BOLETIM   CULTURAL   E   RECREATIVO   DO   S.E.U.C.  -   J.  ESTÊVÃO


Elogio da Poesia

Luís Serrano

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                     Das Árvores

Aqui
as árvores percutiam
as arestas luminosas
do silêncio

auscultavam
a face visível da terra

eram um jogo
de água
entre a planície
e o céu

e as aves
nidificavam sem
sombra
nem temor

aqui
onde não mais
se erguem

como um grito
aprumado

entre a safra
ardorosa
do estio

e a lembrança
austera
do magoado
inverno

aqui
neste lugar
desamparado
onde ninguém habita

onde nada
permanece

                  Entre Sono e Abandono, 1990

              Nem Platero nem Gorrión

“-Tien’asero... Tienen acero. Acero y
plata de luna, al mismo tiempo”.

J. R. Jimenez, Platero y yo

 

“El burro Gorrión va unos pasos delante,
suelto, moviendo las orejas a compás”
Camilo J. Cela, Viaje a la Alcarria

Recordo
como era manso
esse bicho austero

magoado prolongamento
da terra dolorida

habitante efémero
duma casa perdida
na distância
do tempo

Recordo o curral
a palha apodrecida
pela urina

as sombras
trepando ávidas
pelas paredes

e a velha carroça
abrindo sulcos
num chão de areia
e caruma

Recordo-o
porque a sua imagem
perdura ainda
sob a espessura
das águas

como
um arquivo de
giestas
tranquilo
e luminoso

                Entre Sono e Abandono, 1990 

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