Este tema leva-nos a reflectir como era passada a
juventude das gerações entre o final da Segunda Grande Guerra e 1974, ou
seja, as gerações entre as décadas de 40 e 70 do século passado. E
tornar-se-ia interessante se tivéssemos aqui espaço para estabelecer um
paralelo entre a actualidade e o passado.
Como é que os jovens conseguiam sobreviver num universo
sem televisão, sem computadores e sem meios de comunicação de trazer no
bolso? Estariam pior que nos tempos actuais?
Em primeiro lugar, sem as modernas tecnologias, tínhamos
muito mais liberdade. Tínhamos as ruas das cidades ou das vilas
praticamente quase por nossa conta. Podíamos jogar à bola uns com os
outros no meio da rua, porque só de vez em quando passava um meio de
transporte que nos obrigava a parar a brincadeira. E os mais frequentes
não nos incomodavam, porque os ciclistas passavam ao lado.
Não tínhamos televisão. Só muito tardiamente ficámos a
saber o que isso era. E mesmo um rádio nem todos o tinham. Mas tínhamos
uma enorme variedade de jogos, que variavam de acordo com a época do
ano. E os brinquedos eram poucos. Para os podermos ter, que tínhamos que
puxar pela imaginação e criatividade e construí-los com madeira e pregos
encontrados aqui e ali. O problema era na altura em que o pião era o
jogo que estava na ordem do dia, porque os botões eram a nossa moeda e
depois tínhamos os ralhetes das mães, quando viam a nossa roupa sem os
devidos acessórios.
Outro passatempo, que exigia que pedinchássemos uns
tostões, eram os rebuçados com os bichinhos para coleccionarmos e colar
nas cadernetas. E eram, juntamente com os cromos, uma forma de convivermos e partilharmos o que possuíamos.
Quando surgiu a televisão em Portugal, esta era uma forma
de convívio à noite entre jovens e menos jovens, porque só existiam
emissões à noite, a seguir à hora do jantar. E as pessoas sem dinheiro
para o aparelho reuniam-se em casa dos amigos que o possuíam. Em várias
localidades, assistia-se à televisão como quem ia ao cinema,
especialmente em alguns cafés onde a televisão era projectada num ecrã
numa sala às escuras. O bilhete para entrada era fornecido após a
despesa com a bica ou alguma bebida. Isto que acabámos de recordar é
apenas uma gota de água num mar de recordações, porque temos um exíguo
espaço de escrita.
Num aspecto a juventude actual talvez esteja melhor. No
nosso tempo, rapazes e raparigas não podiam ter aulas em conjunto. E se
fôssemos para perto de uma escola feminina ver as miúdas,
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27 / arriscávamo-nos a ter problemas.
Enfim, coisas de outros tempos.
Seria interessante referir os diferentes tipos de jogos,
que nos ajudavam a desenvolver física e psicologicamente e que variavam
de acordo com a estação do ano: o jogo do pião, o berlinde, os carros de
rolamentos com tábuas e os rolamentos que pedíamos nas oficinas de
automóveis, as trotinetes construídas por nós, os carrinhos com rodas de
tampas das bebidas, etc. Ficará, talvez, para outra ocasião. Terminamos
com uma sugestão: perguntem aos vossos avós, se tiverem a sorte de ainda
os terem, como é que eles passavam o tempo em miúdos. Os vossos pais são
já da geração do Spectrum; mas os deles são muito anteriores à
existência de computadores e telemóveis. Seja como for, uns e outros
talvez tenham muita coisa interessante a contar-vos.
E como recordar é viver…
Aveiro, 18 de Dezembro de 2023
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25 de Abril por
Maria Helena Vieira da Silva |
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