consciência negra", não será mais uma
forma de dar continuidade ao terrível processo de discriminação, marginalização,
há muito iniciado e ainda não terminado?
Não há, propriamente falando, ou seja, do ponto de vista da
essência, nem negros, nem brancos; nem amarelos, nem vermelhos. Há, tão-só,
seres humanos. Nada mais.
Aliás, as pesquisas mais recentes da engenharia genética têm
mostrado como é cientificamente incorrecto continuar a usar o termo "racismo".
Não existem várias raças, mas somente uma única raça: a raça humana, com algumas
variações genéticas minoritárias, dadas, por exemplo, por dois ou três genes
(entre os mais dos cem mil que constituem o genoma humano) responsáveis pela cor
da pele, dos olhos, do cabelo.... Meros detalhes insignificantes. Por
conseguinte, o termo "racismo" deve ser substituído, na nossa linguagem
quotidiana, pelo termo "xenofobismo", quer dizer, o medo natural (de “fobia”,
medo, aversão) que o ser humano normalmente tem ao que é simplesmente diferente.
Trata-se de um questão filosófico-antropológica de grande relevo.
Trata-se da sempre e ainda discutida problemática da identidade e da diferença.
Diz o slogan: "Todos iguais, todos diferentes". Como interpreta-lo?
Simples:
1. "Todos iguais" – em direitos e deveres. Qual o fundamento desta tese? Todos
os habitantes deste planeta, que ainda nos recolhe sob o seu tecto rarefeito,
são, igualmente, seres humanos. Sob a base deste alicerce irrefutável foi
aprovada, em 1948, a "Declaração Universal dos Direitos Humanos",
lamentavelmente ainda esquecida – não tanto em teoria, mas em prática – por
muitos Povos e Nações ditos civilizados;
2. "Todos diferentes" – as dissemelhanças essenciais entre os seres humanos não
são dadas pela cor, ou por qualquer outro tipo de características meramente
acidentais. Mas sim, pela cultura em que crescem e se devolvem; por um conjunto
de hábitos, tradições, costumes, perfilhadas por um dado Povo. E também neste
ponto, é completamente desarrazoada qualquer espécie de discriminação: não há,
efectivamente, culturas superiores ou inferires. Há, somente, culturas
diferentes.
Pelos argumentos expostos, torna-se claro que devemos caminhar no
sentido da interculturalidade, da multiculturalidade, do diálogo
inteligentemente “inter-seccionado” entre as diversas culturas. Aqui reside, a
um tempo, o enriquecimento da Humanidade e o desenvolvimento progressivo da Raça
Humana.
Devemos, ainda, centrar a Educação dos Povos num universo
naturalmente pluricultural, não partindo de uma estratégia de dominação, mas do
diálogo aberto, sem “pré-conceitos”.
Senão vejamos: Os Índios da América – para citar apenas um exemplo
entre tantos outros espalhados por este mundo – caracterizam o homem branco como
o homem de “língua bifurcada”, isto é, o “homem que tem duas palavras”. Será que
nos revemos, nós brancos, nesta qualificação?
A educação das nossas sociedades está marcada por estratégias de
dominação, onde o “discurso” e o “canhão” “co-habitam” e/ou alternam como
instrumentos de guerra. Porém, a ignorância do Outro conduz-nos à ignorância de
nós mesmos e, a limite, à nossa própria destruição.
As ciências trazem, elas também, a marca da sociedade em que nasceram. Urge, por
conseguinte:
1. Inventar uma nova linguagem, uma nova forma de comunicação e de
entendimento, ainda mais universal do que a Língua dos Homens.
2. Estabelecer, de uma vez por todas, um diálogo de plena comunhão
com Outro;
3. Aceitar a diferença e conviver pacificamente com ela;
4. Respeitar os deveres para consigo mesmo e, concomitantemente, os
deveres para o outro.
Tenho dito.
Isabel Rosete
21/11/2007
PS: Acabei de escrever este texto para todos vós. É apenas a minha tese sobre
esta problemática, tão discutível como qualquer outra. |