(Dunas
do Parque Natural de Corrubedo - 27/Agosto/2004)
Está bonito o dia,
no esplendor da sua imaculada beleza.
Caminhamos os dois
na claridade, cruzando-nos aqui e ali com outros peões de veraneio.
Dir-se-ia que
partimos para o sul, em galopada, rumo à foz de um grande rio.
Angolano, talvez. Talvez, o Cunene, no extremo sudoeste, junto à larga
baía pronta para o acolher – na
paisagem tão luminosa que embaça os olhos, o grande rio, que não
desagua mesmo no mar, mas antes se afunda nas areias, como se
preferisse morrer no colo do deserto em vez de se perder no fundo do
oceano, à beira das dunas alaranjadas da Namíbia ponteadas por
welwitchias.
Caminhamos quase em
êxtase. Lá longe, de um lado, as cores da terra serena e vegetal; do
outro, as cores líquidas e límpidas do mar. Dormem tranquilos, terra e
mar, à espera do dia seguinte. E as dunas encaixadas no meio,
movendo-se no seu branco amarelado de areias do deserto, entre o verde
escuro da serra e o verde-esmeralda do mar. Com muito azul e muita luz
que parecem chover-lhes em cima.
Caminhamos por uma
extensa língua silenciosa e larga de madeira escura, ouvindo e
sentindo o vento sibilante que beija as areias dançantes das dunas.
Não vemos hipopótamos, nem jacarés, nem qualquer outro bicho do mato;
só pássaros; muitas aves.
Caminhamos acima e
abaixo, até à praia, em busca de ar fresco. Oásis? Ao fundo da grande
subida, um clarão inicialmente ténue; depois, a larga extensão de
areias cambiando tonalidades no meio do deserto, de repente debruado
de nada… Ilusão, apenas… Após a descida, lá está o mar em apaziguada
baía acariciada pela brisa do norte… Enfim, haveria de surgir – quem
sabe? –
a silhueta de um barco encalhado na praia. Miragem…
E não faz cacimbo
neste Agosto sem os poentes avermelhados de todo o ano…
Quando voltarmos, hão-de as dunas reverdecer e as flores do deserto
florir só para nós.
|