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Nestes dias de solidão
estival
Revisito a juventude de algum dia
E sinto uma primavera tão ridente
Como as memórias intermitentes
Nebulosas, fugidias e marcadas
Pelos olhares de lince, de falcão
Manhas de raposa, traições ferinas
Cantos de piscos ou de rouxinóis,
E a teimosia em admitir a verdade
A pairar em miragens e alucinações
Sendo trocada pela eterna dúvida
O pêndulo da inconstância emotiva
Que apenas se quieta na certeza
De inscrever na epopeia da vida
Em estrofes do sangue sofrido
E a exaltação das armas depostas
O poema da saudosa esperança
Perdida no limbo das promessas;
E, presa no abraço da paz perpétua
A juventude de ontem, justa e perfeita
Em pé e à ordem da sua natureza
Vai entrando em dormência cósmica
Na célica e obscura dimensão.
Setembro de 2023 |