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            Numa paisagem forte e excecional,A onde cabe bem toda a beleza
 Desta terra a que chamam Portugal
 E eu chamo o coração da Natureza;
 
 Nos primeiros arrancos em que a terra
 Fugindo do mar, que é pesadelo de aguas,
 Torna, de novo a si, e se faz Serra,
 E se revolta em pinheirais e fráguas;
 
 E no alto dum sêrro, ao luar fronteiro,
 Ante a montanha seria, foi erguida
 A mais linda capela que um romeiro
 Pôde ver, na romagem desta vida:
 
 Póde ver a encimar o airoso monte
 Que do mar para a serra se encaminha,
 Como deusa pagã que fosse á fonte
 E levasse á cabeça a cantarinha…
 
 Senhora do Socorro: á tua roda
 Que verde devoção de pinheirais!
 Os pinheirais que resam, sabem toda
 A fé das grandes coisas imortais;
 
 As verdes legiões que tu dominas
 De toda a altura, e que parecem,
 Não arvores agrestes, pequeninas
 Roseiras que ajoelham, e florecem...
 
              
            
            
 
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            A um lado, ao sol, o mar, tão duro e 
            ardente(A nevoa é o fumo duma onda a arder);
 E o mar, que toca o ceu, parece á gente
 Que se ergue mais em si, para te ver.
 
 Doutro lado, a montanha imensa e augusta,
 A fortaleza altissima de Deus
 Nessa guerra de amor que á terra custa,
 Verde sangue que sóbe e brada aos ceus.
 
 E em toda a imensidade azul e branca
 A nevoa e a sol que dão tambem batalha:
 E são gritos de luz que o sol arranca,
 E desmaios da nevoa que se espalha…
 
 Olhae! olhae: O ceu, a serra, o mar….
 Aqui não ha doenças nem fraquezas:
 Todo o remedio está somente em olhar
 Neste Hospital das almas Portuguezas.
 
            
            Corrêa d'Oliveira. 
              
              
             
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