MEALHADA
Grande centro de turismo
Mealhada é uma simpática vila do distrito de Aveiro, cuja
visita deve recomendar-se ao turista. Encontra-se situada na antiga
Bairrada, uma das regiões mais características do país. Nos seus
arredores, integradas em paisagem plena dos mais belos motivos, acham-se
pequenas vilas e aldeias a que não falta encanto e pitoresco local.
Mealhada foi fundada em época remotíssima, anterior à
própria nacionalidade portuguesa.
Não está ainda devidamente averiguado a quem se deve
atribuir a sua existência; mas no tempo dos romanos e árabes já existia
com certa importância.
Passava por aqui a estrada militar romana; e, desse
facto, ainda em 1856 se podiam encontrar vestígios. Quando neste sítio
se andava a construir um troço do caminho de ferro do Norte,
encontrou-se um marco militar romano, dedicado a Calígula. Apareceu à
distância aproximada de 650 metros da vila actual. Trata-se de um
cippo em forma de fuste de coluna, com 2,04 metros de alto e 1,40 de
circunferência. Os mouros, quando do seu domínio de séculos,
reconstruíram a via militar romana, bastante danificada pelo tempo e
pelas guerras.
Esta terra e outras do mesmo concelho são tão antigas que
delas já dispunha o conde D. Raimundo, genro de D. Afonso VI
de Leão, no testamento em que doou a D. Crescónio, bispo de
Coimbra, e aos clérigos da Igreja de Santa Maria, o antiquíssimo
mosteiro bobulense da Vacariça. Este mosteiro, segundo uns, havia sido
fundado por Paulo Osório, no século V; e, segundo outros, pelo
patriarca S. Bento, no século seguinte. Esta última hipótese parece a
mais aceitável, porque pertencendo o mosteiro aos monges beneditinos não
podia ser edificado antes da criação desta ordem na Europa.
D. Manuel deu foral à Vila de Mealhada, em Lisboa, a 12
de Setembro de 1514.
Actualmente, esta vila é das mais prósperas e atraentes
do país. A região vive, principalmente, embora possua os mais variados
produtos agrícolas, do comércio e exportação dos seus famosos vinhos,
conhecidos pela designação de vinhos da Bairrada ou de Anadia.
Outra determinante do seu desenvolvimento é o facto de
ser atravessada pela estrada Lisboa-Porto e pelo caminho de ferro.
Uma razão de ordem turística apreciável é, também, a
proximidade a que se encontra da serra do Buçaco e da famosa estância de
Luso.
Por todos os motivos, Mealhada pode encarar o futuro com
confiança, porque não lhe faltam ricos recursos.
No campo turístico, então, pode orgulhar-se de possuir
duas das mais belas estâncias de turismo, bastante conhecidas no país e
no estrangeiro: as Termas das Águas de Luso, e a Serra do Buçaco.
Não há ninguém no nosso país
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as ter bebido, não conheça as águas de Luso, bastante vulgarizadas. À
excelência das águas e ao pitoresco da estância, vieram juntar-se
variadíssimos elementos de atracção, civilização e conforto – hotéis,
pensões, boas vias de comunicação, casino, campos de jogos, piscina,
parques, jardins que tornam essa estância da Mealhada uma das mais
preferidas por nacionais e estrangeiros.
A empresa das Águas de Luso, a Comissão de Turismo e a
sua Câmara Municipal, têm dado o maior incremento a essa estância, à
qual nos temos referido em outros números desta Revista, por diversas
vezes, merecendo-nos uma referência especial noutra página deste Número.
Do Buçaco pode dizer-se que é um dos mais aristocráticos
lugares da paisagem portuguesa – aristocrático não apenas pelas
tradições da sua escolhida frequência mas pela própria majestade do
lugar – mansão ideal de beleza e tranquilidade onde paira um silêncio
religioso e antigo, e que nunca mais se apaga na lembrança dos que
tiveram a sorte de aí passarem alguns dias, por certo num verdadeiro
encanto.
Por entre sombras de matas seculares murmuram fontes e
arroios, encontram-se ermidinhas e cruzeiros, por toda a parte os
piedosos vestígios dos frades carmelitas que, há séculos, viveram no
retiro da serra e construíram esta mansão, que hoje serve para recreio e
gozo espiritual e material dos indivíduos que a procuram.
Dignas de ver-se, as capelas que simbolizavam a «via
dolorosa», com curiosos grupos escultóricos que estão sendo
reconstituídos, com apurado sentido artístico, pelo grande escultor
Costa Mota, Sobrinho.
A par do invulgar pitoresco e da fascinante paisagem, não
falta ao lugar o prestígio histórico, pois aqui se feriram famosas
batalhas em que portugueses e ingleses derrotaram as tropas de Napoleão,
como o atesta um monumento-padrão erguido para comemorar a guerra
peninsular.
O Palace-Hotel do Buçaco é majestoso edifício, decorado
com opulência, e por ali têm passado reis, príncipes, artistas,
milionários, homens dos mais ilustres, alguns destes tendo manifestado
as melhores impressões – como o príncipe Licherowky que, falando da Mata
do Buçaco, afirmou não conhecer na Europa nada que se lhe assemelhe.
Supomos não serem necessárias mais palavras para demonstrar como a
Mealhada é um dos mais belos centros turísticos do país.
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