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            Concelho de terceira classe, situado a 
            nordeste da cabeça de distrito e distando desta 45 quilometros. 
            Pertence á comarca de Oliveira de Azemeis, ficando a sede do 
            concelho á distancia de 15 quilometros e o ponto mais afastado é de 
            50. 
            Municipio antigo, tendo o primeiro foral 
            dado por D. Manuel I. Foi extinto por João Franco, em Novembro de 
            1895, sendo restaurado novamente em 1898. 
            Judicialmente, foi um julgado ordinario 
            até á extinção desta magistratura; mais tarde e após a creação dos 
            julgados municipais, constituiu um julgado, que foi extinto 
            conjuntamente com o concelho. 
            E' composto de nove freguezias: 
            Macieira, Costelões, Vila Chã, Coval, Vila Cova do Perrinho, Rôge, 
            Cepelos, Junqueira e Arões. 
            O concelho é no geral montanhoso, tendo 
            porém um vale extenso, o chamado Vale de Cambra, rico, com belas 
            paisagens e duma vegetação abundante e fertil. 
            O logar dos Boralhos, a primeira 
            povoação ao entrar no concelho, presta-se admiravelmente para 
            contemplar esse extenso vale, desde o lindo logar da Coelhosa ate ás 
            encostas agrestes da Ceada e do Arestal e aos ultimos contrafortes 
            da Freita no Galinheiro. O rio Caima atravessa-o preguiçoso para 
            fugir pelos penedios do Crásto e Ossèla. Por todas as encostas se 
            vêem alegres povoações. salpicadas de casas brancas e, alcandoradas 
            lá em cima por entre altares de verdura e vinhêdos, as povoações de 
            Gestôso, Corião, Merlães, etc.
 
 
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            A’ esquerda deslisa o rio Vigues, 
            atravessando a freguezia de Vila Chã e Macieira, e vindo juntar-se 
            ao Caima perto de Entre-Pontes. 
            Se com este esta parte do concelho a 
            natureza foi generosa até á prodigalidade, o contrario acontece com 
            as freguezias de Junqueira e Arões, formando a maior area do 
            concelho numa região montanhosa e pobre, em que os seus habitantes 
            vivem ainda, e na maior parte, da industria pastoril. 
            A parte baixa do concelho é fértil. 
            Produz em grande escala vinho verde de boa qualidade e muito 
            procurado para exportação, milho suficiente, em regra, para o 
            consumo, fructos, etc. A sua principal riqueza, porém, está nas 
            pastagens em que se sustenta enorme quantidade de vacas da raça 
            arouqueza, que dão ao concelho o principal rendimento. 
            A industria de laticinios tem ali grande 
            desenvolvimento, podendo considerar-se a primeira do paiz, no genero. 
            Déla auferem os habitantes do concelho anualmente, alguns centos de 
            contos de reis. 
            Os primeiros maquinismos aperfeiçoados 
            para a extração da nata e fabrico da manteiga foram ali 
            introduzidos, quasi ha uns 20 anos, pelo Visconde de Nandufe. Hoje 
            ha fabricas importantes, sobresaindo as de Pinho, Soares Leite & C.ª 
            Martins & Rebêlo, Ferreira Nadais, Abel Pinheiro, etc. 
            As duas primeiras têm deposito em 
            Lisboa, respetivamente na rua de S. Domingos e Largo de Camões, 
            tendo o deposito da segunda firma anexo o fabrico de manteiga á 
            vista do freguêz. As fabricas do concelho têm quasi todas sucursais 
            em Arouca. Industrialmente o concelho pouco mais oferece, sendo de 
            notar apenas uma frabrica de papel de Francisco Pais & C.ª na margem 
            direita do Caima, em Santa Cruz. 
            Estão desprezadas boas quedas de agua no 
            rio Caima que facilmente poderiam ser aproveitadas como produtoras 
            de energia. 
            
             
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            O acésso mais facil é pela linha do Vale 
            do Vouga, deixando-a em Oliveira de Azemeis. 
            Daqui ha carreiras diarias de 
            diligencias e automovel, ao preço, respetivamente, de 210 e 300 
            réis, seguindo a estrada de Oliveira a Arouca. 
            Esta é a unica via de comunicação que 
            tem o concelho. 
            Ha outras estradas principiadas, 
            dirigindo-se uma a S. Pedro do Sul e outra a Sever do Vouga. 
            Aquela ligaria o concelho com Vizeu e 
            Porto. 
            Ambas, porém, estão muito longe dos 
            pontos extremos do traçado, oferecendo todavia, na parte já 
            construida, bélas vistas. 
            Não ha institutos de caridade e 
            beneficencia. O falecido Albino Silva legou todos os seus haveres 
            para a fundação de um hospital no logar de Burgães, mas tudo pende, 
            em uso-fruto, na viuva do testador. 
            Em melhoramentos publicos tem sido quasi 
            nula a proteção do Estado, tendo havido por parte de particulares 
            boas iniciativas. 
            Assim é que foi reconstruida a ponte de 
            Vigues por Abilio Pina: alargamente do adro e cimiterio de Costelões 
            por Joaquim Tavares Bastos; donativo de dois contos de reis por José 
            Martins, para a construção de escolas, tipo Adães Bermudes, em 
            Costelões, e ainda agora a construção, em Macieira dum edificio para 
            escolas pelo comendador Luiz Tavares de Almeida, em que gastou, 
            incluindo mobílias, 14 contos de reis. 
            Não ha tambem edifícios publicos dignos 
            de referencia nem monumentos de arte, a não ser o cruzeiro no adro 
            da freguezia de Rôje e o pelourinho na praça da vila. 
            Em conclusão: o concelho de Macieira de 
            Cambra pela sua situação e paisagens é cheio de belezas e encantos. 
              
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