Acabo de efectuar uma análise de todos os verbetes preenchidos. Quando cheguei ao momento de indicar o total de elementos que constituem o Grupo Especial 201, fiquei sem resposta. Não é possível falar do que quer que seja sem termos os elementos na nossa mente. O grande motor da esferográfica está na massa cinzenta. E para que esta forneça os dados, é preciso introduzir-lhe previamente a informação. O ficheiro que organizei, apesar de haver quatro verbetes que me desapareceram e que terei, possivelmente, deixado cair ou esquecido em algum lugar, poderá fornecer-me uma visão de conjunto, depois de distribuir todos os registos num quadro. Foi precisamente o que acabei de fazer, recorrendo a folhas de papel quadriculado, operação que me levou uma boa porção de tempo. Mas possuo agora dois quadros com uma estrutura parecida bastante minuciosos: um para o meu pessoal; o outro para o grupo GE.
No quadro com os elementos nativos, registei o ano da incorporação, o nome, as idades, os vencimentos, o estado civil, o número de mulheres e de filhos por GE, as habilitações literárias e a profissão. Para os soldados que me acompanham, indiquei também os nomes completos e as idades, mas, a partir daqui, há alterações significativas. Em primeiro lugar, vêm a naturalidade e a cor; em seguida, as habilitações e o estado civil; finalmente, as especialidades militar e civil.
Embora a minha formação intelectual esteja toda ela voltada para as humanidades, creio que isto que acabo de fazer se relaciona com uma disciplina de que tenho uma vaga ideia e que se chama estatística. Ainda que a metodologia adoptada não deva ser a mais correcta, os quadros elaborados permitem-me uma análise muito mais rigorosa dos elementos recolhidos nos verbetes.
Passemos, pois, à análise dos elementos mais significativos e interessantes relativos ao Grupo Especial 201. O total de elementos é de quarenta e um, oscilando as idades entre os vinte e os quarenta e dois anos, situando-se a maior frequência relativa em vinte e três anos, com oito elementos, seguida dos vinte e dois e vinte e seis, cada um com seis elementos. Todos são casados. Treze têm duas mulheres e há mesmo nove com três mulheres. Deste modo, não é de admirar que o número de filhos seja elevado. Apenas nove ainda não possuem nenhum filho, havendo elementos que têm três, quatro e cinco, apesar de a maior frequência se situar nos dois. A grande maioria não possui qualquer tipo de estudos e o máximo de habilitações não vai além da terceira classe. Mensalmente tenho de lhes pagar os vencimentos, que oscilam entre quatro centos e cinquenta e mil e trezentos escudos. Por mais análises que faça ao quadro, não consigo perceber a razão de valores tão variáveis entre eles. Que o chefe Simão ganhe o máximo, até compreendo. É de todos o mais evoluído, quer em conhecimentos e esperteza, quer até na própria profissão, que exige uma certa mestria, pois não é qualquer um que pode ser alfaiate. A quase totalidade ganha seiscentos e cinquenta escudos mensais. Mas há casos que fogem a este valor; e não consigo encontrar qualquer relação entre os dados registados e os valores pecuniários atribuídos. Como profissões, tenho trinta e cinco agricultores, um cozinheiro e três trabalhadores, donde se conclui, pela lógica deles, que só três é que trabalham e os outros não fazem nada.
Vou interromper a análise. Estou já a ouvir as palavras do pai quando leu o parágrafo anterior: «— Mas que raio de interesse é que isto tem para nós? Sempre nos prega cada injecção, este nosso filho!»
Tenha calma! Não se aborreça! Isto também é importante. Se queremos conhecer a realidade envolvente, temos que nos debruçar, de vez em quando, sobre análises deste género. Não será um dado interessante saber que, entre os nativos, o costume local é possuir duas ou três mulheres em vez de uma só, como sucede entre a nossa cultura? E até sei de casos em que possuem mais do que três, cada uma na sua cubata, que o homem terá de visitar assiduamente. Lá mais para diante, voltarei a abordar este
problema do casamento em Angola, quando tiver mais dados concretos sobre o assunto. Das conversas que tive, quando efectuava o preenchimento dos verbetes, perguntei a um dos homens como é que ele conseguia acudir a todas as mulheres, especialmente quando chegar a velho. Disse-me que na mata há raízes para lhe darem força. E com essa resposta, calou-me e espicaçou-me a curiosidade. Mas como a altura não era a mais propícia, tive de deixar o diálogo adiado para melhor ocasião. Quem sabe se, com boa estratégia, não virei a descobrir que substâncias afrodisíacas eles utilizam? |