Estar
em todo o lado ao mesmo tempo,
não
estar em lado nenhum de uma só vez,
ficar
preso na linha de existência,
este
silêncio é barulhento, esta solidão fala ainda mais alto.
O
zumbido nos meus ouvidos
pára,
a minha mão inconsciente torce-se,
parece que tudo ao mesmo tempo ... eu estou algures, e só lá estou;
ancorado por membros pesados de exaustão.
(já
não consigo encontrar todo o lado, já não conheço o caminho para
lado nenhum)
estas
mãos cansadas pertencem ao meu eu presente,
mas
ainda mais ao meu eu do passado
que
agarravam as vertentes do potencial
sempre fora de alcance...
(o
meu balão está amarrado ao meu pulso com fio, este fio que se
desenrola, este balão
que
não consigo alcançar, este balão que já não é meu)
os
meus olhos deslocam-se das minhas mãos para a janela ao meu lado
para
além deste vidro
nesta
viagem acima do mundo
quase
parece que estas nuvens estão ao meu alcance
É
louco o eu que pensa que estas nuvens estão ao meu alcance?
São
os loucos que pensam que as nuvens são água?
Ou é
loucura as palavras pensarem que viverão mais tempo do que estas
nuvens?
(talvez eu possa encontrar o meu balão entre elas?)
Para
estar em todo o lado ao mesmo tempo, não estar em lado nenhum ao
mesmo tempo, volto a mim próprio de novo.
(um
dia não haverá todos os lugares,
um
dia, não haverá lugar a lugar nenhum,
um
dia não haverá nenhum lugar,
um
dia, não vou mais desejar lugar nenhum)
tenho
em mim todos os desejos do mundo,
mas o
meu eu não se esqueceu de como sorrir
(este
balão, parece, já não é realmente meu)
estes
desejos voltam para o mundo,
para
os rios e pedras,
que
têm muito mais tempo para ponderar do que eu.
Com
um nome, em um só lugar,
estou
acorrentado a mim mesmo,
ainda
assim, nunca me senti tão livre.
Maya Afonso (12.º J) |