Das Árvores
Aqui
as árvores percutiam
as arestas luminosas
do silêncio
auscultavam
a face visível da terra
eram um
jogo
de água
entre a planície
e o céu
e as aves
nidificavam sem
sombra
nem temor
aqui
onde não mais
se erguem
como um
grito
aprumado
entre a
safra
ardorosa
do estio
e a
lembrança
austera
do magoado
inverno
aqui
neste lugar
desamparado
onde ninguém habita
onde nada
permanece
Entre Sono e Abandono,
1990 |
Nem Platero nem Gorrión
“-Tien’asero...
Tienen acero. Acero y
plata de luna, al mismo tiempo”.
J. R. Jimenez, Platero y yo
“El burro
Gorrión va unos pasos delante,
suelto, moviendo las orejas a compás”
Camilo J. Cela, Viaje
a la Alcarria
Recordo
como era manso
esse bicho austero
magoado
prolongamento
da terra dolorida
habitante
efémero
duma casa perdida
na distância
do tempo
Recordo o
curral
a palha apodrecida
pela urina
as sombras
trepando ávidas
pelas paredes
e a velha
carroça
abrindo sulcos
num chão de areia
e caruma
Recordo-o
porque a sua imagem
perdura ainda
sob a espessura
das águas
como
um arquivo de
giestas
tranquilo
e luminoso
Entre Sono e Abandono, 1990
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