O Humaníssimo Olhar
de um Pintor Aveirense
Lopes de Sousa é Autor de uma rica
paleta de cores, de sons e de formas; de uma paleta de afectos, de
memórias e de sonhos.
O seu olhar arguto, a sua
sensibilidade salina e a sua técnica milenar de artesão dão-lhe a
originalidade, o perfume e a poesia que habitam os seus trabalhos,
especialmente os dos últimos anos, porque mais autênticos, mais
maduros, mais seus.
Lopes de Sousa nasceu em Aveiro. E
isso sente-se nas cores intensas, nas transparências e nos
revérberos mágicos que bebeu no espaço aberto da nossa cidade, na
luz brumosa e única da nossa ria.
Mas a sua pintura não se encerra na
estreiteza dogmática de um qualquer discurso regionalista, porque
está matricialmente marcada por uma profunda humanidade.
Dr. Manuel Ferreira Rodrigues
Da Análise das coisas
Ao sentir dos instantes...
A obra de Lopes de Sousa é marcada
por um forte sentido estético; as recorrências aos “sinais”,
introdução a um simbolismo representativo determinará, em muitas das
circunstâncias, uma visão muito própria que o artista possui do
mundo onírico que o habita.
Não terá sido sempre assim; em
regra, a experimentação é percurso inicial para quantos se dão à
criatividade. Mau seria se assim não se verificasse... Mas Lopes de
Sousa, cedo terá tido a noção mais próxima do seu próprio percurso
e, tecnicamente habilitado, vem impondo uma feitura muito
característica ao seu trabalho, não tanto pela originalidade
temática ou de raiz expressiva. Hoje em dia é difícil ser-se
inteiramente original, uma vez que as coincidências interpretativas
dos autores, entre si são constáveis, face à “imposição” de
processos criativos e interpretativos que se impõem como resultado
duma eficaz cadeia de informação, o que resulta em naturais
influências (que não assimilação pura e simples, é bom que se
registe...) que, com toda a naturalidade, “marcam” a realização
artística de diferentes artistas, em latitudes bem diversas e
soluções próximas, que determinam a leitura das próprias situações,
perspectivas de realização ou propostas estéticas trazidas a público
em quadrantes bem distintos.
Ao procurar determinar valores
representativos para a sua própria obra, este autor traduz
inquietações de alguma universalidade, situando-se num ângulo de
observação muito peculiar, este sim, um dos mais referenciáveis
aspectos da sua pintura, matérica e recolhida em cores de paleta de
grande sobriedade, sem recorrer a estridências cromáticas que, por
vezes, não são mais que um ardiloso processo de ocultação de
objectivos.., não conseguidos! Isto não acontece na pintura de Lopes
de Sousa, autor que sustenta as suas obras numa arquitectura de
geometrias em que o equilíbrio dos espaços é soberanamente
conseguido.
Vivendo de sinais e alguma
simbologia (que se admite interiorizada no ser criativo que se
expressa no pintor), a pintura deste autor determina e determina-se
enquanto valor referenciável de novas formas de sentir cada momento,
instantes que se vão repercutir nas superfícies trabalhadas e onde a
análise de cada uma das coisas, possui o encanto duma história que
se desenha em termos vivenciais, bem ao encontro da imagética que a
todos nós é natural.
As interpretações serão tão pessoais
quanto a capacidade de cada um dos observadores das obras; entre o
lirismo das referências, e o onírico que cada observador alberga, se
situarão as diferentes reacções.
Mesmo correndo o risco de perder-se
em preciosismos desaconselháveis (é sempre um risco assumido por
autores cuja obra roça o “perfeccionismo”, mesmo quanto a olhares
alheios tal cuidado parecerá não ser evidente...), Lopes de Sousa
recorre a uma técnica que sublima o resultado final em termos de
impacto visual onde os sentidos não se alheiam do objectivo
proposto; a vivência das pinturas deste artista é factor de
referência, dada a sua abrangência sagaz dos espaços em que a mesma
é patenteada. Será, em última análise, a capacidade de ler com
objectividade, o que se sobrepõe ao exercício do supérfluo,
eliminando-o enquanto “adereço” complementar realçando o significado
de toda a representação que se propõe nos observadores. E uma
virtude que se recolhe na obra de Lopes de Sousa. Nada no artista é
acaso, e toda a estrutura do seu trabalho assenta no rigor do
geometrismo que lhe confere sustentação.
A pintura deste autor é assim
credora do maior apreço e merecedora de continuada divulgação,
talvez até para, comparativamente, serem determinados valores mais
exactos entre o simples fazedor de coisas e aquele que, em
consciência, é o Pintor Lopes de Sousa. Nele, nada ficando ao sabor
das circunstâncias ocasionais, pode ser classificado como mero
circunstancialismo; ao contrário, o artista assume um posicionamento
em que, por via da investigação a que sujeita o seu trabalho, se
assume cultor do princípio básico da arte, ou seja, intérprete
privilegiado do sentido de criar algo que não estará ao alcance de
todos quantos, com igual propósito, aceitemo-lo, buscam esse
desiderato...
Lopes de Sousa iniciou um dia um
percurso; haverá que o prosseguir. Tem essa responsabilidade.
Carlos Lança, Presidente da ANAP
- Porto, Outubro de 2003
"Lopes de Sousa tem desde sempre,
assumido um rosto observador. Não no panorama das artes plásticas,
nem da criatividade, onde tem sido um “fazedor’ de coisas belas, mas
observador do real e do que está para além dele.
A beleza do quotidiano anda de mãos
dadas com as suas criações, surgindo de uma forma espontânea, ainda
que, obedecendo a uma técnica e a um rigor que, sem dúvida, domina.
A sua pintura tem seguido uma linha evolutiva constante, ao sabor do
poder imaginativo do autor e, da crescente aprovação do seu público,
que, é hoje uma realidade.
Ainda no âmbito
desta reflexão, que já vai sendo longa, torna-se-me imperioso
sublinhar que, olhar a obra deste artista é concluir: se numa
primeira visão somos surpreendidos, pela vivacidade e pelo
atrevimento, numa segunda visão somos conquistados pela capacidade
que tem de nos envolver e de nos emocionar..."
Dra. Ana Margarida Silva Boaventura
Figueiredo – 2004 |