Campos da Normandia
(Fresneuse sur Risle,
1999)
Eu
posso lá morrer, terra florida!
Afonso Duarte, Ritual
do Amor
Olho esses
campos o oiro antigo
que lá muito ao longe toca o céu
e lhe dá sentido
a música que
perpetua
um travo de silêncio sobre a alma
as ovelhas
polvilhando a planície
um rio enroscado
nos meandros abertos de Les Andelis
Não posso
esquecer
as árvores por onde as searas
se prolongavam
nem a luz dividida por tanta terra
nem as veredas ao longo das casas;
havia ainda o
cheiro dos estábulos
(odor de vacas e cavalos
bichos que a paisagem consentia);
só as
pessoas quase se não viam
não fossem os trilhos das máquinas agrícolas
definindo gráficos e códigos
por entre pastos estrelas vivas de cereal
Talvez seja
fácil morrer ali.
Inédito, 2003 |
As Andorinhas
Vi-as
levantar
e partirem em direcção
ao Sul
molhadas
apenas
por uma luz muito alta e límpida
essa água quase rasante
do amanhecer
Voltarão
com a Primavera
com o pranto
das últimas chuvas
o cheiro das primeiras flores
quando
o ar
se esclarece e é uma cortina aberta
transparente e lavada
quando
já nada resta
senão a memória breve
da sua partida
porque
só elas partem
e só elas regressam
só
elas escrevem o tempo
que sem cessar
se escoa
irremediavelmente
Inédito, 1996
Luís
Serrano |