I
Revisitei o campo e as
suas gentes
Tudo encontrei diferente mas igual
Bem à dimensão da minha ausência
Restaurada no coaxar das rãs
No nostálgico balido dos cordeiros
No trinado alegre dos pássaros
Ou tão só a singular originalidade
Adormecida no labirinto da mudança.
I I
Olhei em derredor
curioso e sereno
Lembrando um tempo já bem longe
Que então sentia correr em mansidão
E numa paz como as águas do riacho,
Mas agora sinto-o a fugir desalmado
Como foguete sulcando o espaço
Esta nave doida que nos leva a bordo
Percorrendo o caminho já traçado
Por entre escolhos, declives e barrancos
Até à última curva da finitude.
I I I
Não adianta contrariar a
natureza
Esta matéria perecível que somos
Como desígnio da nossa impermanência,
Mas importa aproveitar o combustível
A energia anímica que ainda nos resta
E que ouvimos a roncar no motor do ser,
Esta máquina confusa mas pensante
Na busca da verdade
Aquela verdade que nos persegue
Esta energia escura
Que sustenta a vida.
Abril de 2023 |