Literatura nos tempos livres |
A propósito, sabem como tenho ocupado alguns dos momentos livres, quando não há trabalhos e não me apetece agarrar na caneta? Geralmente, parte dos últimos dias, tenho ocupado o tempo a acompanhar o trabalho de reforço da vedação. Nesta altura, segundo os meus cálculos, já gastámos cerca de três quilómetros de arame farpado. Na mata, a cortar árvores para as estacas, estão já gastas muitíssimas horas. Durante a noite, tenho-me entretido a ler um livro de Máximo Gorki, intitulado A minha infância. É um livro interessante. Além de recordar momentos da infância, o narrador mostra aos narratários «o círculo estreito e sufocante do meio» em que viveu e no qual vivia «o simples habitante da Rússia». A acção decorre quase toda em casa do avô do protagonista, «sempre como que cheia de um pesado nevoeiro criado pelo ódio que cada um tinha aos outros», ódio que «envenenava os adultos e as próprias crianças compartilhavam». É um livro interessante, onde, além de Alexei, o protagonista (quem sabe se a própria imagem do autor em criança!), sobrenada a figura simpática da avó Akulina Ivanovna e também, embora menos, a do avô. É um livro que, por várias vezes, me fez viajar até à minha infância em Celorico da Beira, na casa dos avós. Quem sabe se, um dia mais tarde, não irei aproveitar as recordações felizes desses tempos de infância para escrever um livro como o que ando a ler, mas de maneira agradável e adequada às crianças de agora? Antes de me despedir e voltar ao livro de Máximo Gorki, renovo o meu pedido ao pai: não se esqueça de me comprar as revistas que lhe pedi. Aqui, enfiado neste buraco, onde me encontro completamente a leste de tudo quanto se passa de importante no mundo, as revistas serão a solução para me manter cientificamente actualizado. Termino por agora com um grande abraço para o pai e muitos beijos para a mãe.
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