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        1. UM OLHAR SOBRE O ESPAÇO 
        
        O séc. XX marcou aquilo a que se convencionou designar de 
        procura social da educação, que se fez sentir, também, na procura de 
        níveis de formação não obrigatória e complementar onde a música tem 
        vindo, progressivamente, a ocupar um lugar de relevo, o que a realidade 
        vem confirmando com a procura cada vez mais generalizada de espaços 
        educativos adequados. É que, em nossa opinião, o ensino artístico, pelos 
        apelos à sensibilidade e aos dotes criativos do homem, funciona como uma 
        espécie de amortecedor em relação ao pensamento, minorando os riscos da 
        cientificidade plena. 
        
        O homem pretende-se e aspira ao "homem total". Não se 
        revê na parcialidade, anseia pela plenitude, «uma plenitude na 
        direcção da qual se orienta quando busca um mundo mais compreensível e 
        mais justo, um mundo que tenha significação.» (Fischer, 1983:13). 
        Nesta sua procura do significado das coisas, o homem tem a referência da 
        sua experiência e do seu saber, do contexto social e histórico. A música 
        constitui uma oportunidade para tal, já que ela é a síntese de «sons 
        dispostos em determinados modos e em determinadas relações, elevando a 
        expressão a um elemento unicamente feito pela arte e para a arte.» (op. 
        Cit. 207), e da experiência pessoal e social do seu compositor. Porque a 
        experiência de um compositor nunca é puramente musical, mas pessoal e 
        social, ou seja, condicionada pelo período histórico em que vive e que o 
        afecta de muitos modos. Por aqui passa a legitimação social da arte e a 
        sua entrada nas instituições sociais e educativas. É nesta encruzilhada 
        dos saberes científico e artístico, é neste espaço de consensos 
        cognitivos e de diálogo objectividade-subjectividade que se situa o 
        "sonho" do homem total. 
        
        Para D'Allones, a finalidade da educação «é a 
        emergência dessa subjectividade como capacidade de fazer de outro modo, 
        isto é, de configurar o real, o real social, mas também o estado das 
        técnicas, dos conhecimentos, das possibilidades económicas. Criar 
        coisas.» (1993:56). Esta constitui, a nosso ver, a tendência 
        fundamental do homem: sentir-se diferente e ele próprio. O mesmo autor 
        afirma que «a actividade artística faz surgir um tipo de homem novo», 
        precisamente pela sua capacidade de fazer de outro modo. 
        
        Pensamos serem oportunas as palavras introdutórias de 
        Educação Artística Especializada: preparar as mudanças qualitativas, 
        documento editado e divulgado pelo Gabinete de Educação Tecnológica, 
        Artística e Profissional (GETAP), em 1/10/1991: 
        
        No dealbar da última década do séc. XX, em 
        / 
        31 / que nos é dado viver a esperança de um 
        mundo mais fraterno e livre, assiste-se, em Portugal, ao renascimento da 
        educação artística, também ela nutriente de mais verdade, de mais 
        liberdade, forja de homens e mulheres novos. Na verdade, se educar é 
        sempre alargar a fronteira da liberdade, o incremento da educação 
        artística integra esse movimento sob uma dupla vertente: por um lado, na 
        medida em que vem abrir novas oportunidades de escolha para os jovens em 
        formação e, por outro, porque desencadeia uma humana e inesgotável maré 
        viva de afirmação da diferença e da expressão da diversidade. 
        
        Tanto a educação artística genérica como a educação 
        artística especializada (...) contribuem inequivocamente para o 
        desenvolvimento pessoal e social das crianças e dos jovens. 
        
        As consequências políticas deste enunciado são evidentes: 
        o acesso à educação artística tem de ser progressivamente generalizado 
        entre as camadas jovens; a qualidade de formação é um pré-requisito 
        imprescindível para proceder a esse alargamento; o sistema educativo, 
        nomeadamente o subsistema, devem cultivar crescentemente o direito à 
        diferença, a liberdade e a diversidade de modelos de concretização 
        (1991:7). 
        
        Na verdade, «um país musical é um país 
        convenientemente preparado para aceitar todas as lições do progresso, 
        para saber vibrar, um país cujo teatro represente a sua verdadeira 
        missão, e seja o livro dos que não têm livros, como o exigia
        um belo espírito, recebe por este intermédio parte da 
        sua educação moral e cívica»(1), 
        o que legitima o enquadramento social do Conservatório de Música e lhe 
        confere, de algum modo, o direito à fala e a um lugar pedagógico. Por 
        outro lado, «a progressiva democratização do ensino, o incremento de 
        divulgação dos bens culturais e a proliferação e desenvolvimento das 
        artes, provocaram nos últimos anos uma verdadeira explosão das 
        apetências e das necessidades neste campo: em consonância com a 
        multiplicação e diversificação de perspectivas para a actividade 
        artística, seja em termos de criação, de 
        interpretação, de produção, de difusão ou de fruição»(2), 
        o que nos permite deduzir que a preocupação dominante, neste extracto, é 
        a integração da evolução artística na dinâmica social. A Escola é o 
        local por excelência promotor e activador desta dinâmica. 
        
        De facto, na nossa sociedade, as escolas constituem um 
        suporte fundamental, ainda que não exclusivo, do desenvolvimento 
        intelectual e da mente. A mente envolve as grandes redes de processos 
        simbólicos que as culturas humanas geraram, conservaram e depuraram 
        através dos tempos, incluindo as ciências, as humanidades e as artes, 
        assim como todas as formas de expressão e atitudes socioculturais. Os 
        verdadeiros fundamentos da educação consistem em preparar os 
        instrumentos adequados à organização do pensamento, por forma a uma 
        apreensão da totalidade da experiência humana, pois «o pensamento não 
        está ligado apenas a um determinado tipo de conhecimento, nem à 
        linguagem verbal nem à dos sistemas de simbolismo lógico (como utilizam 
        as matemáticas) destinados a condensar e amplificar o que se pode 
        expressar verbalmente. Também podemos pensar musicalmente.» (Swanwick, 
        1991:118). 
        
        Rodrigues, afirmando que a experiência estética «procede 
        da totalidade da percepção sensível», declara que «a obra musical 
        não é meramente de natureza auditiva, mas envolve o conjunto da 
        percepção do mundo.» (1991:31). 
        
        A dimensão ética e pedagógica da educação artística é 
        completada, pois, pela dimensão cognitiva, na medida em que ela promove 
        a construção de imagens e de concepções do mundo: «A educação 
        artística 
        / 32 / 
        deve, para além do seu treinamento técnico (...) e do ensinar e 
        apreciar, exactamente habilitar os estudantes a abranger o mundo 
        presente, e a desenvolver uma relação singular consigo próprios, e com o 
        seu ambiente, natural, social e cultural.»(Dias, 1992:89). Para 
        tanto, é indispensável a apropriação dos vários modelos de discurso que 
        aproximem o indivíduo da realidade pluridimensional. Daí que uma 
        educação artística não possa marginalizar essa relação fundamental do 
        homem com o universo de fenómenos, os quais constituem uma parte 
        importante no processo de estruturação do discurso artístico. 
        
        Já João de Barros (1916) dizia que «não há sociedade 
        democrática que possa viver, progredindo, sem o culto da Arte.» (p. 
        97), porque «sem ensino artístico não há educação da sensibilidade e 
        não há cultura geral que valha.» (p. 63) e porque «o culto da 
        Arte (...) constitui hoje uma das bases indispensáveis da educação moral 
        e da educação cívica.» (p. 99), constatando, porém, que «em 
        Portugal, (…) não se sentiu ainda de maneira eficaz o valor e a 
        importância da Arte – e, por conseguinte, menos se compreendeu o seu 
        valor e importância como factor de educação social, como auxiliar 
        imprescindível da educação da criança e do adolescente.» (p. 99). 
        
        É neste contexto que surge o Decreto-Lei 344/90 (Lei de 
        Bases do Ensino Artístico), de 2 de Novembro, o qual «define apenas 
        os grandes princípios, estruturas e linhas gerais que enformarão todo o 
        sistema que ora arranca, remetendo-se para legislação subsequente o 
        desenvolvimento do quadro geral respeitante a cada uma das áreas 
        consideradas.» A sua institucionalização é forçada pela «consciência 
        de que a educação artística é parte integrante e imprescindível da 
        formação global e equilibrada da pessoa, independentemente do destino 
        profissional que venha a ter, assumida pelo poder. Ou seja, é 
        reconhecido o direito a uma educação artística universal, desde o 
        primeiro ciclo até ao ensino superior, podendo mesmo iniciar-se no nível 
        pré-primário, que promova a formação da sensibilidade 
        e devolva o rosto humano à escola.(3) 
        
        Nesta perspectiva, a escola tem, como local privilegiado 
        de formação, que estabelecer a síntese necessária entre os discursos 
        racional e intuitivo como espaço de harmonização pedagógica e 
        institucional. Dada a pluridimensionalidade do universo humano e a 
        diversidade de discursos daí decorrente, à escola, como instituição 
        educativa legitimada pela sociedade, compete assumir a unidade dos 
        discursos como via mais apropriada a um desenvolvimento equilibrado do 
        indivíduo, a uma formação completa do homem. 
        
          
        
        2. UM OLHAR SOBRE O TEMPO 
        
        2.1. O que é um Conservatório 
        
        Um Conservatório é uma Instituição que se dedica ao 
        ensino da Música em tomo de um plano oficial e oficializado. A palavra 
        Conservatório não tem qualquer relação com a ideia de «"conservar" 
        intacta e pura a arte ou a ciência da música, de a preservar de qualquer 
        corrupção», (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura, s/d: 1548), 
        mas foi, nas suas origens, na Itália do séc. XVI, um local destinado a 
        instituições de caridade, onde «os órfãos, as crianças abandonadas ou 
        sem família, eram educadas (‘conservati’) até poderem 
        prover ao seu sustento» (id. ibid.). Aí, se ensinava a arte dos 
        sons, o que, por analogia, veio, mais tarde, a aplicar-se a certas 
        escolas de música, tendo sido fundada a primeira, no séc. XVI, em 
        Nápoles. Entretanto, o primeiro, na acepção moderna da palavra, foi o de 
        Paris, criado em 1795, «destinado primordialmente a proporcionar o 
        ensino da música a todas as classes sociais.» (id" ibid.). A criação 
        de Conservatórios, a começar pela Itália, estendeu-se pela Europa. Em 
        Portugal, surge o primeiro Conservatório, em Lisboa, em 5-5-1835 
        (Conservatório Nacional de Lisboa), fundado por Almeida Garrett. No 
        Porto, é criado, em 1-6-1917, o Conservatório Municipal do Porto, 
        transferido para o Ministério da Educação Nacional pelo Decreto-Lei n.º 
        519/72, passando a «reger-se, na parte aplicável, pelas disposições em 
        vigor para o Conservatório Nacional» / 33 / (Perdigão,1981:293). 
        
          
        
        2.2. Um pouco de história 
        
        Em documento intitulado "Conservatório Regional de Aveiro 
        Calouste Gulbenkian" e subtitulado "justificações e Bases para a 
        organização do Conservatório Regional de Aveiro", afirmava, em carta de 
        6 de Junho de 1969, inserida naquele documento, o Presidente da Fundação 
        Gulbenkian: 
        
        O Conservatório Regional de Aveiro é um estabelecimento 
        de ensino prestigiado e prestigioso, juridicamente organizado. 
        
        Por consequência, o facto de passar a dispor de novas 
        instalações não deverá, só por si, determinar uma alteração da sua 
        personalidade e profundas modificações na sua estrutura, a principiar 
        pelo nome, que deverá continuar a ser o mesmo «Conservatório Regional de 
        Aveiro», com um único aditamento – «Calouste Gulbenkian» (1969:9) 
        
        O Conservatório de Música de Aveiro nasceu a 8 de Outubro 
        de 1960), ficando instalado, provisoriamente, no então 
        Liceu Nacional de Aveiro(4). 
        Inicialmente, previsto designar-se Academia de Música 
        de Aveiro(5), 
        acabaria por se assumir como Conservatório Regional de Aveiro, obra 
        dinamizada e materializada em torno da acção persistente e insistente do 
        seu mentor principal, Orlando de Oliveira, ao tempo Reitor do Liceu 
        Nacional de Aveiro, e com a intervenção da Fundação 
        Gulbenkian, através do seu Presidente, Azeredo Perdigão(6). 
        O Jornal local “Correio do Vouga”, de 1/10/1960, lembra que se trata do 
        primeiro Conservatório Regional do País, o que confere particular 
        significado ao acontecimento. 
        
        Dos seus Estatutos consta no artigo primeiro: 
        
        O Conservatório Regional de Aveiro é uma instituição de 
        tipo associativo e de carácter particular, com sede na cidade de Aveiro, 
        e tendo em vista os seguintes objectivos: 
        
        I). Ministrar o ensino das disciplinas que fazem parte do 
        plano oficial dos Cursos Geral e Superior do Conservatório Nacional, 
        habilitando os seus alunos para os exames oficiais e proporcionando-lhes 
        ainda o ensino de disciplinas em plano próprio superiormente autorizado. 
        
        II). Promover, fomentar ou patrocinar a divulgação 
        artística no distrito de Aveiro, através de concertos, audições 
        escolares e palestras versando assuntos literários, artes plásticas, 
        história da música, etc, para o que poderá aceitar a colaboração de 
        outras organizações tendentes a atingir a mesma finalidade. 
        
        Feito o percurso normal de uma entidade projectada para 
        injectar algo novo no território próprio, o Conservatório foi, 
        paulatinamente, dando mostras do seu desassossego despoletado pelo 
        conflito em gestação entre o desejo e a necessidade de ampliar a sua 
        área habitável e a precaridade do espaço disponível. A 
        interinidade de instalações chegou, porém, ao fim do seu mandato, em 
        1964(7), com o 
        lançamento da "primeira palavra" do que viria a ser a nova e actual casa 
        do Conservatório. É assim que no ano lectivo de 1970-1971 (...) foi 
        justamente marcado pela inauguração oficial das novas 
        instalações do Conservatório».(8) 
        
        Já neste documento se lança a intenção de oficializar o 
        Conservatório: 
        
        «Sente-se, por um lado, a necessidade da oficialização; 
        mas, por outro lado, ainda se não viu o enquadramento legal a cujo 
        abrigo se 
        / 34 / possa 
        requerer, com segurança, o regime de instituição oficial». 
        
        O edifício, onde, actualmente, funciona 
        o Conservatório de Música de Aveiro foi inaugurado no dia30de Março 
        de 1971(9). 
        Tratou-se de um momento de alto significado para a região e para a 
        cidade de Aveiro. Na verdade, «o acontecimento era digno da solenidade 
        de que se revestiu: tratava-se da inauguração oficial das moderníssimas 
        instalações do mais autorizado e prestigiado instituto de educação 
        artística do Distrito, já com provas de valia 
        incontestável averbadas ao longo de quase uma década»(10). 
        Obra tornada possível pela intervenção activa da Fundação Calouste 
        Gulbenkian, cujo presidente reconhece que «o Conservatório reúne 
        condições técnicas e pedagógicas capazes de propiciar eficiente ensino 
        nos domínios infantil e primário, línguas, iniciação 
        artística (música e artes plásticas), bailado e cursos gerais e 
        superiores de música»(11) 
        
        Recuando um pouco no tempo, são já de 1959 as diligências 
        e as intenções de preparar o caminho para a criação de uma escola de 
        música, cujo suporte institucional precisava de ser encontrado e 
        escriturado. 
        
        Assim, naquele ano, são criadas duas instituições com o 
        mesmo nome: Conservatório Regional de Aveiro. (Oliveira, 1985: 
        61-62). 
        
        a) - Uma Sociedade Cultural de carácter particular com 
        sede em Aveiro e dois objectivos fundamentais: 
        
        – Criar uma Escola aonde se ministrasse o ensino das 
        disciplinas que fazem parte do plano oficial dos Cursos Gerais e 
        Superiores do Conservatório nacional; 
        
        – Promover, fomentar ou patrocinar a divulgação artística 
        no distrito de Aveiro através de concertos, audições escolares e 
        palestras versando assuntos literários, artes plásticas, história da 
        música, etc. 
        
        b) - Uma Escola que realizasse as actividades atrás 
        mencionadas. 
        
        Com a constituição desta Sociedade Cultural, estavam 
        reunidas as condições mínimas para se requerer ao Ministério da Educação 
        Nacional autorização para o respectivo acto de fundação e instalação de 
        um estabelecimento de ensino com a designação de Conservatório Regional 
        de Aveiro, o que acontece nas circunstâncias acima referidas. 
        
        Em 1969, prepara-se a transferência para as novas 
        instalações que, não obstante a fase ainda de 
        organização do espaço, permitem a leccionação(12). 
        Este edifício, de harmoniosas instalações adequadas ao ensino artístico, 
        irão ser cedidas à Associação do Conservatório Regional de Aveiro, em 
        regime de comodato, não havendo lugar a qualquer 
        pagamento pela utilização do espaço.(13) 
        
        A integração do Conservatório Regional de Aveiro Calouste 
        Gulbenkian na Universidade de Aveiro foi uma tentativa pensada no 
        sentido de dotar aquele estabelecimento de ensino superior dos 
        instrumentos e apoios técnicos necessários à formação 
        de professores na área musical, como é dito na 
        publicação referida. 
        
        (14) 
        
        Entre os cursos novos, a criar no âmbito das actividades 
        do Centro Integrado(15), 
        inclui-se o de Professores de Música para o ensino secundário. A área 
        musical é também uma das componentes de formação dos futuros professores 
        dos ensinos infantil e básico (...) 
        
        Pareceu à Universidade que esse tipo de actividades de 
        formação viria a responder às necessidades do país, tão carenciado em 
        Professores de Educação Musical a todos os níveis (escolas primárias, 
        preparatórias, 
        / 35 / 
        secundárias, academias musicais, escolas de música, conservatórios, 
        etc.) e em professores com adequada preparação psicopedagógica (...) Mas 
        pareceu igualmente à Universidade que, dada a falta de recursos técnicos 
        e humanos, e até a falta de experiência de ensino musical no âmbito das 
        universidades, não seria de iniciar, para já, a formação de professores 
        do ensino secundário na especialidade de Música, a não ser que, para o 
        efeito, fosse possível obter a colaboração sistemática do Conservatório 
        Regional de Aveiro Calouste Gulbenkian» (p. 2). 
        
        Uma nova etapa se inicia com a promulgação da Portaria 
        n.º 500/85, de 24 de Julho 
        (16), através da 
        qual o Governo cria, com efeitos a partir de 1 de Outubro desse mesmo 
        ano, o Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian, por 
        conversão do estabelecimento de ensino particular com a designação de 
        Conservatório Regional de Aveiro Calouste Gulbenkian. Aveiro passou a 
        contar com mais uma unidade de ensino oficial, neste 
        caso, na área da Música. 
        (17) 
        
        A referida Portaria afirma que "2.º O Conservatório de 
        Música de Aveiro é um estabelecimento de ensino vocacional da Música, 
        nos termos definidos no ano art.º do Decreto-Lei n.º 310/83, de 1 de 
        Julho". Na verdade, lançando o olhar na direcção do Decreto-Lei n.º 
        310/83, no seu artigo 8.º, pode confirmar-se a legitimidade e o suporte 
        jurídico-institucional do Conservatório de Aveiro: 
        
        1. O ensino vocacional da música e da dança será 
        ministrado em estabelecimentos de ensino genericamente designados, no 
        presente diploma, por escolas de música e escolas de dança. (...) 
        
        4. As escolas de música e as escolas de dança serão 
        criadas por portaria conjunta do Ministro de Estado e das Finanças e do 
        Plano e dos Ministros da Educação e da Reforma Administrativa e os 
        respectivos quadros serão estabelecidos nos termos dos artigos 6.º e 7.º 
        do Decreto-Lei n.º 519-E2/79, de 29 de Dezembro. 
        
        5. A organização, o funcionamento e gestão das escolas de 
        música e das escolas de dança regem-se pelos estatutos dos 
        estabelecimentos de ensino preparatório e secundário. 
        
        Entretanto, este belo e moderno edifício do Conservatório 
        foi doado pela Fundação Gulbenkian, sua proprietária, à Câmara Municipal 
        de Aveiro, acta que se formalizou no dia 8 de Outubro de 1985, vinte e 
        cinco anos após a inauguração do Conservatório 
        Regional de Aveiro. Com este acontecimento, "uma nova época principiou, 
        pois, na história desta escola aveirense"
        
        (18) 
        
          
        
        BIBLIOGRAFIA 
        
        1. Barros, João de – (1916), Educação Republicana, 
        Liv. Aillaud & Bertrand, Paris/Lisboa.  
        
        2.D'Allanes,Olivier R. – (1993), Não vejo como é que 
        uma Educação pode ser Nacional, in Kichikian, A., "Os Filósofos e a 
        Educação", Ed. Colibri, Lisboa. 
        
        3. Dias. J. A. B. Fernandes – (1992), Algumas 
        considerações antropológicas sobre o ensino artístico, in "Ensino 
        Artístico", Ed. ASA, Porto 
        
        4. Fischer, Ernst – (1983), A Necessidade da Arte, 
        Zahar Ed., Rio de Janeiro. 
        
        5. GETAP/ME, (1991), Educação Artística Especializada 
        preparar as mudanças qualitativas, GETAP/ME, Porto. 
         
        
        6. Misrahi, Robert – (1993), Educar para a alegria, 
        não para o trabalho, in A Kechikian, "Os Filósofos e a Educação", 
        Ed. Colibri, Lisboa, 11-17. 
        
        7. Oliveira, Orlando – (1985), Conservatório Regional de 
        Aveiro-Calouste Gulbenkian. Bodas de Prata, in “Boletim Municipal de 
        Aveiro”, ano III, n.º 5, pp. 61-66. 
        
        8. Perdigão., Madalena – (1981), Educação Artística, in / 
        36 / Manuela Silva & M. Isabel Tamen, "Sistema de Ensino em Portugal", 
        FCG, Lisboa, 285-305. 
        
        9. Rodrigues, AD. – (1991) Arte e experiência, in 
        “Revista de Comunicação e Linguagens”, 12/13, Ed. Cosmos, Lisboa, pp. 
        25-33. 
        
        10. Swanwick, K. – (1991), Música, pensamiento y 
        educación, Ed. Morata, Madrid. 
        
         ________________________________ 
        
        NOTAS:
         
        
        (1) 
        – António Nóvoa, Os professores e as reformas do ensino na Viragem do 
        século (1886-1906), Edições ASA, 1993:20, citando o Decreto de 24 de 
        Outubro 1901, que reforma o Conservatório Real de Lisboa, mais tarde 
        Conservatório Nacional. 
        
        (2) 
        – Preâmbulo de projecto de Decreto-Lei definidor das bases e do quadro 
        legal em que há-de desenvolver-se a educação artística, enviado ao 
        Conservatório de Música de Aveiro pelo Ministério da Educação em 22 de 
        Junho de 1989, oficio 2118. 
        
        (3) 
        – Decreto-Lei n.º 344/90, de 2 de Novembro, Preâmbulo introdutório. 
        Diga-se, de passagem, que, não obstante a "urgência" pressuposta, se 
        aguarda, ainda, a normatização (e a normalização) do ensino e dos 
        Conservatórios de Música. 
        
        (4) 
        – Hoje, Escola Secundária José Estêvão. 
        
        No Diário do Governo de 14 de Dezembro de 1960, III 
        Série, n.º 289, p. 4368, procede-se à promulgação de concessão do 
        Alvará: «Por despacho ministerial de 28 de Outubro findo: Concedido à 
        Associação do Conservatório Regional de Aveiro alvará para o 
        funcionamento de um estabelecimento de ensino particular de cursos de 
        Música; Línguas Vivas, Filosofia, História e Geografia, denominado 
        Conservatório Regional de Aveiro, sito no edifício do Liceu Nacional de 
        Aveiro, fixando-lhe a lotação total em 150 alunos externos, de ambos os 
        sexos, em coeducação, em regime de planos e programas oficiais e 
        próprios, sob a direcção de Gilberta Custódia da Costa Gouveia Xavier de 
        Paiva». O alvará tem o n.º 1613 e a data de hoje. 
        
        Inspecção do Ensino Particular, 15 de Novembro de 1960. O 
        Inspector Superior, Artur de Almeida Carneiro». 
        
        No alvará se regista o seguinte em "Abervamentos": 
        «Registado no Conservatório Nacional, em 30 de Novembro de 1960». 
        
        (5) 
        – Veja-se Separata da Revista LABOR, n.º 197, 1960. 
        
        (6) 
        – Os seus Estatutos, submetidos à aprovação ministerial, acabariam por 
        consagrar a designação oficial de Conservatório Regional de Aveiro, por 
        duas razões fundamentais: 1.º Conservatório em vez de Academia, por se 
        propor ensinar os cursos superiores; 2.º Suprimir a palavra ‘Música’ da 
        sua designação por se propor ensinar ballet e, possivelmente, teatro. (in 
        CORREIO DO VOUGA de 1/10/1960, última página). 
        
        (7) 
        – Conforme refere Oliveira (1985:65), o Presidente da Fundação Calouste 
        Gulbenkian, em visita ao Conservatório de Aveiro, dando-se conta da 
        exiguidade das instalações, deixou no ar tal intenção, ao afirmar: «a 
        Fundação prefere construir de novo um edifício apropriado onde se 
        ministrará também a iniciação e cultura das Artes Plásticas. E, como 
        estamos perto do Natal, vamos ver se o Menino Jesus dá uma prenda a 
        estes meninos todos.» Ver também Jornal “Correio do Vouga” de 2/4/1971, 
        p.1. 
        
        (8) 
        – Relatório do Conselho Administrativo do Conservatório Regional de 
        Aveiro, ano lectivo de 1970-1971, p. 3. 
        
        (9) 
        – No alvará pode ler-se em Abervamentos que «Por despacho ministerial de 
        13 de Agosto de 1970, foi este estabelecimento autorizado a transferir 
        as suas instalações para um prédio sito na rua do Cabouco, futura 
        Avenida Gulbenkian, e a ministrar o ensino primário elementar a alunos 
        de ambos os sexos, em regime de duas secções, fixando-se a lotação total 
        em 500 (quinhentos) alunos externos (…). Inspecção do Ensino Particular, 
        em 30 de Setembro de 1970. O Inspector Superior». 
        
        A impressão geral deixada pelas instalações, 
        intencionalmente projectadas para o ensino artístico, é-nos dita pela 
        Imprensa Local da época: «Está localizado numa zona tranquila, junto ao 
        parque da cidade, próximo do centro, e prevê-se a expansão das 
        instalações em complemento do programa, agora realizado, quando a 
        frequência de alunos e as necessidades culturais da cidade o impuserem e 
        para cuja efectivação a Fundação Gulbenkian já adquiriu o terreno 
        necessário. 
        
        A área está longe de atingir valores supérfluos. Pareceu, 
        pois, importante encontrar espaços livres integrados num conjunto em 
        expansões fluidas do espaço fechado. Utilizou-se com intenção o pátio – 
        na procura obstinada da intimidade e abrigo. Simultaneamente, tentou-se 
        encontrar o ambiente correspondente às solicitações do espírito 
        infantil: imaginação, drama, jogo, reserva e silêncio. A intenção 
        permanente de criar um clima de abrigo sentido, de conforto físico e 
        emocional nos espaços interiores e nos pátios estendeu-se até ao acesso 
        principal, / 37 / que se quis atractivo, numa sugestão de ampla 
        abertura, franca e ao mesmo tempo íntima e protectora.» (in Jornal 
        “Correio do Vouga” de 2/4/1971, última página). 
        
        (10) 
        – In jornal de 3/4/1971. 
        
        (11) 
        – In Jornal LITORAL de 3/4/1971, p, 3. 
        
        (12) 
        – Nestes termos, aliás, se pronuncia uma nota de 17/11/1969 destinada a 
        ser publicada nos jornais locais da época: «Embora não se tenha feito 
        ainda a inauguração oficial do novo edifício deste estabelecimento de 
        ensino, por estar a proceder-se ao necessário estudo e aquisição do 
        equipamento previsto, o certo é que, utilizando os poucos recursos já 
        existentes em mobiliário e apetrechamento escolar, as aulas estão a 
        funcionar com toda a regularidade desde o princípio de Outubro.» E em 
        requerimento enviado ao Ministro da Educação Nacional em 29 de Julho de 
        1969 dizia a Comissão Administrativa do Conservatório através do seu 
        Presidente, Dr. Orlando de Oliveira: «Esse edifício está praticamente 
        concluído, pelo que se espera que o Conservatório se instale nele 
        durante as férias grandes, prestes a começar, para lá iniciar as suas 
        actividades escolares em Outubro do ano corrente.» 
        
        (13) 
        – Em dossier organizado e preparatório da "Integração do Conservatório 
        Regional de Aveiro na Universidade de Aveiro", divulgado em 1983, pode 
        ler-se em "O Conservatório Regional de Aveiro Calouste Gulbenkian. 
        Situação actual":«Ao todo, cerca de 30 salas de aulas, auditório, 
        refeitório, recinto de exposições e convívio e logradoiros diversos, 
        tudo integrado num conjunto arquitectónico extremamente harmonioso, que 
        constitui só por si um admirável instrumento educativo a despertar nos 
        jovens auspiciosos sentimentos de beleza, comodidade e conforto, semente 
        de uma cultura o mais próxima possível da integral e promissora de um 
        desabrochar das várias facetas da personalidade de cada um (…) A 
        Fundação Gulbenkian (...) tendo entregado, a título experimental, à 
        associação 'Conservatório Regional de Aveiro' em regime de comodato, o 
        novo edifício e os novos equipamentos. Durante o regime experimental – 
        cedência a título de comodato a associação nada teria de pagar à 
        Fundação pelo uso e fruição que fizesse do imóvel e coisas móveis» (pp. 
        1-2). 
        
        (14) 
        – Integração do Conservatório Regional de Aveiro na Universidade de 
        Aveiro, Memorando enviado pelo Reitor da Universidade de Aveiro ao 
        Secretário de Estado do Ensino Superior, em 7/4/1982, p. 2. 
        
        (15) 
        – CIFOP da Universidade de Aveiro. 
        
        (16) 
        – Esta Portaria havia sido preparada por um grupo de trabalho criado, 
        para o efeito, pelo Despacho n.º 50/ME/ 1984. 
        
        (17) 
        – Portaria n.º 500/85, de 24 de Julho: «Desde 1960 que a cidade e a 
        região de Aveiro vêm beneficiando da importante obra pedagógica, 
        artística e cultural que o seu Conservatório Regional conseguiu 
        desenvolver, mau grado as inúmeras dificuldades com que se tem debatido 
        e que, se se mantivessem, poderiam vir a comprometer seriamente a 
        continuidade da sua acção. 
        
        Tomando-se, pois, necessário salvaguardar e incrementar a 
        prossecução das actividades do ensino da Música em Aveiro; tendo em 
        conta o interesse e o espírito de colaboração demonstrados pela Câmara 
        Municipal desta cidade, consideradas as vantagens de alargar a rede 
        escolar do ensino artístico, dotando a populosa região de Aveiro com um 
        estabelecimento público do ensino da Música: 
        
        Ao abrigo do disposto no n.º 4 do ano art.º 8º do 
        Decreto-Lei n.º 310/83, de 1 de Julho. 
        
        Manda o Governo da República Portuguesa, pelos Ministros 
        das Finanças e do Plano e da Educação e pelo Secretário de Estado da 
        Administração Pública, o seguinte: 
        
        1.º É criado, com efeitos a partir de 1 de Outubro de 
        1985, o Conservatório de Música de Aveiro de Calouste Gulbenkian, por 
        conversão do estabelecimento de ensino particular com a designação de 
        Conservatório Regional de Aveiro de Calouste Gulbenkian». 
        
        (18) 
        – ln Boletim Municipal de Aveiro, ano IlI, n.º 6,1985: 31-32.   |