CREIO que
não há ninguém hoje que não sinta a necessidade de ter a acompanhá-lo na
vida uma série de «papéis». Desde o papel de carta já timbrado, à agenda
de bolso e da cozinha, são inúmeras as aplicações e inumeráveis as
vantagens dos «papéis».
Não vamos defender a política dos «papéis» para
complicar, para demorar, de «papéis» que se sobrepõem a outros «papéis»
que se distinguem só pela cor. Também não vamos defender a teoria de que
mandar escrever um papel é motivo para que o assunto de que se trata já
não se resolva, porque o interessado... não sabe escrever. Felizmente
até nesse aspecto já vamos caminhando com mais segurança, porque vai
havendo pouca gente que não saiba ler e escrever, dos e nos «papéis»,
tão úteis ao Homem quando este Homem não perde a cabeça e adquire a
paixão louca de ser «desbravador» de papelada.
Veio esta introdução porque entendo que os Bombeiros não
têm «papéis». Os Corpos de Bombeiros Voluntários não têm uma estrutura
básica que lhes permita − aos que quiserem, evidentemente − caminhar
confiada e rapidamente no sentido que o estudo e a experiência tenham
indicado como a melhor.
Pois não será um facto que muitas Direcções e Comandos
perdem mais tempo a estruturar os seus serviços, tantas vezes
ingloriamente, numa tentativa de trabalharem com os pés bem assentes, do
que a dar seguimento a assuntos pendentes que lhes fogem das mãos, ou
sobre os quais não se chegam a debruçar, por manifesta insuficiência de
elementos, isto é, de estrutura sobre a qual se possam apoiar?
E não será verdade que praticamente cada Direcção e cada
Comando tem as suas estruturas e se dão ao luxo de criarem a maioria dos
seus «papéis»?
E digo luxo, porque este termo lembra dinheiro, mas
dinheiro além do necessário para o fundamental, que é desbaratado sem
qualquer proveito quando se verifica que as estruturas e os «papéis»,
criados em longas meditações ou em momentos de euforia, não respondem ao
que se pretende.
É uma realidade e os Bombeiros precisam que os ajudem a
definir a estrutura interna que mais lhes convém e depois lhes criem os
modelos de «papéis» que correspondam às suas reais necessidades.
A melhoria das relações entre Direcções e Comandos,
destes para os seus Corpos e das Associações para as Entidades
Superiores estão pendentes da dita estrutura, que deve obedecer às
modernas técnicas de organização, de modo a que todos possam seguir
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figurino que tenha possibilidades de ser o melhor e o mais eficiente,
para o organismo a que se destina.
Nos nossos dias, empresas especializadas vendem
«organização» como o alfaiate da nossa rua nos corta e confecciona um
fato. Assim, por que esperam as Entidades responsáveis para entregarem a
uma empresa idónea o trabalho. de estudar e propor um tipo de estrutura
interna para as associações que mantêm corpos de Bombeiros, e que
responda às suas reais necessidade?
Falta de dinheiro? Não o creio porque, em horas perdidas,
arrelias, atrasos em fornecer elementos, zangas, perdas de subsídios,
descontrolo dos serviços, perdas de material e de equipamento, etc.,
etc., estão razão e dinheiro suficiente que justificam e suportam tal
trabalho.
Mas se não há dinheiro e as tais empresas não aceitam as
faltas e os prejuízos que sofrem os Bombeiros como pagamento, por que
não sacrificar parte da verba oficial que nos é destinada num ano? Serão
menos uns metros de mangueira, umas moto-bombas e uma ou outra viatura,
mas será verba com altos rendimentos e grande efeito na evolução das
associações de Bombeiros.
Se alguém se der ao trabalho de ler estas linhas e de
meditar sobre elas e possa decidir concordando com este comentário, só
me resta pedir-lhe que não se esqueça de que os tais modelos de
estruturas e de «papéis» só interessam se servirem às corporações de
todo o País.
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